Uma comunidade de indígenas americanos severamente afetada pela pandemia de covid-19 recebeu uma série de doações do povo irlandês, que estão a retribuir um favor histórico de há 173 anos.
Em 1847, a nação indígena americana Choctaw enviou 170 dólares (que atualmente equivaleriam a dezenas de milhares de dólares) em ajuda humanitária ao povo irlandês, que tinha sido severamente afetado pela Grande Fome de 1845-1849.
A causa mais direta da fome foi uma doença provocada pelo oomiceto Phytophthora infestans, que contaminou em larguíssima escala as batatas em toda a Europa durante a década de 1840. Apesar de toda a Europa ter sido atingida, um terço de toda a população da Irlanda dependia unicamente de batatas para sobreviver.
A grande fome é recordada como a maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a I Guerra Mundial, com mais de um milhão de mortes na Irlanda a mais em relação ao expectável.
Agora, de acordo com o jornal britânico The Time, os irlandeses estão a retribuir o ato de boa vontade, doando fundos à nação Navajo, que foi severamente impactada pela covid-19, tendo registado pelo menos 2.373 casos e 73 mortes.
A nação Navajo tem uma das maiores taxas de infeção per capita nos Estados Unidos. Até 40% das pessoas não têm acesso à água corrente nas suas casas e 10% não têm eletricidade.
Uma campanha do GoFundMe para arrecadar fundos para alimentos e suprimentos médicos já atingiu 2,9 milhões dólares graças em grande parte aos doadores irlandeses, que assim procuram retribuir a atitude dos Navajo.
Acredita-se que, em 1847, a nação Choctaw ouviu falar da Grande Fome, relatada por um irlandês que supervisionava o deslocamento forçado de indígenas americanos.
Naquela época, os Choctaw estavam entre os 60 mil indígenas que tinham sido deslocados dos seus lares ancestrais. Apesar dos seus meios limitados, os Choctaw decidiram ajudar e enviaram parte dos seus fundos, que usavam para comprar alimentos, cobertores e rações para o gado, para a Irlanda.
Os irlandeses nunca esqueceram este gesto. Em 2017, no Bailick Park em Midlton, na Irlanda, foi instalada uma escultura de nove penas de águia, chamada Kindred Spirits [espíritos irmãos], em reconhecimento pelo gesto.
No ano seguinte, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, anunciou um programa de bolsas para jovens Choctaw, chamando ao relacionamento entre as duas comunidades “um vínculo sagrado que uniu os nossos povos desde sempre”. “O seu ato de bondade nunca foi e nunca será esquecido na Irlanda“, rematou.
Coronavírus / Covid-19
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Que gesto tão bonito! Isto sim, é Humanismo.
Uma acção de louvar, sem dúvida. E de salientar que o acto dos indígenas se deu após terem conhecimento através de um dos responsáveis pela movimentação forçada que lhes roubou as terras seculares.
Zap, sugiro “…ouviu falar da Grande Fome através de um irlandês que supervisionava…” em vez de “ouviu falar da Grande Fome de um irlandês que supervisionava…”
Parece-me que, apesar de ser aplicável, não é usual a utilização da palavra revelar nos actos de retirar cobertura de objecto artístico, sendo preferível descerrar ou apresentar.
Cumprimentos.
Carlo CarlosG,
Obrigado pelas suas sugestões.
Alterámos a primeira frase para usar o termo “relatada por”, e usámos “instalada” no segundo caso.