Miguel A. Lopes / LUSA

Acidente no Elevador da Glória, Lisboa
Câmara vai apoiar vítimas e criar um portal da transparência. Incidente há 7 anos não originou relatório, mas foi registado em três documentos.
A Câmara de Lisboa aprovou nesta segunda-feira propostas da liderança PSD/CDS-PP, do PS e do PCP quanto a medidas em resposta ao acidente com o elevador da Glória, desde o apoio às vítimas à criação de um portal da transparência.
As propostas foram aprovadas de forma “quase unânime ou unânime em muitos casos” na reunião extraordinária da câmara, indicou o vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), referindo que houve um esforço de consensualização dos três documentos num único, mas não foi possível, tendo o executivo votado cada um deles.
O elevador da Glória, sob gestão da Carris, descarrilou na quarta-feira à tarde, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
Em declarações aos jornalistas no final da reunião, Anacoreta Correia destacou a homenagem a todos os envolvidos no acidente, em particular o guarda-freio, que foi “um verdadeiro herói, que morreu em serviço”, e as medidas de apoio às vítimas.
“Do ponto de vista da informação, uma vontade muito grande em disponibilizar toda a informação”, indicou o vice-presidente, destacando a criação de um portal da transparência, que fique ao dispor de todas as pessoas.
“Ninguém está a lidar com isto à defesa ou com preocupação de ser posto em causa. Nós queremos que toda a informação seja do conhecimento público, independentemente das consequências”, indicou, referindo que “da parte da administração da Carris há uma vontade muito grande de esclarecer cabalmente esta tragédia, este acontecimento que não podia ter acontecido”.
Anacoreta Correia disse ainda que a segurança está no topo das preocupações: “Em todas as decisões que tivemos, a segurança foi sempre absolutamente decisiva e no futuro será seguramente também a segurança que se imporá a qualquer outro tipo de critérios, portanto não haverá qualquer tipo de limites nem ideológicos nem financeiros para que seja de novo reposta a confiança no transporte coletivo de passageiros da Carris na cidade de Lisboa”.
Do PS, Pedro Anastácio congratulou-se com a aprovação da proposta da vereação socialista de “apoio às vítimas, esclarecimento cabal e restituição da confiança no futuro da cidade”, lamentando que a ideia de voltar a ouvir o presidente da Carris tenha sido aprovada com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP.
A proposta do PS inclui a criação de um memorial na Calçada da Glória e de um Gabinete Municipal de Apoio às Vítimas e um Fundo Municipal de Apoio às Vítimas, assim como um painel público de acompanhamento no portal da Câmara de Lisboa e uma comissão externa de auditoria, que inclua, obrigatoriamente, as universidades.
O socialista acusou ainda o presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), de “tentar se esconder num dos momentos mais negros da história da cidade”, ao não prestar declarações aos jornalistas, remetendo para o vice-presidente.
O vereador do PCP João Ferreira enalteceu a aprovação integral da sua proposta e por unanimidade, realçando o apoio às vítimas e seus familiares e a criação de uma comissão de avaliação para o início da internalização dos serviços de manutenção por parte da Carris.
Valorizando a aprovação das medidas, o comunista avisou que “as coisas não podem ficar no papel como tantas vezes acontece”.
Incidente de 2018 registado
O incidente com o elevador da Glória em 7 de maio de 2018 “não deu origem a qualquer relatório”, mas foi registado em três documentos distintos, informou a Carris.
Em resposta à Lusa, “após levantamento do histórico”, a empresa que gere os elevadores e ascensores de Lisboa, tutelada pela câmara municipal, refere que “foi possível apurar” que a CIAG (Comissão de Investigação de Acidentes Graves) não elaborou um relatório a propósito do incidente com um equipamento que saiu dos carris em 7 de maio.
Porém, o incidente ficou registado, como o comprovam os três documentos que a Carris enviou à Lusa – informações e diligências, registo de acidente/incidente e ficha de ocorrência –, todos com data de 7 de maio de 2018.
O anterior executivo da Câmara Municipal de Lisboa foi informado do descarrilamento de 2018 no elevador da Glória, bem como da decisão da Carris de responder com a suspensão do equipamento e a antecipação da manutenção geral.
“A Carris na altura informou-nos que tinha existido um descarrilamento, mas não se tinha registado nenhum incidente com os passageiros e que tinha decidido, como já estava programada uma grande manutenção para esse ano, suspender o elevador e antecipar essa operação”, disse hoje à Lusa o vereador com a tutela da Carris e dos transportes no executivo liderado pelo socialista Fernando Medina, em funções na altura.
ZAP // Lusa
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