“Gema de ovo, ladeada por grelos e tomate”. Nem todos gostam da nova imagem do Governo

Caíram os castelos, as quinas e a esfera armilar no novo símbolo do Governo que ficou mais “inclusivo, plural e laico”. A mudança não agrada a todos e há quem o defina como “gema de ovo, ladeada por grelos e tomate em campo de estupidez”.

O Governo está há vários meses a usar, nas suas plataformas digitais, a nova imagem gráfica que é composta por dois rectângulos, um verde e outro vermelho, separados por uma bola amarela. Apesar disso, só agora a simbologia renovada chamou a atenção – e nem todos gostam!

Caíram os sete castelos, as cinco quinas, as chagas de Cristo e a esfera armilar numa imagem que se tornou mais “inclusiva, plural e laica”, segundo o Governo.

Contudo, os partidos da direita conservadora estão indignados com a mudança e há quem considere que é quase um “crime” estar a mudar a representação da República Portuguesa desta forma.

“Ridículo e um apoucamento quase criminoso”

“Reduzir a esfera armilar, que traduz o trajecto de Portugal no mundo, a um elemento circular amarelo é ridículo e um apoucamento quase criminoso”, salienta o líder do CDS, Nuno Melo, em declarações à revista Visão.

Nuno Melo nota que a “bandeira é um símbolo nacional que tem um significado identitário de uma nação e de um povo, não é apenas um aspecto estético”. “A nação transcende o Executivo que é sempre transitório”, diz ainda criticando a mudança.

Também no Chega se critica a alteração, com o deputado Diogo Pacheco de Amorim a referir a intenção de “colocar a filosofia woke no próprio cerne dos nossos símbolos nacionais”, conforme declarações ao Observador.

Pacheco de Amorim também está contra a retirada da esfera armilar que “dá o sentido da universalidade e das descobertas e da tão decantada questão da colonização”. “Querem reduzir toda a história da nossa expansão”, conclui.

Nas redes sociais, há igualmente críticas e quem note que o Governo “muda o símbolo oficial de Portugal” em “mais uma demonstração de autoritarismo“.

Já o livreiro e Investigador em História Moderna e Contemporânea Francisco Brito reduz o novo símbolo a uma “gema de ovo, ladeada por porção de grelos e tomate em campo de estupidez”. “Esta seria a interpretação de um heraldista para o novo logo escolhido por um Governo em fim de ciclo”, reforça o investigador numa publicação no Facebook.

“A dimensão simbólica e comunitária vai sendo assim substituída pelos valores do mercado ou por modas mais ou menos efémeras”, critica ainda Francisco Brito.

Novo símbolo custou 74 mil euros

Além de reforçar a questão do design mais “inclusivo, plural e laico”, o Governo aponta que a nova identidade visual pretendeu “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital e dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, conforme se pode ler no Manual de Aplicação da Identidade Visual do Governo.

O Executivo aponta ainda a necessidade de simplificação da imagem anterior que era “visualmente densa” e reforça que “optimiza-se o desempenho em ecrã”.

“O que se propõe não constitui o redesenho da bandeira” portuguesa, mas a criação de “um símbolo novo e distinto, representativo do Governo da República Portuguesa”, acrescenta o documento.

O design é da autoria da empresa do professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Eduardo Aires que foi também o responsável pela nova identidade visual da cidade do Porto que ganhou vários prémios, incluindo dois European Design Awards 2014 (distinção “Ouro” e “Best of Show”).

O novo símbolo custou 74 mil euros de acordo com o contrato público publicado no Portal Base, a 23 de Novembro de 2022.

Valor “está muito longe dos preços de mercado”

Fonte do gabinete do primeiro-ministro refere que foi feita uma consulta prévia e que das três entidades consultadas, a proposta de Eduardo Aires tinha “o preço mais baixo” e a “equipa mais qualificada, integrando especialistas reconhecidos em várias áreas da comunicação visual, e um portfólio de trabalhos notáveis”, conforme nota enviada ao jornal Polígrafo.

Quanto ao preço pago “não só não é elevado como está muito longe dos preços de mercado“, acrescenta a mesma fonte.

O Governo alega ainda que a nova identidade visual substitui uma imagem criada há 12 anos “que apresentava várias fragilidades, especialmente na aplicação em plataformas digitais”, conforme se refere numa nota enviada ao Polígrafo.

O Executivo explica ainda a alteração com a “complexidade do modelo antigo (soma de muitas cores e detalhes simbólicos)” e frisa que “criava vários problemas práticos“, nomeadamente de “legibilidade em formatos impressos mais pequenos”.

Contudo, “a razão mais importante” para a mudança prende-se com o facto de a versão anterior limitar “em absoluto as possibilidades de animação e movimento que caracterizam o meio digital dos dias de hoje”, destaca a mesma nota.