“Chairman” do BPI avisou o então ministro das Finanças que “o principal problema que existe no sistema bancário português é o Banco Espírito Santo”. Alerta terá seguido depois para o Banco de Portugal.
O ex-CEO do BPI alertou o Governo de Passos Coelho sobre os potenciais riscos associados ao Banco Espírito Santo (BES), em 2013 e 2014.
Durante o julgamento relacionado com o caso BES, Fernando Ulrich revelou que mantinha conversas frequentes com o Ministério das Finanças sobre o estado do sistema financeiro. Numa dessas reuniões, partilhou diretamente com Vítor Gaspar, à época ministro das Finanças, as suas preocupações relativamente à situação do BES.
“Numa reunião com o Vítor Gaspar disse-lhe que estava preocupado com o BES“, disse o banqueiro em respostas ao advogado Miguel Mateus Vaz, que representa lesados assistentes no processo.
Ulrich explicou que, numa dessas reuniões, mencionou que, apesar de o Banco Comercial Português (BCP) ter questões a resolver, não representava, no seu entender, uma ameaça.
“Vinham sempre as perguntas sobre o BCP, e respondi que o BCP tinha coisas a resolver mas não preocupava. Estava preocupado era com o BES”, afirmou o banqueiro, que também terá alertado o BdP por iniciativa própria.
Poucos dias após essa reunião, Ulrich recebeu uma chamada do diretor de supervisão do Banco de Portugal (BdP), que tinha sido informado pelo Governo sobre as suas preocupações. Nessa conversa, Ulrich partilhou com o BdP as informações que possuía sobre o BES, algumas das quais já eram conhecidas pelo supervisor, mas outras que não tinham ainda chegado ao seu conhecimento, avança o Jornal de Negócios.
O Executivo de Pedro Passos Coelho deixaria “cair” o BES a 3 de agosto de 2014, altura em que o Banco de Portugal anunciou um plano de capitalização BES de 4.900 milhões de euros e a separação dos ativos tóxicos (‘bad bank’) dos restantes que ficariam numa nova instituição, o Novo Banco.
Fernando Ulrich começa a ser ouvido na tarde desta quarta-feira, no Campus de Justiça, em Lisboa, no âmbito do julgamento do BES/GES.