Vai estar um frio de rachar na próxima semana e as temperaturas podem chegar aos 7 graus negativos em Portugal continental. Tudo por causa de um “bloqueio ómega” numa altura em que a Europa é duramente afectada pelo frio.
A temperatura desceu, este sábado, pela primeira vez, aos 30 graus negativos em Oslo, a capital da Noruega, segundo dados do instituto meteorológico local. No norte da Suécia registou-se um mínimo recorde de 43 graus negativos na quarta-feira, a temperatura mais baixa registada em 25 anos.
As tempestades de neve têm provocado o caos no norte da Europa, mas a vaga de frio também vai chegar em força a Portugal continental na próxima semana.
As regiões mais afectadas serão aos do interior e que fazem fronteira com Espanha, e prevê-se “frio intenso” para terça-feira, 9 de Janeiro, quarta-feira, 10, e quinta-feira, 11, segundo o geógrafo Alfredo-Graça, redactor-chefe do site especializado em meteorologia Tempo.pt.
Assim, na próxima semana, “vai estar muito frio, com temperaturas muito baixas e mínimas negativas em boa parte do nosso país, geadas muito fortes e frequentes que afectarão praticamente metade ou até algo mais do território continental, para além do céu nublado e com bons períodos de sol”, prevê Alfredo Graça.
O climatologista Mário Marques do IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera revela à CNN Portugal que as temperaturas podem baixar até aos 7 graus negativos em localidades como Guarda e Bragança, entre outras.
Mas Alfredo Graça alerta que estão previstas temperaturas mínimas inclusive em algumas zonas onde isso é raro, como Portalegre e Santarém.
O geógrafo nota ainda que os termómetros podem baixar aos zero graus “em cidades muito próximas do mar e onde este valor de temperatura mínima também é raro de se atingir, como o Porto“.
“Serão alguns dos dias mais frios deste Inverno até ao momento”, aponta Alfredo Graça, notando que se pode esperar neve “nas partes mais elevadas das serras do Norte e do Centro” e “nas localidades urbanas mais altas dessas regiões”.
Na verdade, na quinta-feira passada, já havia neve nalguns dos picos mais altos da serra, como na zona do Gerês e na Serra da Estrela.
A piorar o cenário, o vento vai “agudizar a sensação térmica de frio”, alerta Mário Marques do IPMA.
A culpa é do “bloqueio ómega”
O ar polar vai “afectar o nosso país de raspão”, mas, mesmo assim, “o frio será muito intenso” e preveem-se “anomalias de temperatura negativas de até -13 ºC em extensas porções do território do Continente”, destaca ainda Alfredo Graça.
Esta situação resulta de um fenómeno que o geógrafo classifica como “bloqueio ómega”.
A chegada de uma massa de ar polar marítimo já fez baixar as temperaturas no final da semana que acabou de terminar.
E à medida que esta massa “se for deslocando para latitudes mais setentrionais, ganhando largura e extensão e facilitando a subida do ar quente para as latitudes polares, duas grandes depressões surgirão de cada lado e aí ocorrerá precisamente o oposto: o ar frio descerá em latitude“, explica o geógrafo do Tempo.pt.
“O jacto polar será forçado a contornar a grande crista anti-ciclónica e depois descerá novamente em latitude numa trajectória que faz lembrar a letra grega ómega – (Ω)”, acrescenta, explicando que é daí que vem o nome dado ao “bloqueio”.
Eis uma circulação em “ómega” Ω muito nítida no Atlântico
Isto será favorável à chegada de ar #frio 🌬️ polar continental a Portugal continental na próxima semana.
Preveem-se temperaturas diurnas muito baixas e mínimas negativas 🌡️🥶 em imensas regiões. pic.twitter.com/lxDwgUoy6a— Meteored | Tempo.pt (@MeteoredPT) January 5, 2024
“Portugal continental estará localizado na extremidade direita do ómega, pelo que estaremos expostos a massas de ar muito frio e depressões“, esclarece ainda Alfredo Graça.
Mas, “por estar situado na extremidade ocidental da Península Ibérica e virado para o Atlântico”, Portugal “não estará tão vulnerável como Espanha”, destaca o geógrafo.
O “bloqueio ómega” passará “apenas “de raspão”” por Portugal. Contudo, será o suficiente para que as temperaturas desçam bastante e, por isso, “os cuidados com o frio intenso não devem ser menosprezados“, recomenda Alfredo Graça.
Susana Valente, ZAP // Lusa