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Uma luz ao fundo túnel. LGBTQ e ativistas pelos direitos das mulheres europeus veem Biden como um aliado

A proibição de abortar na Polónia, ou a não permissão para casais do mesmo sexo adotarem crianças na Hungria, são alguns dos assuntos que estão a agitar o ocidente. Porém, questões relacionadas com a comunidade LGBT ou com os direitos das mulheres podem ser “refrescadas” sob a influência americana de Joe Biden. Pelo menos é isso que os ativistas esperam.

Nos últimos anos, ativistas e especialistas observaram uma reação crescente contra os direitos LGBTQ e os direitos das mulheres em partes da Europa Central e Oriental, afirmando que, em parte, isso se deveu à administração Trump que acabou por encorajar essa reação e provavelmente contribuiu para que os líderes autoritários redobrassem os ataques contra estes grupos.

“Os Estados Unidos sempre foram vistos como um aliado na luta pelos direitos LGBTI, pelos direitos das mulheres, pelos direitos humanos e, de repente, isso deixou de acontecer”, disse Terry Reintke, membro do Parlamento Europeu, à Time.

Reintke, tal como outros especialistas e ativistas, tem grandes expectativas em relação ao novo governo de Joe Biden e Kamala Harris. “Agora, há realmente uma equipa com a qual podemos trabalhar nessas questões importantes”, referiu.

O papel da administração Trump

Muitos ativistas defendem que as condutas mais repressivas vieram à tona quando Donald Trump chegou ao poder, sugerindo que grupos de direita religiosa e conservadores não só foram capazes de agir sem a condenação do presidente dos EUA, como também foram autorizados por altos funcionários do governo para desenvolveram ações menos positivas para com a comunidade LGBT e também no que diz respeito aos direitos das mulheres.

Na Hungria e na Polónia, vários especialistas sublinham que os líderes populistas têm como alvo a comunidade LGBTI, as mulheres, os direitos humanos e a democracia.

Em maio, a Hungria aprovou uma lei que impossibilita os transgéneros de mudar legalmente de sexo. Também em outubro, a publicação de um livro infantil que incluía personagens LGBTQ originou uma reação furiosa por parte dos políticos do país.

Na Polónia, durante o mês de agosto, vários protestos eclodiram no país durante, contra a proibição quase total do aborto.

Durante as manifestações, o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo co-organizou um evento virtual com o Ministério das Relações Exteriores da Polónia, com o objetivo de abordar a perseguição religiosa.

“O governo de Donald Trump atacou os direitos ao aborto, os direitos LGBTQ e outros direitos humanos em várias situações”, disse Molly Bangs, diretora da Equity Forward, uma organização sediada nos Estados Unidos com foco em saúde reprodutiva e direitos das mulheres.

Mike Pompeo foi também um dos organizadores da Declaração do Consenso de Genebra, uma declaração assinada por 35 governos em grande parte não liberais ou autoritários, entre eles Hungria, Polónia, Brasil e Arábia Saudita.

Virar a página

Com a eleição de Biden para a Casa Branca, muitos ativistas estão esperançosos que próxima administração seja um marco nestas questões.

De acordo com Rémy Bonny, cientista político e consultor sobre questões LGBTI, será muito mais difícil para o governo polaco continuar a trilhar o mesmo caminho, uma vez que Varsóvia tem poucos aliados internacionais.

“É bastante óbvio que Biden não vai tolerar qualquer retórica anti-LGBT”, diz Bonny, apontando para o tweet do presidente eleito condenando as “zonas livres de LGBT” da Polónia. “Com a eleição de Biden, a retórica anti-mulheres e anti-LGBT vinda do governo polaco é basicamente um suicídio diplomático”.

Na Hungria, Bonny prevê que a situação possa ser um pouco mais difícil de reverter, devido aos laços mais próximos do país com a Rússia.

Ainda assim, a esperança permanece e baseia-se em sinais que deram aos ativistas motivos para um novo otimismo.

A 15 de dezembro, Biden escolheu o ex-candidato democrata rival Pete Buttigieg como seu secretário de transportes, o que o torna a primeira pessoa assumidamente gay na história dos EUA a ser confirmada pelo Senado para um cargo de gabinete.

Para observadores na Europa, essa escolha envia uma mensagem bastante forte. “É claro que estou feliz que uma pessoa LGBTQ tenha sido colocada numa posição tão importante”, realça Bonny. “Mas espero que mais pessoas LGBTQ sejam colocadas em cargos no serviço estrangeiro, especialmente nos países em que os estes direitos estão sob ameaça”.

Para a legisladora Reintke, reforçar a parceria entre a Europa e os EUA e enaltecer os direitos humanos, a democracia e o Estado de Direito é o caminho a seguir. “Espero que Joe Biden e Kamala Harris entendam que a União Europeia não é apenas um bloco económico, mas também uma comunidade de valores”, conclui.

Ana Moura, ZAP //

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