Israelitas “não estão preparados” para ataques do Irão. Defesas de Israel enfrentam “nova ameaça”

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ATEF SAFADI/EPA

A Cúpula de Ferro, sistema de defesa aérea israelita, interceta mísseis disparados pelo Irão sobre Telavive.

Pelo menos 14 pessoas morreram em território israelita. “Estão a perceber o que os palestinianos e libaneses andam a sofrer e veem a destruição à frente deles”. Irão pode estar a tentar “guerra psicológica” e “exaustiva” contra Israel.

Em guerra aberta com o Irão pela primeira vez em mais de meio século, Israel mantém a vantagem, mesmo sendo o país claramente mais pequeno (são nove milhões contra 88 milhões). Mesmo assim, o medo cresce entre os israelitas: dezenas já foram mortos e feridos em ataques iranianos em apenas 5 dias.

Da perspetiva de Israel, pensa-se em como pôr fim aos alarmantes ataques iranianos, numa altura em que os “amigos” norte-americanos não querem entrar diretamente no conflito.

Até Israel, que começou a escalada com um ataque sem precedentes, já admitiu que o fim do conflito “será diplomático, não militar”, disse fonte da CNN, embora o governo já tenha também dito que não há uma data limite para tal fim.

O objetivo principal é destruir o programa nuclear do Irão, mas passará também muito por enfraquecer a posição negocial nuclear iraniana. Mas essa é também a posição de Teerão, embora com um twist.

“Israelitas não estavam prontos”

A resposta iraniana tem sido bastante afetada pela ação da Mossad e a frota já tinha sido gravemente ferida em outubro, no anterior ataque israelita, mas Israel estará outra vez a agir sem uma estratégia concreta.

“Todas as autoridades de Israel avisaram os israelitas de que esta será uma guerra pesada e que o preço a pagar vai ser extremamente elevado”, recorda à Al Jazeera o analista militar e político, Elijah Magnier, que acredita que o conflito vai continuar a escalar e que estamos apenas nos primeiros dias da guerra.

O país encerrou na sexta-feira as suas embaixadas e missões diplomáticas em todo o mundo, receando a retaliação iraniana. Também pediu aos israelitas de todo o mundo: evitem exibir símbolos judaicos em espaços públicos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse esperar “várias vagas de ataques iranianos”.

“Os apoiantes de Benjamin Netanyahu e que apoiam a guerra no Irão não esperavam este nível de destruição. Estão agora a perceber o que os palestinianos e libaneses andam a sofrer e veem a destruição à frente deles. Edifícios em Telavive, em Haifa… destruídos. Fogo em todo o lado. Propriedades que já não existem. Oito pessoas mortas, 250 feridas num dia [15 de junho]. Já não se ouvia isto há muito tempo em Israel”, avisa o mesmo analista.

“A sociedade [israelita] não estava pronta para isto. Confrontar a realidade é diferente”, sublinha.

Israel ficará “exausto”?

Magnier alerta ainda que à medida que a guerra contra o Irão se intensifica, os sistemas de defesa antimíssil de Israel enfrentam “uma nova ameaça, a exaustão estratégica“.

“O Irão está a escalar os seus lançamentos de mísseis, com pequenas rondas de 3 a 5 mísseis a intervalos irregulares, frequentemente, a cada 30 a 60 minutos. Esta mudança calculada de estratégia assemelha-se à guerra psicológica, fazendo lembrar a técnica de afogamento simulado da CIA: não física, mas implacável”, explica Elijah Magnier.

“A capacidade defensiva de Israel depende de uma frota de intercetores: mísseis pequenos e rápidos que neutralizam os projéteis inimigos em voo”, adianta em referência à famosa Cúpula de Ferro, à Funda de David e aos sistemas de longo alcance Arrow 2 e Arrow 3 e baterias THAAD dos EUA. “Cada um tem uma função distinta, mas todos partilham uma fraqueza: são caros, limitados em quantidade e lentos a produzir”.

O objetivo do Irão é claro, para o analista: esgotar o stock de intercetores de mísseis israelitas, sobrecarregar  a defesa aérea e enfraquecer a moral dos civis com alertas constantes, sirenes e corridas para abrigos.

E “os iranianos parecem já ter degradado os sistemas de defesa de Israel”, acredita Trita Parsi, do Instituto Quincy: “apesar de terem um número inferior de mísseis, estão a conseguir fazer passar mais mísseis”.

EUA não querem ir para a guerra

Percebe-se a relutância de Donald Trump em participar no conflito, apesar de o presidente norte-americano ter considerado “excelente” o “grande dia” em que Israel atacou o Irão na semana passada.

Do lado norte-americano, “não há grande apetite de guerra”, diz Parsi. Os apoiantes de Trump são “totalmente contra qualquer guerra com o Irão” e até contra os EUA apoiarem Israel nesta investida. “Sentem-se traídos” por Trump alinhar com os israelitas, acredita o analista.

O que sabemos é que Israel “pediu aos EUA para entrarem na guerra”, porque “não parece ter a capacidade” para destruir o programa nuclear do Irão sozinho.

Trump, que rejeitou um plano israelita para matar o líder supremo do Irão, tem insistido que os dois países devem fazer um acordo. Mas Israel não precisa de palavras: precisa do fogo implacável dos EUA.

Por exemplo, Fordow, construída dentro de montanhas, é uma das instalações nucleares subterrâneas que Israel terá de destruir para conseguir aniquilar o programa nuclear iraniano. Mas os israelitas não terão neste momento o arsenal necessário para o fazer e esperam pela ajuda de Trump.

Os EUA também não deram a Israel acesso à única arma que seria provavelmente necessária para penetrar neste complexo nuclear subterrâneo: o Massive Ordnance Penetrator, uma bomba de 13.600 quilos, que só pode ser lançada por bombardeiros estratégicos B2 dos EUA.

Não destruir, mas atrasar o programa nuclear iraniano

Apesar de tudo, Israel, com o apoio norte-americano, levará alguma vantagem, uma vez que o Irão está “geopoliticamente isolado”, comparativamente aos israelitas, apesar do apoio simbólico de países árabes e muçulmanos e das potências Rússia e China, avisa: isso não se traduz em apoio militar, avisa Hamed Mousavi, professor de Ciência Política na Universidade de Teerão.

Apesar de não conseguir destruir o programa nuclear iraniano sem os EUA, “pode, no entanto, atrasá-lo significativamente (por pelo menos um ano), principalmente atacando instalações — a começar por Natanz —, assassinando cientistas nucleares que representam um estrangulamento fundamental no programa e danificando outras instalações”, aponta Raz Zimmt, investigador sénior no Instituto de Estudos de Segurança Nacional e no Centro Aliança para os Estudos Iranianos da Universidade de Tel Aviv.

Para o diretor de políticas da United Against Nuclear Iran (UANI), citado pelo think tank Atlantic Council, “o ladrar do Irão é pior que a dentada”, mas há preocupações que Israel deve ter em conta.

“A área com que mais me preocupo é a perspectiva de Teerão activar operações de contingência visando os interesses israelitas e judaicos no estrangeiro através do terrorismo. O Irão pode também considerar atacar os interesses energéticos dos parceiros dos EUA no mundo árabe como forma de obter prejuízos económicos por estes ataques israelitas. Teerão pode também recorrer a ataques cibernéticos contra infraestruturas críticas”, alerta Jason M. Brodsky.

Tomás Guimarães, ZAP //

2 Comments

    • Não seja assim, as pessoas não devem pagar pelos dirigentes que estão à frente dos países, nem todos votaram neles e os que votaram já devem estar bem arrependidos.

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