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França troca taxa sobre “gigantes” da Internet por imposto nos combustíveis

Philippe Wojazer / EPA

Emmanuel Macron anulou a taxa sobre os combustíveis em vez de a suspender. Por outro lado, será aplicado um imposto nacional aos “gigantes” da Internet se não houver acordo europeu para tributar essas empresas.

Porta-vozes do Eliseu confirmaram esta decisão, que representa mais uma concessão do executivo francês para tentar pôr termo aos protestos dos “coletes amarelos”, que se mobilizaram a partir de 17 de novembro devido à queda do seu poder de compra.

Com este novo anúncio, o Governo francês pretende evitar a todo o custo que se repitam no próximo sábado as cenas de guerrilha urbana dos protestos do passado dia 1 de dezembro em Paris.

Por outro lado, o ministro da Economia e Finanças francês anunciou, esta quinta-feira, que será aplicado um imposto nacional aos “gigantes” da Internet, de acordo com o JN. “A partir de 2019 avaliaremos os gigantes digitais em todo o país se os estados europeus não assumirem as suas responsabilidades”, disse Bruno Le Maire.

Macron, no entanto, descartou a hipótese de fazer regressar o imposto sobre a riqueza, que é também uma das exigências dos “coletes amarelos”, uma taxação à qual o Presidente colocou um ponto final depois de chegar ao poder, como um gesto para tornar a França num país mais atrativo para os investidores.

O ministro da Economia e Finanças explicou como será compensada a perda de receita ao ser abandonado o imposto sobre o combustível: “aqueles que têm dinheiro são os gigantes digitais, que obtêm benefícios consideráveis graças ao consumidor francês, graças ao mercado francês, e que pagam como mínimo 14 pontos a menos que as empresas”.

Nos últimos meses, Le Maire tem sido um dos principais defensores de um imposto europeu sobre os “gigantes” da Internet sobre 3% da sua faturação.

Este anúncio surgiu um dia depois de Macron recuar na decisão do aumento da taxa dos combustíveis. Acusado de reagir tarde e mal à crise dos “coletes amarelos”, o executivo defendeu a sua gestão da situação na Assembleia Nacional, numa sessão que introduziu no hemiciclo as reivindicações do movimento contestatário.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, compareceu no parlamento um dia depois de ter decidido congelar por seis meses a subida de impostos sobre o combustível e as tarifas da eletricidade e do gás, para assegurar que ouviu a revolta dos franceses e atuou em conformidade, enquanto espera encontrar as soluções adequadas.

“Se não as encontrarmos, não restabeleceremos estes impostos. Estas decisões têm como objetivo devolver a serenidade ao país”, declarou.

No final da sessão de debate, a gestão governamental foi submetida a votação e aprovada por maioria absoluta, com 358 votos a favor, dos deputados de A República em Marcha (LREM) e os seus aliados centristas, e 194 votos contra.

O executivo quer realizar nos próximos meses um debate nacional em torno do ritmo da transição ecológica, a necessidade de alternativas para o trajeto de casa ao trabalho e a redução dos impostos.

“Não devemos legar aos nossos filhos uma dívida incontrolável”, advertiu Philippe numa sessão acalorada, admitindo que talvez as medidas aplicadas tenham sido “insuficientes ou demasiado técnicas” e que chegou a hora de entabular “um verdadeiro diálogo sobre as preocupações dos franceses”.

Os mesmos que há três semanas saem à rua, a bloquear rotundas e autoestradas do país, primeiro para exigir a suspensão do imposto sobre os combustíveis, mas depois também para denunciar o seu empobrecimento.

O debate parlamentar prosseguirá na quinta-feira com outra sessão semelhante no Senado, essa sem votação, antes de o Governo enfrentar, no sábado, outra prova de fogo, com a quarta manifestação consecutiva, na qual prometeu tolerância zero.

Uma sondagem divulgada na terça-feira pelo instituto de estudos de opinião BVA indicou que sete em cada dez franceses continuam a apoiar os “coletes amarelos”.

ZAP // Lusa

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