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Serviços secretos angolanos deram ficheiros do Luanda Leaks a Rui Pinto

Mário Cruz / Lusa

Gravações secretas, citadas por advogados de Isabel dos Santos, dão conta de que os ficheiros sobre o caso Luanda Leaks foram entregues pelos serviços secretos angolanos a Rui Pinto.

Gravações secretas citadas por advogados de Isabel dos Santos num processo judicial em Londres, no Reino Unido, alegam que os ficheiros relativos ao caso Luanda Leaks foram entregues pelos serviços secretos angolanos ao pirata informático Rui Pinto.

Os documentos foram depositados na semana passada junto do Tribunal Comercial do Tribunal Superior de Londres no âmbito do processo judicial da empresa de telecomunicações Unitel contra a Unitel International Holdings (UIH), detida por Isabel dos Santos, para recuperar uma dívida de mais de 350 milhões de euros.

Nos documentos, consultados pela Lusa, os advogados dizem que usaram os serviços da agência de investigação privada israelita Black Cube para “expor os responsáveis das ações contra dos Santos e as suas motivações” e citam várias personalidade próximas da administração angolana.

“A investigação da Black Cube revelou que a nova administração é a fonte dos Luanda Leaks, tendo sido a orquestradora e executora do acesso ilegal dos servidores da Sra. Dos Santos, bem como dos seus associados e prestadores de serviços, incluindo escritórios de advocacia encarregados a favor dela”, lê-se.

Os investigadores citam como fonte Mirco Martins, enteado do ex-presidente da Sonangol, Manuel Vicente, que terá afirmado que “os documentos foram entregues pela nova administração angolana a um ‘português’ (Rui Pinto) por intermédio do então ministro angolano dos Negócios Estrangeiros, Manuel Augusto”.

Martins terá dito: “O nosso Serviço Secreto deu a informação… a MA (Manuel Augusto)” e “o Serviço Secreto deu aquilo para lixar a Isabel dos Santos“.

As acusações fazem parte de um documento com informações adicionais para contestar a acusação da Unitel, na qual os advogados do antigo presidente de Angola José Eduardo dos Santos alegam que Isabel dos Santos está a ser vítima de perseguição do Presidente João Lourenço.

As gravações citam também N’gunu Tiny, empresário angolano e advogado que trabalhou na sociedade CFA Advogados, escritório que representa a Sonangol, Inocêncio das Neves, sobrinho do porta-voz e assessor do Presidente Lourenço, Luís Fernando, Leandro Laborinho, filho do ministro do Interior, Eugénio César Laborinho, e o administrador da Sonangol Carlos Saturnino Guerra Sousa e Oliveira.

Segundo os advogados, a Black Cube foi inicialmente contratada para “investigar as circunstâncias que levaram ao resultado na Arbitragem ICC entre os acionistas da Unitel“, nos finais de 2017, e que depois foi “alargada para expor os responsáveis das ações contra dos Santos e as suas motivações”.

Questionada pela Lusa, uma advogada da empresária angolana disse que “as provas apresentadas ao Supremo Tribunal de Londres foram recolhidas por meios inteiramente legais” e que os procedimentos operacionais e metodologias foram feitos de acordo com a orientação dos assessores jurídicos.

“A Black Cube foi contratada devido à sua experiência na recolha e análise de informação, especificamente no apoio a processos judiciais e arbitragens de extraordinária complexidade e âmbito internacional”, disse Michelle Duncan.

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou em janeiro de 2020 mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham alegados esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.

De acordo com a investigação jornalística, da qual fazem parte em Portugal o jornal Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai, a Matter Business Solutions.

Rui Pinto está a ser julgado em Portugal no âmbito do caso Football Leaks, tendo sido acusado de crimes de acesso indevido, violação de correspondência e acesso ilegítimo visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR).

// Lusa

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