Há cada vez mais jovens adolescentes suecas a envolver-se com gangues e até a oferecer serviços de assassinatos contratados. Muitas delas crescem em famílias desestruturadas, são toxicodependes e sofrem de abusos sexuais.
A violência associada ao crime organizado na Suécia está a assumir contornos cada vez mais preocupantes, com as autoridades a alertarem para o crescente envolvimento de raparigas adolescentes como executoras em homicídios contratados.
Determinadas em mostrar-se “mais duras do que os rapazes”, algumas oferecem os seus serviços em plataformas de mensagens encriptadas, segundo a procuradora de Estocolmo, Ida Arnell.
Num caso recente, uma jovem de 15 anos foi recrutada para um ataque armado. Confrontada com a escolha entre disparar contra a porta da vítima ou contra a sua cabeça, optou pela segunda hipótese. Embora tenha sido um cúmplice masculino de 17 anos a puxar o gatilho, o alvo ficou gravemente ferido, atingido no pescoço, abdómen e pernas.
De acordo com os dados oficiais, 280 raparigas entre os 15 e os 17 anos foram acusadas de crimes violentos em 2023, incluindo homicídio e homicídio voluntário, embora não esteja claro quantos destes casos se relacionam diretamente com o crime organizado.
Para os especialistas, o papel das jovens tem sido sistematicamente subestimado, o que contribuiu para o fortalecimento das redes criminosas, denota a CBS.
A Suécia enfrenta há 15 anos uma escalada de tiroteios e atentados com explosivos, impulsionada por redes ligadas ao tráfico de droga e armas, fraude nos apoios sociais e tráfico humano.
O Governo classifica já estas organizações como uma “ameaça sistémica”, existindo sinais de infiltração em setores como a política local, a educação ou a rede de acolhimento de menores.
Em julho, o chefe de uma das maiores organizações criminosas da Suécia foi preso na Turquia. A imprensa sueca identificou-o como Ismail Abdo, de 35 anos, chefe da organização criminosa Rumba, e acusado de orquestrar operações criminosas a partir do estrangeiro.
Abdo liderou a rede criminosa Foxtrot juntamente com Rawa Majid, outro dos criminosos mais procurados da Suécia. Os dois são suspeitos de controlar grande parte do mercado de drogas do país nórdico.
Mas a dupla desentendeu-se, o que deu azo a uma nova escalada de violência entre gangues na Suécia quando a mãe de Abdo foi assassinada em setembro de 2023 em sua casa.
Apesar de muitas vezes vistas apenas como vítimas, as raparigas assumem também papéis ativos nestas guerras.
Um relatório da organização KSAN, publicado em março, alerta que a maioria das envolvidas tem problemas de dependência e traumas não tratados. Duas em cada três jovens condenadas por crimes relacionados com drogas foram igualmente vítimas de violência sexual.
O testemunho de Natalie Klockars ilustra esta realidade. Filha de uma mãe toxicodependente e de um pai preso, começou a traficar drogas aos 19 anos, conquistando centenas de clientes em poucos meses.
Mas a violência inerente ao negócio quase lhe custou a vida e a do filho que esperava. Abandonou o crime no dia em que a filha nasceu.
Para travar a escalada, o Governo propôs legislação que permitirá às autoridades colocar escutas a menores de 15 anos.