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A imunidade de grupo é uma péssima ideia (e os cientistas explicam porquê)

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Manuel de Almeida / Lusa

Para controlar os efeitos da pandemia a melhor forma, e aconselhada por grande parte dos especialistas, é manter o distanciamento social. Há quem, no entanto, defenda a imunidade de grupo como solução, mas esta pode não ser a melhor ideia.

A imunidade de grupo é baseada na ideia de que, quando um número suficientemente elevado de pessoas supera a doença, a sua transmissão é interrompida. Isso supostamente ocorre porque cada paciente encontra um número menor de pessoas suscetíveis de serem infetadas, uma vez que muitas já estão imunes.

Essa estratégia tem sido discutida, mas não parece viável. Talvez por isso a maioria dos países esteja a optar como promover o distanciamento físico e as medidas de confinamento. A ideia de deixar a população “à solta” é uma hipótese que neste momento não está em cima da mesa em nenhum estado.

Ainda assim, e apesar das preocupações com a saúde pública crescerem, o que também se tem afirmado é o medo de haver um colapso na economia dos países. Por essa razão há pessoas que promovem novamente a imunidade de grupo .

Neste sentido, um grupo de especialistas publicou no início do mês de outubro a Great Barrington Declaration, na qual rejeitam as medidas de confinamento e distanciamento por estas serem demasiado pesadas a nível social e económico, defendendo assim que as pessoas deveriam “viver normalmente” até atingirem a imunidade de grupo.

No seguimento desta publicação, um outro grupo de especialistas respondeu ao que foi dito publicando o manifesto de John Snow, onde a imunidade de grupo é tida como uma má ideia.

De acordo com este manifesto, optar pela imunidade de grupo seria a mesma coisa que escolher deixar milhões de pessoas morrerem. Apesar da letalidade do SARS-CoV-2 não ser conhecida ao certo, as estimativas giram em torno de 0,6% das mortes por infetados.

Para além disso, iria haver um colapso nos sistemas de saúde devido ao elevado número de infetados que requerem hospitalização, o que implicaria que não só os pacientes com covid-19 iriam sofrer, mas também os doentes de outras patologias que não poderiam receber os cuidados necessários.

Por outro lado, os especialistas garantem que esta medida pode não ser melhor porque não se saberia se atingiríamos imunidade de grupo pois não há ainda certezas de como funciona a imunidade individual.

Era necessário que 60 a 70% da população ficasse imune ao mesmo tempo, para que a imunidade fosse alcançada. No entanto, ainda não se sabe como funciona a imunidade ou quanto tempo dura. Os anticorpos, que são a parte da resposta imune que mais estudamos, desaparecem após alguns meses, especialmente nos casos leves.

Como tem sido analisado nos últimos meses de pandemia, já houve registo de reinfeções o que pode ser um obstáculo intransponível para a obtenção de imunidade de grupo.

Uma outra questão é que a proteção direcionada neste sentido não é apenas eticamente discutível: também apresenta dificuldades técnicas. É extremamente difícil isolar os idosos e os grupos vulneráveis, pois dessa forma não poderiam receber visitas e não teriam qualquer tipo de acompanhamento.

Outra dificuldade é definir a população vulnerável. Muitos jovens, aparentemente sem patologias anteriores, sofreram casos graves de covid-19, e não há forma de identificar essa população de risco, pois pode ser qualquer pessoa.

O documento refere como ponto negativo o facto das estimativas de imunidade de grupo serem baseadas em modelos matemáticos discutíveis.  Normalmente, a imunidade é calculada como (1-1 / R₀) x100), onde R₀ é um novo conceito que surgiu durante a pandemia. Mas essas estimativas são baseadas em modelos simplificados que ignoram o papel dos super propagadores.

Estes aspetos parecem muito claros e apresentam fortes razões para a população não querer optar pela imunidade de grupo. Contudo, muitos países estão neste momento novamente confinados e muitos empregos voltaram a estar em risco.

