/

“Primeiro-ministro” – um cargo que já variou em género

1

Roland Gerrits / Anefo / Lusa

Maria de Lourdes Pintassilgo, primeira-ministra de Portugal, entre agosto de 1979 e janeiro de 1980

Maria de Lourdes Pintassilgo foi a primeira e única mulher portuguesa a chegar a “primeiro-ministro” (ou primeira-ministra?). Aconteceu há 44 anos.

Existe a tendência de se assumir que primeiro-ministro se diz “primeiro-ministro”, porque o primeiro-ministro é sempre um primeiro-ministro.

Na realidade, o termo varia em género e “primeira-ministra” também existe… ou melhor… existiu, há 44 anos: Maria de Lourdes Pintassilgo foi a primeira e única história da democracia portuguesa.

Nascida em Abrantes (Santarém) a 18 de janeiro de 1930, Maria de Lourdes Pintassilgo ficou, desde muito cedo, conhecida pelo envolvimento em movimentos estudantis e na luta pelos direitos das mulheres.

Formou-se em engenharia químico-industrial, no Instituto Superior Técnico de Lisboa, em 1953, pertencendo ao leque muito restrito de mulheres na ciência, naquele tempo, em Portugal.

Depois de alguns anos a trabalhar no estrangeiro, Maria de Lourdes Pintassilgo foi convidada, em 1971, a representar Portugal na ONU – Organização das Nações Unidas.

A política ribatejana esteve ativamente envolvida na “revolução de 74”, tendo sido nomeada secretária de Estado da Segurança Social no I Governo Provisório, após o 25 de abri; e foi também foi ministra dos Assuntos Sociais nos II e III Governos Provisórios, entre julho de 1974 e março de 1975.

Pintassilgo foi, depois, embaixadora delegada de Portugal da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) de 1975 a 1979, até ter sido convidada por António Ramalho Eanes, àquela data Presidente da República, a liderar o 5.º Governo Constitucional “de gestão”.

Em 2015, numa entrevista ao Expresso o General Ramalho Eanes confessou que escolheu Maria de Lourdes Pintasilgo pela sua “personalidade, ética e carácter” e “por ser uma mulher de princípios, valores, culta, de boa formação académico-científica, com experiência política, com longa prática de ação na área internacional, e, além disso, ousada, determinada e corajosa“.

Nessa entrevista, Ramalho Eanes destacou que, mesmo tendo governado durante um período muito curto, a primeira-ministra teve um papel fundamental na promoção da “igualdade entre homens e mulheres no trabalho e emprego”.

Maria de Lourdes Pintassilgo liderou o Governo de Portugal durante apenas cerca de cinco meses, até janeiro do ano seguinte (1980).

A antiga primeira-ministra foi ainda deputada do Parlamento Europeu, entre 1987 e 1989, pela mão Partido Socialista (PS).

Mas, antes disso, sem qualquer apoio partidário, Maria de Lourdes Pintassilgo tornou-se também a primeira mulher a candidatar-se a Presidente da República, nas presidenciais 1986 – que Mário Soares acabou por vencer.

Maria de Lourdes Pintassilgo foi a primeira mulher portuguesa a exercer um cargo ministerial, após a “Revolução de Abril”, mas não foi a primeira a integrar um governo.

Essa proeza pertence a Maria Teresa Cárcomo Lobo que – ainda no Estado Novo, mas só depois da morte de Salazar, em 1970 – foi nomeada por Marcello Caetano como subsecretária de Estado de Saúde e de Assistência.

A única primeira-ministra portuguesa faleceu a 10 de julho de 2004, em Lisboa. Tinha 74 anos.

Esta sexta-feira, dia 8, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Sabe quantas mulheres já foram líderes de partidos em Portugal, desde o 25 de Abril?

Miguel Esteves, ZAP //

1 Comment

  1. A tal que, a margem da Democracia Portuguesa, Governou Portugal com Decretos Lei, e deste modo, amordacou toda a Oposicao na Assembleia da Republica, se chamam a isto ser uma mulher que lutou pela Democracia…

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.