A Câmara de Oeiras retirou um dos cartazes que denunciava abusos sexuais na Igreja em Portugal, por considerá-lo “publicidade ilegal”… mas “publicidade a quê?”. As vítimas sentem-se “silenciadas e desrespeitadas”.
Um dos três cartazes que denunciam os abusos sexuais a crianças na Igreja Católica portuguesa, colocado em Algés, foi retirado por ordem da Câmara Municipal de Oeiras por ser “publicidade ilegal”.
“No Município de Oeiras toda a publicidade ilegal é retirada, neste e em todos os casos”, justificou a autarquia, em resposta à agência Lusa.
Os cartazes em causa, em que se lê a frase “Mais de 4800 crianças abusadas pela Igreja Católica em Portugal”, em inglês, ilustrada por 4800 pontos que representam cada uma das vítimas.
Os cartazes tinha sido colocados na madrugada desta quarta-feira em Lisboa, Loures e Algés, mas o último não durou mais de meio dia.
A polícia já está junto do outdoor em Algés #JMJ #WYD @tarantelma pic.twitter.com/KqeSMi47DM
— dylan (@dylanlopesx) August 2, 2023
Ao início da tarde, uma das promotoras, Telma Tavares, denunciou que o cartaz colocado em Algés teria sido retirado pela Polícia Municipal. “Censura em Algés, após quase 50 anos do 25 de abril”, escreveu na sua rede social X/Twitter.
Censura em Algés, após quase 50 anos do 25 de abril.
Luto pela liberdade de expressão das +4800 vítimas, por um memorial que erguemos para que ninguém se esqueça delas. Não esquecemos.#JMJ #WYD pic.twitter.com/hfO6ATA9Wt
— Telma Tavares (@tarantelma) August 2, 2023
“Luto pela liberdade de expressão das +4800 vítimas, por um memorial que erguemos para que ninguém se esqueça delas. Não esquecemos”, acrescenta.
“Os nossos cartazes não são publicidade, a publicidade implica um objetivo comercial. São mensagens políticas. A ser publicidade o nosso cartaz, seria a quê?”, atirou Telma Tavares, em declarações ao Diário de Notícias.
A ideia deste movimento “This is our memorial” (Este é o nosso memorial) nasceu no X/Twitter e os promotores fizeram uma recolha de fundos que permitiu a colocação dos cartazes.
“Trata-se de uma estrutura privada. Se considerassem ilegal teriam de avisar o fornecedor para remover no prazo de cinco dias”, explicaram à RTP.
“O que me preocupa mais é o impacto que isto está a ter nas vítimas. Temos estado em contacto com algumas. (…) Perante a censura a um cartaz em que lhes é feita uma homenagem, sentem-se uma vez mais invisibilizados, silenciados“, lamenta.
Ao DN, Filipa Almeida, uma das vítimas, diz que se sente desrespeitada e magoada pela autarquia: “Como vítima magoa-me muito que tenham retirado o cartaz. É uma falta de respeito, sinto-me desrespeitada por esta decisão que a Câmara de Oeiras tomou”.
Esta decisão pode inclusivamente ter desrespeitado a lei e a Constituição. Os juristas consultados pelo matutino corroboram os argumentos dos promotores: a propaganda política não necessita, nos termos da lei 97/88, de 17 de agosto, de licenciamento por parte das autarquias.
Mais de 4800 crianças foram vítimas de abuso sexual
O último ano e meio na Igreja portuguesa foi marcado pelas suspeitas de casos de abuso que saltaram para o domínio público e que deram origem a uma comissão independente para estudar esses abusos.
Em novembro de 2021, mais de duas centenas de católicos defenderam que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) deveria “tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”.
O documento, assinado por figuras como a escritora Alice Vieira, o deputado José Manuel Pureza, o jornalista Jorge Wemans ou o ex-presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, era perentório: “Se queremos manter um diálogo com a sociedade a que pertencemos e que servimos, não existe alternativa!”.
Poucos dias depois, o pedopsiquiatra Pedro Strecht era nomeado pela CEP como coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja.
Esta comissão iniciou o seu trabalho no dia 11 de janeiro de 2022, apresentou resultados em fevereiro deste ano e anunciou a validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4815 vítimas.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg'” deste fenómeno.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.
Papa Francisco reuniu-se com de vítimas de abusos
Depois de, logo no primeiro dia da sua visita a Portugal a propósito da Jornada Mundial da Juventude, ter abordado diretamente o tema dos abusos sexuais na Igreja, o Papa Francisco reuniu-se em privado com um grupo de vítimas desses abusos.
“Após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero”, adiantou a Santa Sé num breve comunicado.
O encontro, que não fazia parte da agenda oficial da visita do Papa Francisco a Portugal, “decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20:15″, nota ainda o comunicado da sala da imprensa da Santa Sé.
ZAP // Lusa
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Da Câmara de Oeiras agora só se exige a reposição do cartaz e um pedido de desculpas público. Como católico sinto-me profundamente enojado e envergonhado pelo que a igreja permitiu silenciosamente durante anos e agora como cidadão sinto vergonha do executivo desta cidade.
Ora pois claro, jogar o que a Igreja não trata á décadas debaixo do tapete.
Vergonhoso! E o pseudo-papa anda a fazer marketing aos jovens; ridiculo – mais importante se tivesse a resolver os vários processos que tem acerca da violação de jovens espalhados pelo mundo inteiro.
Como católico, considero a falta de ação perigosa, contra os canones da Igreja e problematica no desenvolvimento da fé e a proteção doss jovens no “antro” da Igreja.
Menos gastos e mais ação!
Este Miguel tem cá uma lábia. Um comunista radical que agora vem vender-nos a ideia de que é um católico enojado…
Porque ainda não vi nenhum cartaz das vítimas de pedofilia no estabelecimentos de ensino?
Pagos pelo estado ‘laico’? Espera sentadinho.
Acho que o Sr. deveria reler antes de falar, o Sr. Miguel disse e passo a Citar “Como católico sinto-me profundamente enojado e envergonhado pelo que a igreja permitiu” ele expressa bem , como Católico e sim sou Comunista e com muito Orgulho , pois o meu pai lutou na clandestinidade , sofreu nas Masmorras da PIDE pela Luta da Liberdade de um Pais que vivia numa ditadura e se não fossem pessoas como alguns Comunistas , hoje Pessoas como o Sr. Tu sabes muito,pá não poderiam expressar-se com a Liberdade que se expressa gostem ou não esta é a Realidade quando vociferam Odio pelos Comunistas , além que das vezes que o meu Pai e outras pessoas como ele foram presos foi graças á Igreja que dava informações á PIDE
Se defendes tanto a liberdade de expressão, porque razão andas aqui sempre a defender regimes como a Coreia do Norte, a China , a Rússia, etc?
E quanto à convivência entre ser comunista e católico, o que diria Karl Marx?