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Quando o tempo aquece, muitos de nós recorrem a um bom duche frio para ajudar a refrescar. Mas a sensação de alívio, na realidade, poderá não estar a ajudar o corpo a arrefecer.
A temperatura ideal do nosso corpo ronda os 37°C. Esta temperatura garante que os sistemas do organismo funcionem corretamente. Mas quando o núcleo do corpo aquece demasiado, o centro regulador da temperatura no cérebro começa a enviar sinais nervosos para os vasos sanguíneos e músculos na pele ou próximos dela — indicando-lhes que devem ativar os mecanismos de arrefecimento.
Se o núcleo do corpo se mantiver demasiado quente durante muito tempo (cerca de 39-40°C), podem registar-se danos nos órgãos. Paara garantir que a temperatura se mantém ideal, o corpo recorre a várias técnicas para se arrefecer.
Por exemplo, o corpo liberta calor para o ambiente através de radiação eletromagnética (térmica). Cerca de 60% do calor corporal perde-se desta forma. A transpiração é outro mecanismo utilizado pelo corpo. Aproximadamente 22% do calor corporal perde-se assim.
No entanto, quando a temperatura do ar à nossa volta excede a temperatura do corpo, a transpiração torna-se o principal mecanismo para reduzir a temperatura do núcleo. Qualquer calor residual do corpo é depois dissipado através de uma combinação de convecção para o ar ou líquido com que o corpo possa estar em contacto e condução para os objetos sólidos com que o corpo esteja em contacto.
Para apoiar estes mecanismos, os vasos sanguíneos alteram o diâmetro. Os mais próximos da pele dilatam-se (alargam-se) para permitir a passagem de mais sangue e, assim, aproximar-se da superfície relativamente mais fresca da pele.
O corpo trabalha então para fazer circular o sangue de forma a que o calor interno seja transferido para a periferia e possa ser dissipado. Da mesma forma, os pelos da pele mantêm-se achatados para permitir que o ar junto ao corpo arrefeça e seja substituído, ajudando a dissipar o calor.
Duche frio?
Claro que, quando o tempo está muito quente, ficamos com a ideia de que estes mecanismos não são suficientes.
Embora mergulhar num banho ou duche frio logo após estar exposto ao calor possa parecer agradável para a pele, na verdade não está a fazer o necessário para reduzir a temperatura do núcleo do corpo — e pode até ser arriscado para algumas pessoas.
Quando exposto ao frio, os vasos sanguíneos próximos da pele contraem-se — reduzindo o fluxo sanguíneo nessas zonas. Por isso, no contexto de arrefecer o corpo, entrar num duche frio faz o oposto do que é necessário, pois menos sangue flui para a superfície da pele. Isto faz com que o calor se mantenha dentro e à volta dos órgãos, em vez de ser eliminado.
Basicamente, estamos a enganar o corpo, dando-lhe a ideia de que não precisa de se arrefecer, mas sim de conservar calor.
E, dependendo de quão fria está a água, a exposição súbita pode até desencadear consequências perigosas para algumas pessoas.
A exposição a água a 15°C pode desencadear a resposta de choque pelo frio. Isto faz com que os vasos sanguíneos na pele (os que estão em contacto com a água fria) se contraiam rapidamente. Isso aumenta a pressão arterial, pois o coração passa a bombear contra uma maior resistência.
Esta resposta pode ser particularmente perigosa em pessoas com doenças cardíacas subjacentes, como a doença coronária. A resposta de choque pelo frio pode também causar arritmia e até morte quando se passa de um ambiente muito quente para água fria.
Felizmente, estes acontecimentos são raros — e provavelmente não acontecerão se estiver apenas a tomar um duche ou banho frio em casa. Mas por esta razão, talvez seja melhor evitar um mergulho em água gelada ou um banho de gelo num dia quente.
Tomar um duche quente também não é boa ideia num dia quente. Embora às vezes se diga que um duche quente ajuda o corpo a arrefecer mais depressa, infelizmente isso não é verdade. A água mais quente do que o corpo vai transferir energia na forma de calor para o organismo. Isto impede novamente o corpo de se libertar do calor — aumentando potencialmente a temperatura do núcleo.
Num dia quente, o ideal será um banho ou duche morno ou tépido — as evidências sugerem que 26-27°C são mais eficazes. Isto ajuda a trazer o sangue à superfície para arrefecer, sem ser frio ao ponto de fazer o corpo pensar que precisa de conservar o calor.
Outro motivo para evitar um duche frio num dia quente é que poderá não o ajudar a ficar limpo. Quando temos calor, transpiramos — e essa transpiração mistura-se com o sebo (outra substância da pele) e com as bactérias presentes na pele, o que origina o odor corporal. Sabe-se que a água fria é menos eficaz na remoção e degradação dos resíduos da pele, em comparação com a água morna, o que significa que o odor corporal poderá persistir.
A água fria também faz com que a pele se contraia, o que poderá potencialmente aprisionar a sujidade nos poros e pode levar ao aparecimento de pontos negros, pontos brancos e acne. Já a água morna ou tépida pode ajudar a dissolver e a soltar o material nos poros.
Ao planear a sua fuga e recuperação do calor, um duche ou banho morno ou fresco, em vez de um duche frio, é uma escolha mais segura e eficaz.
De igual forma, se sentir necessidade de arrefecer ainda mais, faça-o de forma gradual para não causar um choque ao sistema automático de regulação da temperatura do corpo. Reduzir gradualmente a temperatura da água, se quiser tomar um duche mais frio, ou mergulhar um membro de cada vez pode ajudar neste processo.