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A guerra na Ucrânia ameaça mergulhar a Europa na estagflação. O que é que isto significa?

A subida nos preços da energia pode ter um efeito bola de neve e causar fazer disparar os preços de todos os outros produtos. Aliada ao desemprego e um reduzido crescimento económico, a inflação leva à estagflação.

Ainda antes do início da guerra na Ucrânia, o cenário já era temido, especialmente com as elevadas taxas de inflação que se registaram logo no início do ano e que levaram a que o Banco Central Europeu revisse em alta as taxas de juro. Mas afinal, o que é a estagflação?

Este fenómeno ocorre quando se atravessa um período de elevada inflação, como o que estamos a viver agora, ao mesmo tempo que a economia estagna ou entra em recessão, com taxas de desemprego elevadas.

O cenário já se verificou no final dos anos 70 e no início da década de 80 — com o boicote da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aos países do Ocidente, que fez disparar os preços do petróleo — e pode voltar a repetir-se com o efeito de bola de neve causado pelas sanções impostas à Rússia, cujo impacto já de está a sentir nos preços da energia.

Mário Centeno já deixou avisos no início da semana sobre a possibilidade da Europa entrar neste ciclo. “Um cenário próximo da estagflação não está fora das possibilidades que podemos enfrentar“, alertou o governador do Banco de Portugal, aconselhando os responsáveis portugueses e europeus a preparem-se.

“A coisa mais importante é estarmos preparados e disponíveis para salvaguardar a estabilidade financeira”, afirmou o antigo Ministro das Finanças, que acredita que tudo depende da duração do conflito e da resposta “mais ou menos concertada” que a Europa decidir dar.

A Comissão Europeia também já está atenta e acredita que o cenário mais provável, pelo menos por enquanto, é apenas uma desaceleração das economias e não propriamente uma recessão, visto que os PIBs europeus estão ainda numa trajectória de crescimento devido à recuperação do impacto da pandemia.

Paolo Gentiloni, comissário europeu da economia, já avisou que para além da subida dos preços da energia, o efeito na confiança dos consumidores e empresários também não se pode negligenciar.

Isto acontece porque a estagflação funciona quase como uma profecia que se auto-concretiza, ou seja, os empresários e consumidores receiam que venha aí uma crise e começam a mais cautelosos e contidos nos investimentos e compras que fazem — algo que, por si só, pode levar à tão temida recessão.

O Ministro das Finanças também já avançou que as autoridades europeias estão a rever as previsões em baixa e que Portugal não é excepção, mas João Leão assegura que o nosso país vai ser um dos menos afectados.

Já Vítor Constâncio, antigo presidente do Banco Central Europeu e ex-governador do Banco de Portugal, considera que a possibilidade de estagflação é remota e também acredita que Portugal não vai ser dos mais afectados pela guerra na Ucrânia.

“A possibilidade de uma situação de estagflação, entendida como a simultaneidade de uma recessão e de inflação mais alta, é por enquanto remota no que respeita a uma recessão”, refere em declarações por escrito ao ECO.

Constâncio explica que o disparo nos preços da energia vai causar inflação e reduzir o poder de compra das famílias, causando uma quebra no crescimento na economia.

Mas mesmo que este cenário leve a uma redução de 1,5 pontos percentuais no crescimento da economia na zona euro, esta manteria uma “progressão da atividade económica de cerca de 2% a 2,5%”, escapando assim à recessão.

António Ascenção Costa, um dos economistas ouvidos pelo ECO, acredita que este cenário é agora possível devido ao impacto “potencialmente prolongado” da subida dos preços da energia, que leva a uma inflação geral.

Há ainda questões sobre o mercado de trabalho e sobre a “procura turística externa a maior prazo” já que a nossa economia se baseia bastante neste sector.

Já João Borges de Assunção acredita que “os ventos são muito adversos”, mas realça que é “ainda cedo para avaliar de onde virão os principais problemas para a economia portuguesa”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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