Israel alvo de centenas de mísseis. Ataque ao Irão “foi excelente” para Trump

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YAHYA ARHAB/EPA

Vingança já começou. Trump ficou contente com ataque sem precedentes desta sexta-feira: “foi um grande dia”. Já Netanyahu encerrou as suas embaixadas em todo o mundo e  pediu aos israelitas: evitem exibir símbolos judaicos em espaços públicos. EUA podem entrar em ação.

“Todo o território de Israel está sob fogo”, alertam as forças armadas israelitas esta sexta-feira, pouco depois de o Irão confirmar o lançamento de “centenas de mísseis balísticos diversos” — o início de uma resposta “esmagadora”.

O estrondo das explosões pôde ser ouvido em Jerusalém, e as estações de TV israelitas mostraram nuvens de fumo subindo em Telavive, mas não há neste momento relatos de vítimas. O exército disse que dezenas de mísseis foram lançados e ordenou que os residentes de todo o país se mudassem para abrigos antiaéreos.

Mais de 70 mortos no Irão

“Foi absolutamente aterrorizante. O meu coração batia forte”.

Foi esta a primeira reação de Roya quando Israel atacou, pelas três da manhã, a zona oeste de Teerão, onde mora a senhora de 62 anos.

“Vi fumo no horizonte e, a princípio, pensei que todos os ataques fossem mais longe, mas quando as imagens apareceram, descobri que uma casa a poucas ruas da nossa tinha sido atingida”, diz à Al Jazeera, em referência ao ataque sem precedentes.

Em Teerão, as forças de defesa aérea estiveram ativas durante a tarde. Mais de 70 pessoas morreram e mais de 320 ficaram feridas nos ataques de Israel da madrugada desta sexta-feira, segundo a agência de notícias iraniana Fars. Foram relatadas explosões em todo o oeste, no sudeste da capital iraniana e no noroeste, em Tabriz, mas também perto da central nuclear de Fordow, nas montanhas.

Contaminação – química ou radioativa – foi detetada dentro do local nuclear de Natanz. O exército israelita disse que a maior central de urânio do Irão sofreu danos significativos. No entanto, não haverá por enquanto motivo para preocupação no exterior do local, segundo a Organização de Energia Atómica do Irão.

Israel diz que “não teve escolha” e que avisou Trump

Israel já intercetou drones iranianos e soaram as sirenes no norte do país. O país encerrou as suas embaixadas e missões diplomáticas em todo o mundo, receando a retaliação iraniana. Também pediu aos israelitas de todo o mundo: evitem exibir símbolos judaicos em espaços públicos.

Netanyahu diz que Israel “não teve escolha” senão atacar o Irão e adiantou que o ataque estava originalmente planeado para o final de abril e que os EUA foram avisados com antecedência.

O exército israelita afirma que os seus aviões de guerra continuam a atacar lançadores de mísseis iranianos, bem como infraestruturas utilizadas para lançar drones. Pouco antes, as forças israelitas afirmaram  que estavam a tentar intercetar um míssil lançado do Iémen.

Netanyahu teme vingança…

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu espera “várias vagas de ataques iranianos”. O porta-voz do exército israelita, Effie Defrin, advertiu que o país deve preparar-se para “uma operação prolongada“.

“Estamos a monitorizar o Irão, a preparar-nos para uma resposta iraniana; sabemos que eles se estão a preparar para responder e disparar contra nós”, disse o porta-voz militar.

“Temos objetivos para a guerra e continuaremos a operar de acordo com eles até que sejam alcançados. Repito, temos metas e objetivos bem definidos para esta operação. É uma operação gradual. Não vou partilhar os objetivos operacionais que vamos atacar por razões óbvias”, disse ainda.

A agência policial israelita diz no X que as suas forças estão “prontas para qualquer cenário”.

…e iranianos  prometem-na

Cidadãos iranianos pediram vingança nas ruas após os ataques israelitas, em Teerão e outras cidades. Caso contrário, “acabamos como Gaza”, disse um dos cidadãos, citados pela Lusa.

