Marcelo não vê razões para cardeais terem “querido ocultar” crimes da justiça

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Rodrigo Antunes / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou nesta quinta-feira que, pessoalmente, não vê razões para que José Policarpo ou Manuel Clemente tenham “querido ocultar da justiça” crimes, escusando-se a fazer “juízos específicos” sobre a alegada ocultação de uma denúncia de abusos sexuais.

O Observador noticiou na quarta-feira que o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, teve conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado e encontrou-se pessoalmente com a vítima, mas optou por não comunicar o caso às autoridades e por manter o padre no ativo com funções de capelania.

“Aquilo que eu posso dizer – e nem é como Presidente da República, é como pessoa – é que o juízo que formulo sobre as pessoas e não os elementos da hierarquia católica, as pessoas D. José Policarpo e D. Manuel Clemente, é o de que não vejo em nenhum deles nenhuma razão para considerar que pudessem ter querido ocultar da justiça a prática de um crime”, disse Marcelo aos jornalistas.

O chefe de Estado referiu ainda, durante uma conferência de imprensa conjunta no âmbito da primeira visita de Estado a Portugal do Presidente de Cabo Verde, que foi suscitada a questão quanto a um caso que “teria envolvido duas figuras da Igreja portuguesa, dois cardeais patriarcas em momentos distintos”.

“O cardeal patriarca D. José Policarpo há 20 anos que teria considerado não existir situação que justificasse uma participação ao Ministério Público e portanto às autoridades judiciais e teria tomado uma iniciativa em termos hierárquicos internos quanto ao alegado envolvido nesse caso e depois, 20 anos volvidos, o atual cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que teria ponderado o facto de os crimes estarem prescritos e a alegadamente vontade da vítima de não querer publicitar ou não querer desencadear procedimento sobre essa matéria”, elencou.

Para lá da sua opinião pessoal, o Presidente da República afirmou que “há a comissão [independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja] e há órgãos competentes para apreciar ou reapreciar estas matérias”.

“E, se for caso disso, compete à comissão e a esses órgãos competentes, ponderarem as várias situações para não estar a entrar em juízos específicos que nem como pessoa nem como Presidente da República portuguesa devo fazer. Cabe-lhes a eles exercer os poderes”, remeteu.

Marcelo tinha começado por enfatizar o “consenso quase unânime” quanto “à condenação da violação não apenas da ética, da moral, mas do direito, porque se trata de atividades criminosas, como aquelas que justificaram a constituição” da referida comissão.

Lusa //

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4 Comments

  1. A “habilidade” como se “contorna” a situação… ou não! “Não” porque ele tem uma formação superior à minha… eu, humildemente, dou a minha opinião:

    Eu, pessoalmente, não visualizo rações para que os cardeais não cumpram o que foi determinado, pelo Vaticano, para que todas as suspeitas ou relatos sejam de imediato comunicadas, tenham ou não prescrito…

    Segundo as normas definidas pelo Papa Francisco que entraram em vigor em 2020, os bispos são obrigados a comunicar as suspeitas de abusos que lhes chegam, mesmo que a lei do seu país não o exija e que os casos possam já ter prescrito.

    Marcelo Rebelo de Sousa no “seu melhor” > mas devidamente fundamentado pelo exercício de voto!

  2. De facto, só mesmo um descerebrado é que pensaria que criminosos poderiam, eventualmente, querer ocultar os seus crimes!

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