Resumo do que aconteceu na AR: o Governo só dura até Outubro

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José Sena Goulão / LUSA

André Ventura e Luís Montenegro no Parlamento

PSD deparou-se com uma crise logo no primeiro dia da legislatura, PS deu a ideia de ser o adulto na sala, Chega mostrou ao que vem.

Já se esperava que a XVI Legislatura fosse agitada – mas poucos esperariam que a agitação chegasse logo no primeiro dia.

Ainda antes, na segunda-feira, André Ventura anunciou que o Chega ia viabilizar a escolha do PSD para presidente da Assembleia da República. Ou seja, Aguiar-Branco seria escolhido à primeira para o cargo.

Não foi. Na primeira eleição, conseguiu 89 votos quando eram precisos 116. Horas depois, segunda eleição, aí com concorrência (Francisco Assis e Manuela Tender), até perdeu 88-90 para Assis. Quer na primeira volta, quer na segunda volta.

A “novela” prolongou-se para o dia seguinte e, após horas de reunião entre PSD e PS, chegou-se a um entendimento: presidência rotativa na Assembleia da República – que, afinal, nem é a primeira vez que se verifica em Portugal.

Este impasse vai ser “o novo normal” no Parlamento, avisa Miguel Santos Carrapatoso, jornalista e especialista em política.

Reacções dos partidos: Pedro Nuno Santos apareceu para passar a ideia de que o PS foi uma espécie de adulto na sala e apresentou esta ideia de presidência rotativa para acabar com o impasse. Mas também ficou a ideia de que o PS não vai facilitar a vida do PSD.

André Ventura criticou o PSD, que “escolheu a sua companhia” (PS) e o Chega criticou os “tachos” divididos entre os dois maiores partidos.

O jornalista classifica, na rádio Observador, o “triste espectáculo” que se assistiu nestes dois dias no Palácio de São Bento.

O autor do livro Na cabeça de Montenegro avisa que o novo primeiro-ministro errou ao confiar na palavra de André Ventura. Deveria ter falado com Pedro Nuno Santos para confirmar que Aguiar-Branco iria ser aprovado à primeira.

Quando Luís Montenegro viu o que tinha acontecido na primeira votação, ficou num “labirinto sem saída” e depois apareceu o PS com a solução. Foi uma “derrota embaraçosa” para Montenegro, descreve.

O Chega já mostrou ao que vem: “não tem vontade” de ajudar Luís Montenegro, que estará “dependente” de Pedro Nuno Santos.

Por isso, o saldo destes dois dias agitados: “Todos perceberam que será muito improvável que o primeiro Orçamento do Estado de Montenegro passe em Outubro. Muito provavelmente, o Governo não durará mais do que esses seis meses. Só um milagre salvaria o primeiro Orçamento do Estado”.

É prematuro ter a certeza absoluta, até porque “muita coisa muda na política, rapidamente”, mas as estratégias de PS e Chega apontam claramente nesse sentido: “O Chega quer ser líder da oposição, o PS não está disponível para ser o idiota útil do PSD“.

E, assim, Luís Montenegro “não tem parceiros com quem dialogar seriamente para aprovar instrumentos necessários para governar”.

“Vai ser uma legislatura muito, muito, muito difícil” para este Governo.

ZAP //

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4 Comments

  1. Grato pelo esclarecimento. Tinha ficado com a impressão de que houve um entendimento entre Chega e AD e que foram alguns responsáveis desta coligação a recuar publicamente no entendimento que disseram não existir. Posteriormente e após a eleição de todos os membros afirmaram que eram gente de “palavra” pelo que tinham aceite um vice-presidente do Chega. Houve ou não um entendimento que uma das partes não quis cumprir?

  2. Se não havia acordo porque é que o Chega tinha de apoiar o Aguiar-Branco, mais nenhum partido apoiou, só o IL. Porque é que se viram todos para o Chega, afinal há ou não há uma linha vermelha, se há, os outros que se entendam.

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  3. Se querem ser levados a sério, têm que se portar como adultos. Sou contra o “Não é Não”, mas o CHEGA tem de se comportar bem. Estão a fazer o mesmo choradinho que os alvos mais antigos do partido (ciganos), são sempre as vítimas!

  4. Governar em minoria com o “não é não” promete não ir longe. Sem diálogo não funciona a democracia! Há que assumir compromissos públicos de entendimentos sólidos! Aliás, como fez Antonio Costa com a geringonça!

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