O Presidente iraniano condenou o “ataque selvagem e criminoso” de Israel, que lançou vários bombardeamentos contra o país, e prometeu “uma resposta poderosa e legítima” de Teerão que fará com que “o inimigo se arrependa desta ação estúpida”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano considerou o ataque de Israel “uma declaração de guerra contra a República Islâmica do Irão” por parte do “regime mais terrorista do mundo”, que já ultrapassou “todas as linhas vermelhas”.

“Quando a resposta do Irão chegar, incluirá mísseis balísticos pesados direcionados a Telavive — não apenas bases militares, mas outros locais”, disse Foad Izadi, professor de relações internacionais da Universidade de Teerão, à Al Jazeera: “o preço tem de ser alto o suficiente para garantir que não veremos uma segunda ronda de ataques [israelitas]”.

Ataque ajuda Trump

O fim do período de 60 dias durante o qual o presidente dos EUA, Donald Trump, se mostrou aberto a negociar com o Irão parece ter sido um fator determinante na decisão de Israel de atacar o Irão esta manhã.

Mas Trump, que felicitou os ataques, não sabe ao certo se o Irão ainda tem um programa nuclear, revelou o próprio à Reuters.

“Foi excelente”, disse Trump à ABC News. “E mais, muito mais, ainda está por vir”.

“Foi um grande dia” e Israel usou “ótimo equipamento americano” durante o ataque, disse ainda o presidente norte-americano. “Tentei poupar o Irão da humilhação e da morte”, disse, adiantando que não está preocupado com a possibilidade de guerra regional.

E o ataque foi “excelente” para Trump porque provavelmente aumentou as hipóteses de um acordo nuclear entre os EUA e o Irão.

“Não creio [que o ataque tenha comprometido as negociações]. Talvez o contrário. Talvez agora eles negociem a sério”, disse o presidente à Axios. “As pessoas com quem eu estava a lidar estão mortas, os linha-dura”, disse o presidente dos EUA à CNN.

Washington iniciou as negociações com Teerão sobre o seu programa nuclear em abril. Israel acusa o Irão de querer construir uma bomba atómica e considera-o uma ameaça existencial. Teerão, que nega ter tais ambições militares, afirma que está a desenvolver o nuclear para fins civis, nomeadamente para fins energéticos. Washington exige o desmantelamento total das atividades nucleares do Irão, uma exigência “não negociável” para Teerão.

A ofensiva israelita ocorre no momento em que o Irão e os Estados Unidos se preparavam para uma sexta ronda de negociações sobre o nuclear no domingo. Não se sabe ainda ao certo se a agenda se mantém.

EUA podem entrar em ação

Fordow, construída dentro de montanhas, é uma das instalações nucleares subterrâneas que Israel terá de destruir para conseguir aniquilar o programa nuclear iraniano. Mas os israelitas não terão o necessário para o fazer — e esperam pela ajuda dos EUA.

Na verdade Israel não conseguirá destruir totalmente o programa nuclear do Irão, acredita o conselheiro de segurança nacional, de Israel, Tzachi Hanegbi, citado pela Al Jazeera. Mas de facto a campanha militar desencadeada esta sexta-feira pode “criar as condições para um acordo de longo prazo, liderado pelos Estados Unidos, que frustrará completamente o programa nuclear”.

“Há a probabilidade de a situação se desestabilizar, vai piorar“, garante à agência Alan Eyre, um ex-alto funcionário norte-americano envolvido nas anteriores negociações nucleares com o Irão: mas “isto não vai cumprir o objetivo de Israel de diminuir ou eliminar a ameaça nuclear”.

O plano israelita era bem conhecido pelos EUA. Donald Trump já o confirmou ao Wall Street Journal, negando a versão oficial do secretário de Estado que falou numa ação unilateral por parte dos israelitas.

Dois funcionários norte-americanos disseram à Associated Press que os EUA estão a transferir recursos militares e navios para o Médio Oriente em resposta aos ataques de Israel ao Irão e face a um eventual ataque de retaliação iraniano.

A agência nuclear da ONU reúne-se de urgência na segunda-feira.

Tomás Guimarães, ZAP //

1 Comment

  1. “Teerão, que nega ter tais ambições militares, afirma que está a desenvolver o nuclear para fins civis”, quem acredita nisso?
    Se fosse verdade não precisava de ter laboratórios a 100 metros de profundidade, podia fazê-lo às claras.

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