Um relatório que o Governo PSD/CDS e o actual Governo PS decidiram manter secreto aponta falhas graves na morte de vários bombeiros, durante o ano de 2013. As lacunas são a vários níveis, da formação aos equipamentos, passando pela desobediência às ordens.
Este relatório intitulado “Os grandes incêndios florestais e os acidentes mortais ocorridos em 2013” é divulgado, esta quarta-feira, pelo Jornal de Notícias.
O diário atesta que o documento revela “lacunas na formação, desobediências “que não são toleráveis” no teatro das operações, falta de coesão e de comunicação e o não uso de equipamentos de protecção no combate aos fogos”.
Encomendado a especialistas do departamento de Engenheira Mecânica da Universidade de Coimbra, o relatório surgiu no âmbito dos grandes incêndios, ocorridos em 2013, na serra do Caramulo, que causaram a morte a nove pessoas, entre as quais oito bombeiros.
Este documento esteve nas mãos de responsáveis do anterior Governo e também do actual, mas nenhum dos Executivos o tornou público, provavelmente pelas duras críticas que aponta à actuação dos bombeiros.
O relatório conclui que parte das culpas pelas mortes é dos próprios bombeiros, nomeadamente por não terem conhecimento suficiente para avaliarem como o fogo evoluirá, em função da movimentação do vento.
Avaliando o caso concreto de um incêndio em Tondela, a 29 de Agosto de 2013, que tirou a vida a dois bombeiros, os especialistas da UC consideram que houve “uma clara subestimação das condições de propagação que o fogo podia adquirir” por parte dos bombeiros, cita o JN.
No relatório, ainda se destaca que a corporação dos dois bombeiros que morreram não obedeceu a uma ordem de retirada, comunicada repetidamente pelo comandante via rádio.
Noutro incêndio, ocorrido alguns dias antes, também na zona de Tondela, e onde morreram outros dois bombeiros, os especialista da UC apontam o dedo ao equipamento dos operacionais, sublinhando que as solas das botas derreteram e que isso os forçou a fugirem do local de gatas.
Além disso, o relatório constata que os bombeiros estavam há várias horas sem comer e que se refugiaram do fogo numa zona já queimada, procedimento a evitar por causa do risco de reacendimento (como veio a acontecer).
A primeira parte deste relatório foi divulgada logo em 2013, mas esta segunda parte, agora reportada pelo JN, nunca chegou a ser publicada.
O então ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, disse, na altura, que era preciso fazer uma “ponderação muito bem feita” sobre essa divulgação, considerando as “consequências” das conclusões aí expressas.
ZAP