Segundo o The Conversation, a angústia e o desejo de recuperar a normalidade são os fatores que mais pesam quando as pessoas dizem preferir a imunidade de grupo, em vez do isolamento social.

No entanto, segundo o manifesto, as consequências de deixar a pandemia evoluir de forma incontrolável seriam ainda mais devastadoras do que o efeito das atuais medidas.

ZAP //

12 Comments

    • Vou presumir que não estás a fazer uma pergunta retorico-provocatória, vou presumir que não sabes que a imunidade de grupo só se discute quando não há vacina, vou presumir que és só burrinha e não que achas que nós somos, e vou dar-me ao trabalho de te responder.
      As vacinas servem para que as pessoas não apanhem o vírus, e para que o vírus desapareça porque não arranja forma de se transmitir porque só encontra (maioritariamente) pessoas que não o podem apanhar porque estão vacinadas.
      E isso é um pouco diferente dessa “imunidade de grupo” de que tanto gostas, em que o vírus morre porque as pessoas, em vez de vacina, apanharam (maioritariamente) vírus.
      Já percebeste, ou queres que te faça um esquema?
      Pessoalmente, prefiro ficar imune por ter apanhado com uma vacina no braço do que com um vírus nas trombas. Infelizmente, o vírus anda por aí e da vacina nem sinal.
      O que também torna muito estranho que “as vacinas só existam para dar lucro”, e ao fim de um ano disto ainda não ter aparecido ninguém a reclamar o dinheiro.

  1. Os mesmos argumentos (de incertezas e possibilidades negativas) são válidos para todas as outras soluções, incluindo o confinamento e as vacinas.
    A solução de confinamento demonstrou, ao longo de todos esses meses, não solucionar nada, apenas achatar a curva, com enormes custos colaterais.
    O argumento de ´a saúde acima de tudo´ não se sustenta quando a solução inviabiliza a sobrevivência saudável pelos efeitos colaterais sobre a saúde psicológica, economia, cuidados com outras doenças e incapacidade dos Estados em financiar ad eternum o confinamento.
    Também parece claro que as estatísticas têm sido no mínimo duvidosas, atribuindo ao COVID19 mortes que teriam ocorrido por outras causas. Ter o vírus e morrer por causa do vírus é uma distinção que não tiveram até aqui o interesse em fazer.
    O confinamento, além de tudo, foi muitas vezes imposto quando não havia necessidade absoluta, causando um cansaço evitável nas populações e, por isso, uma incapacidade de sustentar esse confinamento nos momentos realmente necessários.
    Se os especialistas e políticos insistirem em não dosar o confinamento pelo medo de serem acusados de negligência, serão incapazes de sustentar o confinamento devido ao crescimento exponencial da resistência de segmentos importantes da população.
    Que não são estúpidos apenas por perceberem os riscos e soluções diferentemente. A humildade que deveria caracterizar a Ciência precisa respeitar um pouco mais os pensamentos divergentes.
    Grande parte dos defensores incondicionais do confinamento são apenas incapazes de analisar friamente o desconhecido e optam pela solução que os proteja de acusações.

  2. A mídia deveria evitar as manchetes que definem o que é certo ou errado numa situação em que a humildade CIENTÍFICA de saber que muito pouco sabemos impede certezas.
    A manchete desta matéria é um exemplo claro (e péssimo) – ” Grupos de cientistas afirmam que a imunidade é péssima ideia – entenda as afirmações” seria a manchete HONESTA.
    Como foi colocada, a manchete afirma que a imunidade é uma péssima ideia como se fosse uma verdade científica e afirma que OS CIENTISTAS explicam o porquê.
    Matérias opinativas devem ser colocadas como editoriais ou claramente separando a opinião do jornal dos fatos. Colocar a opinião (por maiores que sejam os títulos acadêmicos dos opinadores) como fato científico é mau jornalismo e um desserviço á sociedade.

