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Presidente e primeiro-ministro “combinam harmoniosamente”, diz Santos Silva

Mario Cruz / Lusa

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva

O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que as personalidades do Presidente da República e do primeiro-ministro se “combinam harmoniosamente” e que o país ganharia se essa articulação continuasse “nos próximos tempos”.

“As personalidades do atual Presidente da República e do atual primeiro-ministro combinam-se harmoniosamente e a coordenação e respeito institucional correu otimamente bem. E acho que o país ganhou com isso e nos próximos tempos precisa que essa articulação harmoniosa entre a Presidência da República, o Parlamento e o Governo continue”, defendeu Augusto Santos Silva numa entrevista ao podcast do PS “Política com Palavra”.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros comentava as declarações proferidas pelo líder do Executivo numa visita à fábrica da Volkswagen-Autoeuropa, quando antecipou a recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa e a sua respetiva vitória, com o chefe de Estado a poucos metros de distância.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, na Autoeuropa, António Costa limitou-se a fazer “uma constatação muito simples e óbvia”.

Santos Silva aproveitou para refutar as críticas de dirigentes socialistas como Ana Gomes, Francisco Assis ou Manuel Alegre ao apoio de Costa à recandidatura de Marcelo sem discussão no congresso socialista, que deveria ocorrer este mês de maio, mas foi adiado sem data devido à pandemia de covid-19.

“Têm tanto direito a falar aqueles que apoiam uma eventual recandidatura do professor Marcelo Rebelo de Sousa como aqueles que a contestam e apoiam outras. Todos têm o direito a falar”, acentuou, voltando à carga logo a seguir: “Não pode ser quando uns falam contra um eventual apoio estão a ser democratas e a defender o PS, e quando falam os outros que dizem que o PS deve apoiar a recandidatura ou não apoiar ninguém alternativo, facilitando essa recandidatura, já estão a impedir o PS de debater.”

O PS, a seu tempo, apoiará um candidato ou decidirá não apoiar um candidato – já fez as duas coisas -, mas, fiel à tradição do PS, fá-lo-á depois de ser claro quais são as candidaturas”, rematou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Depois de lembrar que “as candidaturas a Presidente da República são cívicas e não partidárias”, o governante apontou “três critérios essenciais” que deverão ser observados antes de o PS decidir sobre o próximo “inquilino” do Palácio de Belém.

Em primeiro lugar, “fazer uma avaliação do que aconteceu até agora”, medir os prós e contras do mandato de Marcelo.

Em segundo, “como os segundos mandatos têm sempre uma dinâmica muito diferente do que o primeiro”, tentar antecipar qual será a ação do atual Presidente nos próximos cinco anos, ou seja, “qual a leitura que fazem do segundo mandato”.

O PS precisa assim de avaliar se há “expectativas sólidas” de que “articulação harmoniosa” que se verificou no primeiro mandato se pode prolongar no segundo, “com todo o respeito pela autonomia e responsabilidades de cada um”.

Em terceiro e último lugar, como vai haver vários candidatos à esquerda e à direita do espetro político, é necessário avaliar se a candidatura a apoiar pelos socialistas é “suficientemente forte e abrangente” para “travar as dinâmicas populistas que também vão acontecer” nas próximas presidenciais.

Na entrevista, afastou a possibilidade de políticas de austeridade para fazer face à crise gerada com a pandemia e criticou algumas das posições dos sociais-democratas, chegando a afirmar: “O que o Centeno do PSD (Joaquim Sarmento) diz e o que o dr. Rio diz são coisas diferentes.”

“É evidente que vivemos uma crise. Mas austeridade é uma coisa diferente. Austeridade é aquela célebre teoria da desvalorização interna”, disse ainda.

Proposta franco-alemã coloca fundo perto da bazuca

“Se esta proposta vencer estaremos perto” da bazuca, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, utilizando a expressão usada pelo primeiro-ministro, António Costa, que disse ser necessário saber se a União Europeia (UE) vai disponibilizar “uma fisga ou uma bazuca”, para saber “o poder de fogo” do plano de resposta à crise provocada pela pandemia.

Recordando que o objetivo é um montante global da ordem de um bilião, Santos Silva frisou que o plano franco-alemão, no valor de 500 mil milhões de euros, se junta, se for aprovado, ao pacote de 540 mil milhões de euros do Eurogrupo, ultrapassando o bilião de euros (um milhão de milhões).

Santos Silva frisou que a decisão ainda não está tomada, porque o plano tem de ser aprovado por consenso no Conselho Europeu, mas admite que ter a Alemanha do lado dos que defendem “uma resposta europeia que não deixe cada país sozinho”, “faz a diferença” e acrescenta “capacidade de persuasão no Conselho Europeu para chegar à unanimidade”.

“O facto de a Alemanha ter endossado esta proposta é muito importante, não para Portugal, Itália, Espanha ou França, é muito importante para o conjunto da União Europeia”, disse.

As reservas dos chamados países “frugais” – Áustria, Holanda, Dinamarca e Suécia – a um plano de recuperação assente em subsídios ou financiado pela emissão comum de dívida, como prevê o plano franco-alemão, devem-se, segundo o ministro, a “miopia económica”, ou “a incapacidade de olhar a uma certa distância“.

Santos Silva defendeu a necessidade de “olhar com cuidado” para as previsões económicas da Comissão Europeia, que anteveem “uma pancada brutal” na economia europeia em 2020, mas também uma “recuperação económica imediata” nos dois anos seguintes.

“Se reparar, [as previsões] são mais ou menos equivalentes para todos os Estados-membros. A Suécia, a Holanda, a Alemanha, têm previsões de queda do produto iguais ou superiores às de Portugal e, portanto, esta é uma crise que nos toca a todos.”.

Noutro passo, e questionado sobre o impacto da pandemia na presidência portuguesa da UE, no primeiro semestre de 2021, o ministro afirmou que a questão se coloca sobretudo do ponto de vista logístico.

“Estamos neste momento a trabalhar com um plano A, um plano B um plano C“, disse.

O plano A, dependente de não haver uma segunda vaga e as condições de mobilidade estarem adquiridas, passa por reuniões informais “distribuídas pelo território português, uma cimeira informal dos líderes no Porto e a sede da presidência aqui no Centro Cultural de Belém”.

O plano B, numa situação de mobilidade um pouco mais reduzida, implica a redução do número das reuniões presenciais e o recurso a reuniões, por exemplo, por videoconferência, e o C, o pior dos cenários, com uma mobilidade suspensa, em que “o essencial da logística” assentará na dimensão digital.

“Mas, qualquer que seja o plano que do ponto de vista logístico venha a efetivar-se, do ponto de vista político a presidência portuguesa vai ser, como as anteriores, abrangente, bem sucedida e um contributo positivo para a integração europeia”, disse.

ZAP // Lusa

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