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Jornalista da RTP com pulso partido e pontos na cabeça (“quem anda à chuva molha-se”)

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“Quem anda à chuva, molha-se”, é a análise polémica de Estrela Serrano, membro do Conselho de Opinião da RTP, sobre as agressões a jornalistas do canal público, junto a uma escola em Chelas, em Lisboa, que deixaram o operador de imagem com um pulso partido e pontos na cabeça.

A Direcção de Informação da RTP já condenou “com veemência” as agressões a jornalistas do canal público que se deslocaram à Escola Básica dos Lóios, em Chelas, Lisboa, para uma reportagem sobre a alegada agressão sexual de um jovem de 12 anos a outro de 9, no interior do estabelecimento de ensino.

A RTP apresentou queixa-crime contra os agressores, que seriam familiares da criança de 12 anos, depois de o operador de imagem ter sido hospitalizado. Segundo o Público, o jornalista “levou pontos no couro cabeludo, tem um pulso partido e várias escoriações na cabeça e tronco”.

“A agressão a um jornalista é um acto inaceitável e cobarde“, considera a Direcção de Informação da RTP, sublinhando que estamos perante atitudes “atentatórias da liberdade de informação, que mais não visam do que condicionar o exercício do jornalismo“.

Estrela Serrano diz que “agressões seriam de esperar”

Mas para Estrela Serrano, membro do Conselho de Opinião da RTP, as agressões “seriam de esperar”. A professora de Jornalismo escreveu no seu blogue Vai e Vem que a RTP não deveria ter ido à escola e que “como seria de esperar acabou agredida”.

Criticando o canal por ter ido fazer uma reportagem quando estavam em causa menores e suspeitas de agressões sexuais, Estrela Serrano escreve que “certamente a RTP não estaria à espera de filmar as crianças envolvidas ou os seus familiares”.

“Não se ficou a saber que tipo de reportagem a RTP esperava fazer”, acrescenta a professora, que frisa que “tratando-se de assunto tão grave e delicado, a recolha de imagens era absolutamente interdita”.

As declarações de Estrela Serrano já motivaram as críticas de vários jornalistas, especialmente da RTP, como é o caso de Rita Marrafa de Carvalho, que foi destacada pelo canal público para a escola, já depois de os seus colegas terem sido agredidos, e que acabou por ficar presa no estabelecimento durante duas horas, sob escolta policial.

A jornalista justifica, no seu perfil do Facebook, que a RTP foi ao local, após “queixa de uma mãe”, por se tratar de um caso óbvio de “notícia”.

“Se não fosse, o processo Casa Pia nunca teria sido alvo de informação mediática, com as devidas falhas”, aponta ainda Rita Marrafa de Carvalho, acusando Estrela Serrano de ter “uma grande falta de sensibilidade jornalística”.

“Jamais, em tempo algum, se filmaria uma criança!!”, garante também Rita Marrafa de Carvalho na sua publicação no Facebook.

Na reportagem exibida pela RTP, onde se vêem as agressões ao operador de câmara, não aparecem as crianças envolvidas na alegada agressão sexual.

Jornalistas exigem demissão de Estrela Serrano

Entretanto, conta o Público, um grupo de cerca de 100 jornalistas da RTP assinou um documento onde exige a demissão de Estrela Serrano do Conselho de Opinião do canal, alegando que Serrano “não tem qualquer condição para se manter, digna e coerentemente, membro do Conselho de Opinião da RTP”.

O documento realça que o texto de Serrano é “ofensivo, insultuoso” e que “manifesta total descrença nas capacidades intelectuais, éticas e deontológicas dos profissionais da informação da RTP”.

Numa publicação no seu blogue, posterior a estas críticas, Estrela Serrano reforça que o que pretendeu dizer foi que, “como diz o povo “quem anda à chuva, molha-se””.

“O repúdio da agressão a um jornalista no exercício de funções não pode camuflar erros eventuais cometidos numa situação em que o jornalista se tornou ele próprio vítima“, conclui a professora de jornalismo.

E há quem alerte, como é o caso de Carlos Vaz Marques, jornalista da TSF, que as palavras de Estrela Serrano são uma “legitimação” da violência contra jornalistas.

E há também quem compare as palavras de Estrela Serrano à ideia de que uma mulher que usa mini-saia, está a pedir para ser violada.

SV, ZAP //

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