Governo muda de estratégia para “anestesiar o país e a oposição”

António Cotrim / Lusa

O conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes

O comentador Luís Marques Mendes acredita que o primeiro-ministro, António Costa, está a ajustar a estratégia depois do embate com as sondagens menos positivas, com o PS a mudar a estratégia na comunicação e no combate político.

De acordo com o social-democrata, o Governo mudou de postura por receio de uma eventual hecatombe nas próximas eleições europeias, agendadas para maio de 2024.

No seu habitual espaço de comentário, na SIC, disse que “este Governo passou as passas do Algarve” e que foi obrigado a reagir. “[O Executivo] não tinha iniciativa política. Nas últimas semanas, nota-se uma mudança. O Governo quer marcar agenda”, declarou.

Na sua opinião, os elementos do Governo – João Gomes Cravinho, João Costa e Costa – vinham demonstrado uma “grande sobranceria e arrogância” na forma como comunicavam e geriam os dossiês. Nos últimos tempos houve uma mudança. “É uma tentativa de anestesiar o país e a oposição”, disse.

Para Marques Mendes, houve também mudanças na forma como o Governo dialoga com a oposição. “O PS passou a ser mais violento nos ataques a Montenegro e ao PSD. O Governo, Costa e PS estão preocupados com as sondagens e o cenário de eleições antecipadas”, insistiu.

“A partir do momento em que caiu nas sondagens, os socialistas passaram a atacar a sério o PSD: o caso emblemático foi o da TAP. O PS veio ressuscitar a privatização feita em 2015 e uma eventual negociata em seu redor. Tudo para embaraçar Luís Montenegro”, considerou.

Ainda assim, o antigo líder social-democrata não está muito convicto de que a nova estratégia de Costa venha a produzir resultados. “As pessoas estão cansadas de sete anos de poder”, rematou.

“São muitos anos de poder. Já sucedeu o mesmo no fim do cavaquismo e do guterrismo. Uma coisa, porém, é certa: o Governo pode estar em dificuldades, mas não deita a toalha ao chão”, sublinhou.

Relativamente aos salários, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), notou que a “quebra real dos salários no setor público foi, em média, de 7,2%. No setor privado foi de 4,2%. Uma enormidade. Esta perda maior no Estado não surpreende: o aumento salarial foi de apenas 0,9% em 2022”.

“O poder de compra dos salários baixou para os níveis de 2018. O salário médio real, em termos brutos, no último trimestre de 2018, estava nos 1.322 euros. No último trimestre de 2022, ficou-se pelos 1.334 euros, praticamente igual. São quatro anos perdidos”, frisou.

E continuou: “o ano de 2023 pode ser ligeiramente melhor que 2022: por um lado, há a expectativa que a inflação baixe ao longo do ano; por outro lado, os aumentos salariais em 2023, apesar de insuficientes, são maiores do que no ano passado”.

Quanto ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), disse que não tem dúvida que Portugal vai aplicá-lo “euro a euro, cêntimo a cêntimo”. “Não vamos desperdiçar recursos. Somos maus a planear, mas em “estado de necessidade” temos uma capacidade enorme de “desenrascar””.

Sobre o sismo na Turquia e na Síria, indicou que a “calamidade desperta a solidariedade”. No caso da Turquia, “até países com más relações com o regime turco – como a Arménia ou a Suécia – não perderam tempo a expressar o seu apoio”.

“Portugal esteve muito bem ao enviar para a Turquia uma missão de apoio. Como também para o Chile, país que está confrontado com uma catástrofe de incêndios florestais. Há uma boa lição a tirar: em matéria de cooperação internacional, neste tipo de calamidades, faz todo o sentido termos uma força rápida de intervenção capaz de ser mobilizada em 24 horas”, referiu.

ZAP //

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