    • Parabéns Daniel D. Araujo, pela coerência de pensamento,
      Concordo com tudo o que escreveu.
      Acrescento: se nem os especialistas se entendem, já que alguns são a favor e outros contra o confinamento e a imunidade de grupo, como ficamos nós, a população que não é especialista ?
      Em quem acreditar ? Quais atitudes tomar ?
      Abraços.

  3. Segundo o worldometer até agora morreram na suécia 6022 pessoas, que optou pela imunidade de gruop. Em Portugal morreram 2792. Mas somem-se aos nossos 2792 os milhares que morreram e vão continuar a morrer por falta de tratamento médico, os últimos números que vi eram mais do dobro. Some-se também a miséria causada pelo colapso económico, a violação grosseira dos direitos das crianças que crescem amedrontadas, sem direito a brincar, a um sorriso. Some-se todos os custos das medidas sem qualquer fundamento científico nem legal. Se a taxa de mortalidade fosse realmente elevada era diferente, mas sendo atualmente inferior à da gripe não se justificam as medidas tomadas, tal como nunca se fez isto por causa da gripe. Haja bom senso ou pode ser tarde se quisermos arrepiar caminho.

    • Em Portugal morreram 2792… E qual seria o número real se não houvessem medidas restritivas? Viu o caos que existiu nos serviços médicos em Itália, mesmo após medidas restritivas? Sabe o que seria uma população em fúria por não ter acesso a qualquer tipo de tratamento (por incapacidade de resposta dos serviços de saúde), onde os médicos teriam que escolher entre quem vive e quem morre? É fácil falar quando as coisas acontecem aos outros, mas quando calha a nós, cai o carmo e a trindade…
      Tivessem todos seguido à risca as medidas restritivas e de higiene, menos possibilidade de transmissão teria o virus. Exemplo recente: Formula 1 no Algarve… é assim que querem travar uma pandemia? O ditado já é velho, às vezes é preciso dar dois passos atrás para seguir em frente…

  4. Mas o facto de uns morrerem com covid não invalida as outras mortes por outras estirpes de vírus da gripe A, B ou C, ou não é? Parece-me que o uso de máscara irá diminuir bastante os casos de gripe vulgar-

  5. não se fala em mutações. A imunidade de grupo é mesmo uma má ideia e não há nenhum sistema de saúde que aguenta isso. É bom para médicos e enfermeiros que vão poder trabalhar nos países do Norte com ordenados de futebolista

  6. A imunidade de grupo só poderá existir se as pessoas que ficaram doentes ficassem depois imunes. Mas parece que já há vários casos de reinfecção, pelo que a imunidade de grupo deixa de ser uma estratégia na luta contra esta doença.

  7. Haverá q pesar bem as medidas pois elas também têm consequências mortais, sofrimento e penas brutais como a perca da liberdade de circulação, a fome, a degradação da assistência mèdica e outras essenciais, o aumento da miséria entre outras.
    O confinamento de quem tem já pouco tempo de vida é evidentemente uma medida excessiva da maior violência .
    Isolar sem olhar ás consequências pode reduzir temporariamente o aumento dos casos mas arasta no tempo as mortes e miserias causadas pelas medidas excessivas, e vai aumentar e prolongar todas as outras misérias incluindo as mortes por elas causadas devido às dificuldades e aos consequentes maus tratos infligidos por estas imposições.
    De notar q apenas me refiro às imposições q limitam ou impedem a circulação e não ás q lògicamente devem ser as regras de protecção individual e colectiva onde se defende q sejamos mais rigorosos no seu cumprimento e nao se permitam tantos casos de violações constantes destas regras como nos transportes, e em todas as outras onde hà ajuntamentos em ambientes q favorecem a propagação.
    Os confinamentos geram mais mortes e misérias se prolongados no tempo.

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