Treinadores de Benfica e Sporting de Braga já foram questionados sobre a interrupção do jogo da Liga dos Campeões entre Paris Saint-Germain e Başakşehir. “Temos que ter algum cuidado na nossa sociedade”, disse Carvalhal.
É o assunto do momento no desporto: o final antecipado e inesperado do jogo da Liga dos Campeões entre Paris Saint-Germain e İstanbul Başakşehir, realizado nesta terça-feira, que durou apenas 14 minutos. A partida foi interrompida porque todos os elementos da equipa turca abandonaram o relvado.
Ainda na fase inicial deste encontro da sexta e última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o treinador-adjunto do Başakşehir, Pierre Webó, protestou muito após uma falta de um jogador do PSG; exigiu o cartão amarelo, terá exagerado nos protestos, e foi expulso.
O problema começou quando o árbitro principal, depois de ter sido chamado pelo quarto árbitro, perguntou ao seu colega de equipa quem é que iria ver o cartão vermelho. O quarto árbitro apontou para o banco de suplentes dos turcos e terá respondido com a frase: “É aquele negro ali”. Webó ouviu, não gostou, protestou e gerou-se a confusão, com Demba Ba também a protestar muito por causa dessa expressão. Passados alguns minutos, o İstanbul Başakşehir abandonou o relvado e o jogo acabou logo ali.
A UEFA anunciou que a partida vai ser retomada às 17h55 desta quarta-feira, com outra equipa de arbitragem em Paris, e acrescentou que já foi nomeado um Inspector Disciplinar e de Ética para iniciar uma investigação disciplinar.
Reações em Portugal
Na manhã seguinte ao episódio, dois treinadores de equipas portuguesas já comentaram o que aconteceu em França: Jorge Jesus e Carlos Carvalhal, ambos na respetiva conferência de imprensa de antevisão à última jornada da fase de grupos da Liga Europa.
O treinador do Benfica (que ainda hesitou uns segundos antes de responder à pergunta da jornalista) disse: “Bom, eu não sei, não estava lá. Não sei o que aconteceu, não sei o que se disse. Mas hoje está muito na moda isso do racismo. Como cidadão, tenho o direito de pensar à minha maneira e só posso ter uma opinião concreta se souber o que se disse naquele momento”.
Jesus continuou: “Hoje, qualquer coisa que se possa dizer contra um negro é sinal de racismo; se disseres a mesma coisa a um branco, já não é sinal de racismo. E está a implementar-se essa onda no mundo. E se calhar até houve, como é óbvio, algum sinal de racismo, face às declarações que dirigiram a esse treinador. Mas não sei o que disseram…”, finalizou o treinador do Benfica.
Carvalhal, que foi treinador do Başakşehir em 2012/13, lamentou a situação mas pediu cautela e lembrou o caso precisamente de Jorge Jesus, que foi acusado de machismo perante uma jornalista: “Não quero entrar no exagero. Temos que ter algum cuidado na nossa sociedade. Ainda há pouco tempo um colega meu, treinador, lançou uma expressão que lançaria com qualquer pessoa, branca, negra, homem, mulher… E foi muito mal interpretado porque veio logo à tona o feminismo, a defesa das mulheres”.
“Temos que ter algum equilíbrio no meio disto tudo. Não nesta situação, em que temos de ser implacáveis. O racismo, como disse no caso do Marega, não é uma questão do futebol, é da sociedade. Mas no resto, há que haver equilíbrio, senão corro o risco de estar aqui na conferência de imprensa a responder a alguém que não tem uma perna e depois aparece a associação das pessoas sem a perna criticar-me porque eu respondi mal à pessoa que não tem a perna”, explicou o técnico do Sporting de Braga.
Quando uma questão importante, o racismo como forma de exclusão, se torna banal e folclórica, o assunto deixa de ser importante.
Que diria o saudoso “Pantera Negra” sobre isto?….