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“Uma tragédia anunciada”. Manaus não tem oxigénio para tratar doentes

Manaus, capital do estado do Amazonas, no Brasil, está a atravessar uma situação caótica devido ao aumento de casos covid-19 e à falta de oxigénio dos hospitais.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram as próprias famílias de pacientes, mas também médicos, a transportar para os hospitais tanques de oxigénio que adquiriram por conta própria.

Há pacientes que estão a receber atendimento com recurso a ventiladores mecânicos, que são equipamentos que precisam do auxílio de uma pessoa para funcionar.

relatos de mortes por asfixia e, face à situação caótica na região, as autoridades locais decidiram transferir para outros estados brasileiros centenas de pacientes infetados com o novo coronavírus.

“Acabou o oxigénio e os hospitais viraram câmaras de asfixia (…) Os pacientes que conseguirem sobreviver deverão ficar com sequelas cerebrais permanentes“, afirmou o investigador Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.

A situação levou vários políticos, artistas e clubes desportivos a unirem-se em apelos e doações para ajudar os pacientes internados nestas unidades de saúde. Também há quem responsabilize o atual Governo, presidido por Jair Bolsonaro, por este cenário, classificando-o de “incompetente”.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou o Amazonas esta semana e afirmou que Manaus é “prioridade nacional neste momento”.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mario Vianna, apelou para que profissionais de saúde portugueses se voluntariem para ajudar esta região brasileira.

“Gostaria que o nosso país irmão pudesse entrar em oração, porque a situação no Amazonas é muito grave. Precisamos, caso a situação continue neste ritmo, que haja um grupo de trabalho de profissionais de saúde, que se voluntariem para virem trabalhar no Brasil, porque temo que possamos entrar num caos total, não só no Amazonas”, disse.

“Agora, com esta nova estirpe do novo coronavírus detetada aqui, e no Japão, pode ser um desastre total. Temo pelo Brasil, temo pelo mundo, e que Deus nos ajude”, acrescentou o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas.

Vianna garante que está em causa uma “tragédia anunciada” e que já tinha denunciado ao ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, seis meses antes do início da pandemia, a situação precária do sistema público de Saúde do Amazonas.

Segundo dados do Sindicato dos Médicos, apenas esta manhã morreram cinco pessoas, por escassez de oxigénio, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, naquele estado localizado na Amazónia brasileira.

“Com certeza que é uma tragédia anunciada, em que faltou responsabilidade, transparência, e onde houve omissão do poder público em tratar da pandemia. A primeira vaga de covid-19 já foi bastante violenta aqui, em Manaus, e agora volta a ficar em destaque, novamente, nesta segunda onda. (…) Tudo contribuiu para este cenário de guerra que temos aqui”, avaliou o médico.

Mario Vianna é incisivo a apontar responsabilidades ao governador do Amazonas, Wilson Lima, a quem acusa de ter pagado 2,9 milhões de reais (460 mil euros) a uma loja de vinhos por 28 ventiladores pulmonares, para tratar pacientes infetados.

O valor unitário equivale a até quatro vezes ao preço dos aparelhos em lojas no Brasil e no exterior, e os equipamentos são considerados “inadequados” para pacientes de covid-19.

O responsável criticou ainda o movimento “pouco democrático” tomado pelo governador, que colocou a polícia em torno dos hospitais, “para coibir os profissionais de saúde de denunciar as condições, e para impedir os familiares das vítimas de se manifestarem”.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (207.095, em mais de 8,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.

ZAP // Lusa

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