Lar em Matosinhos acusado de impedir contacto de idosos com familiares

O lar em Matosinhos, com quem vários familiares dizem não conseguir entrar em contacto há várias semanas, diz ter falta de recursos, mas recusa negligência.

O jornal Público dá conta, esta quarta-feira, do caso de uma familiar de um utente do Lar do Comércio, em Matosinhos, que não conseguia contactar a instituição desde 5 de abril. Dirigindo-se ao local, esperou uma hora para falar com uma enfermeira. No dia seguinte, soube que o idoso estava infetado, depois de conhecido o resultado do teste.

Tal como escreve o diário, este não é um caso isolado. A instituição, com 240 residentes, tem sido confrontada por dezenas de familiares que não sabem o que se passa dentro de portas e que relatam casos de negligência.

Os trabalhadores do lar, por seu turno, também admitem que o plano de contingência nunca foi cumprido e reclamam ter trabalhado semanas sem qualquer proteção.

É uma desgraça anunciada. Se ninguém puser a mão no Lar do Comércio vai haver muitas mortes. O próprio delegado de saúde quando foi lá disse ‘isto está tudo mal. É uma bomba relógio'”, afirma uma das funcionárias ao jornal, que acrescenta que a instituição já tem pelo menos três óbitos por suspeita de covid-19.

Nas poucas vezes em que fala com os familiares, a funcionária é obrigada a dizer que tudo está bem, caso contrário, “somos ameaçadas com processos”, conta ao matutino. “Estamos cansadas, mas precisamos de trabalhar. Estamos de mãos atadas. Por isso gritamos por ajuda anonimamente”.

Esta terça-feira, num comunicado de resposta a uma reportagem do Porto Canal, o Lar do Comércio defendeu-se das acusações e diz estar a ser alvo de “notícias difamatórias e falsas”.

A instituição diz estar a trabalhar com “recursos humanos escassos”, uma vez que mais de 60 funcionários estarão em casa infetados ou à espera do resultado dos testes. Relativamente ao material de proteção, o lar diz que “não existe em quantidades elevadas” e, por isso, é necessário uma “gestão eficaz” do mesmo.

Sobre a falta de comunicação com os familiares, o lar defende-se, considerando que “receber pedidos de informações diários e constantes torna-se, na maioria dos momentos, incompatível com a árdua tarefa de cuidar de tantas pessoas, tão dependentes, ao mesmo tempo que tantas outras exigências são impostas, a cada minuto”.

Em declarações ao jornal, a Câmara de Matosinhos referiu que foram entregues no Lar do Comércio “500 máscaras cirúrgicas, 100 máscaras FFP2, 40 viseiras e cinco litros de álcool gel”, tendo disponibilizado ainda “serviços de limpeza para as suas viaturas e líquidos desinfetantes para superfícies interiores e exteriores e líquidos para higiene pessoal”.

A autarquia também já conseguiu, através da sua unidade de rastreio móvel, testar 180 utentes e 40 funcionários, sendo que o processo vai continuar esta quarta-feira.

De acordo com o Público, o lar já estava referenciado por outras situações, mesmo antes da pandemia de covid-19. No ano passado, uma queixa da Ordem dos Enfermeiros levou a Segurança Social a visitar o espaço e as queixas acabaram no Ministério Público.

O Instituto de Segurança Social está a investigar o lar por suspeitas de “pagamento como critério de admissão de utentes” e de “vantagem patrimonial indevida” e o departamento de investigação e ação penal também tem inquéritos a decorrer, em segredo de justiça.

ZAP //

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