Governo “não sabe que o leite não vem do pacote”: Agricultores voltam a paralisar país

“O nosso fim é a vossa fome”. Os agricultores estão descontentes com o Governo e voltam a paralisar país, esta sexta-feira. O objetivo é que o protesto perdure, até que a ministra da Agricultura fale com os agricultores.

Ao início desta manhã, os acessos à Ponte Vasco da Gama, que liga Alcochete a Lisboa, estavam condicionados no sentido Sul-Norte, devido a uma concentração de agricultores em protesto, nas zonas de Alcochete, Montijo e Moita.

Com o passar das horas, a circulação na Ponte Vasco da Gama e os seus acessos voltou a fazer-se com normalidade, havendo, por volta das 09h00, apenas constrangimentos na A33, que liga o Monte da Caparica a Alcochete.

Naquele local, esta manhã, em declarações à Antena 1, um dos manifestantes queixou-se de que a sua classe não era valorizada pela sociedade nem pelos governantes – que não entendem a importância do seu trabalho.

“As pessoas têm de compreender que o leite não vem do pacote e a carne da prateleira do supermercado. Quem pensa assim devia passar um mês numa exploração para ver o que é custa a vida de um agricultor“, disse Daniel Gonçalves, dono de uma empresa de máquinas agrícolas.

“É fácil ter dinheiro no bolso e ir lá comprar, mas ninguém dá valor aos agricultores”, acrescentou.

De acordo com o capitão João Lourenço, das Relações Públicas da Guarda Nacional Republicana (GNR), os principais constrangimentos registaram-se, então, na A33, devido à marcha lenta e aglomerado de agricultores, que começou às 06h00.

De acordo com a GNR, por volta das 08h15, a Estrada Nacional 260 (EN260), junto à fronteira de Vila Verde de Ficalho, e a Estrada Municipal 520, em Paimogo, no distrito de Beja, estavam bloqueadas pelos agricultores.

Centro de Coimbra condicionado

Também em Coimbra, os agricultores adotaram, esta sexta-feira, novas formas de protesto, designadamente buzinões e marcha lenta na Baixa da cidade.

“Só saímos daqui quando tivermos uma resposta às nossas reivindicações”, disse à agência Lusa um dos dinamizadores da manifestação, Carlos Plácido.

O agricultor, que tem explorações agrícolas nos concelhos de Coimbra e Montemor-o-Velho, no Baixo Mondego, adiantou que se mantiveram durante a noite na avenida Fernão de Magalhães cerca de 250 tratores e outros veículos.

Às 09h00, a circulação na avenida Fernão de Magalhães estava cortada entre a rotunda da rodoviária e a rotunda da Cindazunda nos dois sentidos – ficando apenas possível a circulação para veículos de emergência e de socorro.

O que reivindicam os agricultores?

Na quarta-feira, os agricultores prometeram paralisar o país, reclamando o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.

E cumpriram. Esta quinta-feira, importantes vias de norte a sul do país foram paralisadas, incluindo fronteiras, com alguns dos movimentos a começarem a desmobilizar à noite, após garantias sobre os apoios anunciados pelo Governo.

O protesto foi organizado pelo Movimento Civil de Agricultores – juntando-se às manifestações que têm ocorrido noutros pontos da Europa – e é expectável que dure até que os agricultores consigam falar com a ministra da Agricultura.

Na quarta-feira, o Governo avançou com um pacote de ajuda aos agricultores, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que não travou os protestos, de Norte a Sul.

Segundo a informação disponibilizada quinta-feira à Lusa, a maior parte das medidas que integra o pacote de apoio entra em vigor ainda este mês, com exceção das que estão dependentes de ‘luz verde’ de Bruxelas.

No contexto europeu, a Comissão Europeia vai preparar ,com a presidência semestral belga do Conselho da UE, uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos ministros da Agricultura dos 27 Estados-membros do bloco europeu no próximo dia 26 de fevereiro.