A inflação que hoje se vive também é culpa do aquecimento global. De há cerca de duas décadas para cá, a subida do preço dos alimentos tem coincidido com a subida das temperaturas.
A Guerra na Ucrânia não é a única responsável pela crise económica que a Europa e o Mundo têm vivido nos últimos dois anos.
Desde o início deste século, o custo dos alimentos tem vindo a subir. Ora, este é um fenómeno que começou muito antes da invasão da Rússia à Ucrânia, mas que está em linha com o aumento descontrolado das temperaturas.
O relatório do Índice de Preços dos Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura indica, precisamente, que o custo dos alimentos caiu entre 1960 e 2000, mas que sobe deste então.
Esta quinta-feira, foi publicado um estudo, no Communications Earth & Environment, que associa o preço dos alimentos com o aquecimento global.
O mesmo estudo, que contou com a colaboração do Banco Central Europeu (BCE), alerta que o crescente aumento das temperaturas fará com que o preço dos alimentos continue a subir nas próximas décadas; sublinhando que é urgente que os agricultores se adaptem à nova realidade ambiental.
O líder da investigação, Maximilian Kotz, do Instituto de Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, na Alemanha, reitera a necessidade de mudança de paradigmas e está pessimista, denunciando falta de estratégias para lidar com o aumento das temperaturas.
De acordo com o estudo, no pior cenário, a inflação global dos alimentos poderá exceder 4% por ano até 2060.
No entanto, devido à variedade de fatores que, até lá, poderão influenciar a economia a equipa aconselha o seguimento das projeções para 2035. Detalhadas pela New Scientist, as projeções para esse ano preveem que as temperaturas elevadas levem os preços mundiais dos alimentos entre 0,9% e 3,2% todos os anos. Isso adicionará entre 0,3% e 1,2% à inflação geral.
A crescente e incontrolável inflação dos alimentos ameaça, deste modo, o objetivo do BCE de manter a inflação nos 2%.
Outro fator de preocupação, para os especialistas, é “bastar um choque” para que os preços se mantenham altos o resto do ano.
Há cada vez mais “choques”
As temperaturas – cada vez mais extremas – afetam, desde há mais de 20 anos, toda a produção/cadeia/economia alimentar.
O estudo baseou-se em dados sobre os preços mensais de uma gama de bens e serviços em 121 países entre 1996 e 2021, juntamente com as condições meteorológicas a que esses países estavam expostos.
Os investigadores conseguiram encontrar ligações entre fatores como a temperatura média mensal, a variabilidade da temperatura e medidas de seca e chuvas extremas, e os preços dos alimentos nos meses seguintes.
No entanto, o estudo revelou que, por exemplo, as chuvas extremas têm menos impacto nos preços dos alimentos do que as temperaturas extremas – o que pode ser explicado pelo facto de as inundações tenderem a ser localizadas; ao passo que temperaturas acima da média são mais generalizadas.