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Jovens continuam os mais suscetíveis às crises. 70% dos empregos perdidos em 2020 eram deles

Em termos de prémio salarial da educação, os autores do novo relatório destacam que este “continua a existir de forma clara”, apesar de a vantagem salarial ter vindo a diminuir. 

Os jovens portugueses continuam a estar mais suscetíveis às crises, com consequências ao nível do mercado de trabalho. Com a chegada da pandemia, mais de 70% dos postos de trabalho que se perderam eram, efetivamente, ocupado por eles, trabalhadores com menos de 30 anos, alguns em condições precárias, apesar da sua formação superior. Em números exatos, trataram-se de 95.500 postos de trabalho que desapareceram em 2020, dos quais 68.200 pertenciam a jovens.

As contas foram feitas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Observatório do Emprego Jovem e a Fundação José Neves (FJN), entidades que desenvolveram o Livro Branco – Mais e Melhores Empregos Para os Jovens. Do documento constam dados de fontes como Eurostat, OIT, Segurança Social, IEFP, Pordata, Quadros de Pessoal do MTSSS, FJN).

Uma das conclusões visíveis tem que ver com o impacto da pandemia, período onde, no primeiro ano, 49.200 jovens entre os 15 e os 24 anos perderam o emprego, assim como mais 19 mil na faixa etária dos 25-29. Os dois grupos representam, por isso, 71,4% do emprego perdido em 2020.

Os números, para além de serem um problema para os atingidos, são igualmente outra questão para resolver “para o país“, uma vez que “os défices de oportunidades de emprego e de trabalho de qualidade comportam importantes custos sociais e económicos e limitam o potencial de desenvolvimento” da  economia e da sociedade.

O relatório, que contou com o patrocínio da Presidência da República, fala ainda numa espécie de círculo vicioso. “Baixos salários limitam o poder de compra dos jovens e reduzem o nível de procura dirigida a empresas que atuam no mercado interno”; “o impacto na natalidade tem efeitos a médio-longo no potencial de crescimento da população em idade, num contexto de acentuado envelhecimento demográfico”. Paradoxalmente, apesar da falta de pessoas, o desemprego jovem é 2,5 vezes superior ao total.

Os efeitos da pandemia também se fazem sentir no que respeita à educação e à formação. Por exemplo, a taxa de abandono escolar era, em 2010, de 28,3%, muito acima da média europeia, de 13,8%. Nos 12 anos que se seguiram, o indicador caiu drasticamente, para 5,9%, ou seja, metade da nova média europeia (9,7%). Para estes números contribuiu o ensino profissional, apesar da “fraca reputação” que ainda apresenta.

Em termos de prémio salarial da educação, os autores destacam que este “continua a existir de forma clara”. No entanto, a vantagem salarial “tem vindo a diminuir, o que, por sua vez, pode reduzir os incentivos” à continuação dos estudos, vaticina o estudo. Em 2021, por exemplo, 48% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham formação superior, com as competências digitais básicas a melhorar entre os mais jovens face ao resto da população.

“Em suma, os indicadores revelam avanços consideráveis ao nível da qualificação de geração mais jovem.” O problema parece surgir depois. “Portugal tem evidenciado níveis de desemprego jovem superiores à média da União Europeia.” O valor diminuiu significativamente antes da crise sanitária, de 34,4% para 17,9%, mas aumentou com relativa rapidez depois de 2020, chegando aos 23,4% em 2021.

E há duas razões possíveis: o uso excessivo dos contratos a termo e a entrada mais difícil no mercado de trabalho, como consequência do período de retração e suspensão de muitas das atividades letivas.

Para os autores do relatório, a conclusão é simples. “É sobretudo sobre os trabalhadores mais jovens que recaem os custos dos ajustamentos das empresas a choques externos, como quebras abruptas na procura ou disrupções nas cadeias de abastecimento. Como resultado, mais de 70% dos empregos perdidos entre 2019 e 2020 eram ocupados por jovens“. Tal acontece porque existem mais jovens entre a população “com relações contratuais atípicas“.

ZAP //

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