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Isabel dos Santos usou equipa de espiões para provar “conspiração” e “vingança” de João Lourenço

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Manuel Araújo / Lusa

A empresária Isabel dos Santos contratou uma firma de antigos agentes secretos israelitas para provar que foi vítima de um ataque orquestrado pelo governo de João Lourenço.

De acordo com o jornal Público, Isabel dos Santos juntou uma equipa de espiões para provar que foi vítima de uma “conspiração” orquestrada pelo governo angolano de João Lourenço.

Segundo a empresária, esse ataque é “conspiração” para desacreditá-la e apropriar-se dos seus bens, entre os quais a participação de 25% na gigante das telecomunicações angolana Unitel, da qual Isabel dos Santos alegadamente se serviu para financiar investimentos próprios, entre 2012 e 2013, de quase 400 milhões de euros.

A empresária angolana entregou o relatório produzido pela firma israelita Black Cube, que explica que a equipa foi formada por “um seleto grupo de veteranos de unidades especiais dos serviços secretos israelitas” (Mossad) e de outros agentes especialistas em “direito e finanças”.

Os espiões israelitas apresentaram-se como consultores de negócios ou representantes de empresas de investimento e gestão de fortunas e património.

A equipa diz agora ter “provas fidedignas”, recolhidas através de gravações de conversas com pessoas que não sabiam estar a ser gravadas e que desconheciam a real identidade dos seus interlocutores. As conversas foram gravadas do princípio ao fim, nos casos “em que era permitido fazê-lo”, através de “múltiplos aparelhos de gravação”.

A informação foi transmitida aos agentes “de forma absolutamente voluntária”, sem que as pessoas tenham sido sujeitas a “qualquer pressão explícita ou implícita”.

As perguntas e respostas são orientadas para as relações entre Isabel dos Santos e o governo de João Lourenço. Entre os alvos dos espiões estiveram gestores da Sonangol, que desempenharam funções entre 2017 e 2019, e que sucederam a Isabel dos Santos na liderança da petrolífera.

Nas reuniões com um ex-gestor da Sonangol, os espiões garantem ter apurado que este, juntamente com outro gestor, planearam e executaram “a conspiração da ICC”, na qual se sustenta que houve um “conluio” entre a Sonangol e a Oi para afastar Isabel dos Santos da Unitel.

Outro dos escutados foi “um conceituado homem de negócios local”, familiar de uma alta figura angolana, com antigas ligações à Sonangol e ao aparelho de Estado, que “tem relações pessoais e de negócios próximas com altos quadros angolanos e ministros que, como foi apurado, estão diretamente envolvidos na conspiração da ICC e no processo contra Isabel dos Santos”.

Outro homem de negócios angolano “próximo da Presidência” “tem conhecimento pessoal e, como as informações recolhidas indicam, está bem ciente da conspiração ICC contra IDS [Isabel dos Santos]”.

Os espiões também ouviram um “conselheiro” do presidente angolano, que entendem ser o “responsável pela estratégia de media da administração angolana contra Isabel dos Santos”.

Por fim, o documento refere as conversas com o filho de um ministro angolano, que está, segundo os espiões, “muito envolvido na execução” da suposta campanha contra Isabel dos Santos.

Os espiões sustentam ainda que “a investigação e pesquisa exaustivas realizadas” permitiram reunir evidências credíveis de que o governo angolano se aproveitou “da arbitragem da Unitel na ICC para executar uma bem organizada conspiração, destinada a apoderar-se das ações de Isabel dos Santos (Vidatel) na Unitel”.

A equipa diz ainda que João Lourenço criou “uma task force governamental para implementar a sua estratégia contra Isabel dos Santos, usando os recursos do Estado angolano” e “o sistema judicial e serviços secretos angolanos”.

A Black Cube considera ter conseguido comprovar que esta campanha se destinou a “tomar controlo dos ativos” da empresária e “foi motivada por uma agenda política e uma vingança pessoal” contra a filha do ex-presidente.

Isabel dos Santos foi constituída arguida, em Angola, na sequência das revelações do caso Luanda Leaks. Foram revelados, no final de janeiro, mais de 715 mil ficheiros que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

Isabel dos Santos tem as suas contas bancárias em Portugal arrestadas pelo Ministério Público português, que respondeu ao pedido de cooperação das autoridades judiciais angolanas, que investigam Isabel dos Santos e o alegado desvio de fundos. O juiz Carlos Alexandre determinou o arresto de todos os bens de Isabel dos Santos, em Portugal, no âmbito do processo que corre na justiça de Angola.

ZAP //

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