A Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) traçou dois cenários tendo em conta a atual situação epidemiológica, sendo que, segundo o mais “pessimista”, o país pode ter de se confrontar com um número inédito de internados nas enfermarias e unidades de cuidados intensivos do país: 7449.
A notícia é avançada pelo jornal Público que escreve que, a confirmar-se o cenário “pessimista”, este número representa um aumento de 63% face à realidade atual. Esta sexta-feira, o boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS) reportava 4560 camas ocupadas por doentes covid-19.
“Os dados são alarmantes, como era expectável dado o volume de casos [de infeção por SARS-CoV-2] reportados”, reagiu Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares.
Desta forma, no final da próxima semana, poderão estar em unidades de cuidados intensivos (UCI) 922 infetados, um número muito acima dos 622 desta sexta-feira.
Já o cenário “otimista” traçado pela APAH indica que, no final da próxima semana, serão necessárias cerca de 4500 camas em enfermaria e mais 700 em cuidados intensivos. O Público explica que o cenário “otimista” se baseia na redução de 2% do Rt, enquanto que o cenário “pessimista” se concentra no aumento de 2% do Rt.
Tendo em conta a atual evolução da pandemia, seriam precisos, no cenário “otimista”, mais de 10 mil profissionais de saúde pública, para fazer inquéritos epidemiológicos, realizar os primeiros contactos para vigilância ativa de suspeitos e infetados e os contactos subsequentes. Os dados da DGS indicam, lembra Alexandre Lourenço, que há cerca de 700 rastreadores.
O responsável admite que o cenário é “muito preocupante” e que na próxima semana “temos de fazer tudo para retirar dos hospitais doentes covid que não precisam de lá estar, que podem ser tratados noutras estruturas, caso não possam estar em casa”.
“Temos de fazer isto em larga escala. Usar estruturas das misericórdias, por exemplo, estruturas específicas para tratar doentes covid” e deixar nos hospitais aqueles que realmente precisam, disse Alexandre Lourenço, em declarações ao diário.
As estimativas da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares foram desenvolvidas com o contributo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública e da Global Intelligent Technologies (Glintt).
Casos não vão baixar dos 10 mil num mês
De acordo com o semanário Expresso, os especialistas estimam que o número de novas infeções cresça nas próximas duas semanas e só depois comece a diminuir. Isto significa que, daqui a um mês, mesmo como novo confinamento, a curva epidémica deverá estar ainda acima das 10 mil infeções por dia.
“As medidas que entraram agora em vigor só se vão fazer sentir nos próximos 5 a 7 dias. Se a desaceleração do número de casos tiver uma velocidade semelhante à que se registou em março, então poderemos estar com 14 mil contágios daqui a duas semanas e muito provavelmente ainda acima de dez mil quando terminar o período de um mês de confinamento”, indicou Carlos Antunes, matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
A ocupação dos hospitais é mais difícil de prever, mas o perito ressalva que “poderá rondar os 5000 internamentos e 800 camas em cuidados intensivos”.