Portugal continua em crise energética com a greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias a decorrer pelo quarto dia consecutivo. Neste dia feriado, chegou a haver a expectativa de uma reunião entre grevistas e patronato, mas o braço-de-ferro mantém-se sem diálogo à vista.
O porta-voz do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques, desafiou a Antram (Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias) para uma reunião às 15 horas desta quinta-feira, mas a associação que reúne as empresas de transportes recusou, alegando que não negoceia enquanto durar a greve.
“Não podemos, infelizmente, reunir com a espada na cabeça, negociamos de uma forma franca e presencial, mas não sob ameaça de greve”, afiança Pedro Polónio, um dos vice-presidentes da Antram. Estas declarações foram prestadas depois de a Antram ter acordado com a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), afecta à CGTP, um acordo relativo ao contracto colectivo de trabalho, com a mediação do Ministério das Infraestruturas e da Habitação.
O primeiro-ministro já saudou “vivamente o acordo alcançado entre a Fectrans e a Antram”, reforçando que imperou “o bom senso e o diálogo” e sublinhando que espera que “seja um exemplo seguido por outros”.
O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, também disse que “o tempo da greve acabou” e que as partes se devem “sentar e negociar”, frisando o desejo do Governo de que a paralisação “termine o mais depressa possível”.
Acordo feito “à revelia” dos motoristas
Todavia, o regresso às negociações não parece estar para breve. Pardal Henriques já veio dizer que o acordo entre a Antram e a Fectrans foi “assinado à revelia de tudo aquilo que os motoristas pretendiam”.
“O país está em estado de crise energética porque os motoristas têm-se revoltado e têm reclamado condições que não são aquelas que estão no acordo, e a Antram e a Fectrans resolveram celebrar um acordo contra a vontade dos motoristas“, destacou o porta-voz do SNMMP.
Pardal Henriques também realçou que os motoristas vão reunir-se para “conversar e redefinir estratégias para os próximos passos nesta batalha que está ganha“.
“O país já percebeu que existem forças muito grandes a lutar contra estas pessoas que andam há 20 anos a lutar”, destacou ainda o advogado denunciando que houve motoristas detidos.
“Houve pessoas detidas. Chegaram a casa, foram detidas, colocadas dentro do veículo das autoridades por instruções de alguém, para serem apresentadas nas instalações da empresa. A pessoa pediu para não fazer aquele serviço naquele dia, porque estava há 24 horas a trabalhar com o sistema nervoso alterado, e a resposta foi ‘ou vai trabalhar ou é detido e vai ser levado para a esquadra’”, relatou Pardal Henriques conforme cita a Renascença.
A GNR já veio desmentir estas alegações, garantindo que nenhum motorista em greve está detido e que quatro trabalhadores apresentaram-se “voluntariamente” para cumprir o serviço, depois de terem sido notificados de que, não comparecerem no local de trabalho, constituía crime de desobediência.
Esquadras encerradas com polícias como motoristas
Para fazer face à greve e assegurar o abastecimento de combustível, a GNR e a PSP estão a assegurar o transporte de camiões-cisterna no âmbito da crise energética declarada pelo Governo.
A continuidade da paralisação está a deixar as forças da ordem “numa situação de limite”, como lamenta o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, em declarações à TSF.
“Algumas esquadras, em alguns períodos do dia, encerram por falta de efectivos“, garante Paulo Rodrigues, frisando que isto “está a acontecer na zona Sul, mas também na zona Norte”. Como exemplos dá as esquadras de Ermesinde e de Alhandra.
“O efectivo está tão reduzido, tão limitado, que qualquer evento” para lá da rotina diária “obriga a um esforço considerável“, destaca o presidente da entidade sindical.
Paulo Rodrigues nota que os agentes também têm que escoltar os motoristas que cumprem os serviços mínimos e assegurar a segurança nas zonas dos piquetes de greve, concluindo que “os polícias estão exaustos”.
“Isto é sacrificante. Trabalhar 24 horas seguidas não é propriamente algo fácil, e ainda por cima estamos a trabalhar a custo zero“, acrescenta o líder sindical, realçando que “por fazerem, durante a semana, mais de 70 horas [de trabalho], os polícias vão receber como se estivessem a trabalhar 36 horas”.
“Começa a ser muito difícil e, neste ritmo, não sei até que ponto a polícia consegue manter os níveis de resposta em matéria de segurança”, conclui Paulo Rodrigues.
ZAP // Lusa