Todos, em todo o lado, partilham um código moral comum. Num estudo em 60 sociedades de todo o planeta, uma equipa de investigadores não encontrou exemplos de grupos humanos que considerem estes comportamentos moralmente maus.
Se acha que seguir uma lista com 10 mandamentos parece ser demasiado exigente, ficará satisfeito por saber que há de facto apenas 7 pilares da moralidade que são universalmente elogiados e observados em todo o mundo.
Segundo investigadores da Universidade de Oxford, estas regras comuns podem ter surgido devido a uma necessidade evolutiva de cooperação, e estão, portanto, biologicamente integradas na natureza humana.
Num estudo publicado em 2019 na Current Anthropology, os autores procuraram explorar a teoria da “moralidade-como-cooperação“, que prevê que certos comportamentos pró-sociais serão inevitavelmente considerados bons em todas as culturas humanas, devido aos benefícios coletivos que trazem.
As 7 regras morais universais identificadas pelos autores do estudo são “ajudar a família, ajudar o seu grupo, retribuir, ser corajoso, respeitar os superiores, dividir recursos disputados e respeitar a posse prévia“.
Segundo os investigadores, cada um destes sete comportamentos facilita o sucesso da espécie humana e impede-nos de nos destruirmos.
Através do processo inevitável de seleção natural, estes traços tornaram-se, portanto, reforçados ao longo de milhões de anos de evolução — e são agora um elemento básico da nossa psicologia coletiva.
A coragem e a divisão justa de recursos, por exemplo, aumentam a nossa capacidade de resolução de conflitos, enquanto o impulso para ajudar os nossos próprios parentes está ligado a uma aversão ao incesto, devido ao impacto negativo que isto tem nos genes da nossa descendência.
A reciprocidade e o cuidar dos membros do próprio grupo, entretanto, promovem o intercâmbio social, a unidade e a lealdade, todos essenciais para a nossa sobrevivência.
Apesar da lógica da hipótese da moralidade-como-cooperação, o debate sobre se um código ético universal realmente existe permaneceu por resolver durante séculos, nota o IFLS.
Em 1751, por exemplo, o filósofo David Hume escreveu que princípios como “verdade, justiça, coragem, temperança, constância, dignidade mental… e fidelidade… foram estimados universalmente, desde a fundação do mundo”.
No entanto, outros pensadores como John Locke estavam menos convencidos, e acreditavam que se viajasse suficientemente longe, eventualmente encontraria um grupo de pessoas que desaprovava estas virtudes.
Para testar a teoria, os autores do estudo examinaram relatórios etnográficos de 60 culturas ao redor do mundo. Resumindo as suas descobertas, escrevem que “Hume estava certo, e Locke estava errado”, pois as sete regras relativas à moralidade-como-cooperação parecem ser universalmente valorizadas.
“Em todas as sociedades para as quais havia dados, estes 7 comportamentos cooperativos foram considerados moralmente bons“, explicam os investigadores. “Não houve contraexemplos, ou seja, sociedades nas quais estes comportamentos fossem considerados moralmente maus”, acrescentam.
Além disso, o inquérito indicou que as 7 morais cooperativas eram generalizadas, aparecendo igualmente em todo o globo, sem que nenhuma região mostrasse maior ou menor inclinação para qualquer um destes comportamentos do que qualquer outra região.
“O debate entre universalistas morais e relativistas morais tem-se prolongado durante séculos, mas agora temos algumas respostas”, disse na altura o primeiro autor do estudo, Oliver Scott Curry, num comunicado da Universidade de Oxford.
“Todos, em todo o lado, partilham um código moral comum. Todos concordam que cooperar, promover o bem comum, é a coisa certa a fazer“, explicou Curry. Infelizmente, como sabemos, há coisas que são mais fáceis de dizer do que de fazer.