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“Fome como arma de guerra”. Rússia exige alívio das sanções para reabrir portos ucranianos

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Alexei Danichev / Kremlin / EPA

Os países do G7 acusam Moscovo de usar a fome como uma “arma de guerra híbrida”, mas a Rússia diz que as sanções ocidentais têm afectado a sua capacidade de exportar alimentos.

As estimativas do Programa Alimentar Mundial (PAM) apontam para que 30 milhões de toneladas de cereais estão armazenadas em silos na Ucrânia e que estão também em risco de ser desperdiçadas caso os portos com ligação ao Mar Negro não sejam reabertos para que as exportações possam ser escoadas.

Para além do grande rombo na economia ucraniana, o bloqueio nos portos também significa que os países que compram cereais a Kiev também serão arrastados para uma crise alimentar que pode agravar a sua instabilidade interna. A Ucrânia produz 12% do trigo, 15% do milho e metade do óleo de girassol do planeta.

Na Tunísia, por exemplo, quase metade do trigo importado vem da Ucrânia e a situação é semelhante no Líbano. Já o Iémen, que já está a sofrer com uma guerra civil e uma crise humanitária desde 2014, importa quase todo o seu trigo e um terço das compras são feitas à Rússia e à Ucrânia. Em muitos destes países, o pão é o principal alimento da população, especialmente para os mais pobres.

Mas mesmo que a guerra estivesse para acabar, há receios de que os portos ainda demorassem seis meses até voltarem ao funcionamento normal devido ao trabalho de desminamento que teria de ser feito para haver garantias de segurança nas rotas.

Esta situação preocupante foi o tema de uma reunião extraordinária das Nações Unidas. No encontro, António Guterres alertou para o risco de ser atingido um “novo recorde” no número de pessoas em insegurança alimentar severa.

O número já tinha duplicado devido à pandemia, passando de 135 milhões para 276 milhões a nível global e há agora o risco de mais 44 milhões de pessoas passarem fome. A África sub-sariana e o Médio Oriente seriam as regiões mais afectadas.

O Secretário do Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, fez saber na reunião que Washington vai elevar o total da sua assistência alimentar de emergência para quase 2,6 mil milhões de dólares (2,48 mil milhões de euros). O Senado norte-americano também aprovou recentemente um pacote de 40 mil milhões de dólares de ajuda militar e humanitária para Kiev.

Já David Beasley, director executivo do PAM, deixou um apelo a Putin: “Se ainda tem coração, por favor abra os portos. Isto diz respeito aos mais pobres dos pobres, que estão à beira da fome neste preciso momento”. Beasley acrescenta que o programa da ONU apoia 125 milhões de pessoas em todo o mundo e que 50% dos cereais do PAM são comprados à Ucrânia.

Na reunião do G7 em Berlim no último fim de semana, a Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha não poupou nas críticas ao Presidente russo. “Não devemos ser ingénuos. Não estamos a falar de danos colaterais, mas sim de um instrumento numa guerra híbrida para enfraquecer a nossa coesão contra a guerra da Rússia”, acusou Annalena Baerbock.

Blinkey também acusou Moscovo de “usar a fome dos civis para tentar avançar nos seus objetivos”. “Como resultado das acções do governo russo, 20 milhões de cereais estão nos silos ucranianos enquanto as cadeias de fornecimento da comida entram em quebra e os preços sobem”, afirmou, citado pelo Washington Post.

Os países do G7 (Canadá, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Reino Unido) também se comprometeram a fornecer 18,4 mil milhões de dólares de ajuda económica à Ucrânia.

Rússia culpa as sanções pela crise

O embaixador russo nos Estados Unidos negou as acusações de que Moscovo esteja propositadamente a causar uma crise alimentar. “A verdade é que foi a Ucrânia, e não a Rússia, quem minou as águas e quem bloqueou 75 embarcações de 17 estados de entrarem nos portos de Nikolaev, Kherson, Chernomorsk, Mariupol, Ochakov, Odesa and Yuzhniy”, referiu Vassily Nebenzia.

Nebenzia acrescenta que a Rússia continua a fornecer comida e energia e que espera atingir um recorde de 25 milhões de toneladas de cereais disponíveis para exportação desde 1 de Agosto até ao fim do ano através do porto de Novorossiysk. Há também 22 milhões de toneladas de fertilizantes que poderão ser comprados a Moscovo a partir de Junho.

No entanto, o embaixador realça que as sanções impostas à Rússia têm afectado as rotas e impedido a circulação livre e entrada nos portos dos navios russos. “Se não querem levantar as vossas sanções, então porque é que nos estão a acusar de causar uma crise alimentar? Porque é que os países mais pobres têm de sofrer como resultados dos vossos jogos geopolíticos?”, questiona.

Já o número dois da diplomacia russa, Andrei Rudenko, afirma que os apelos do G7 não se podem cingir à Rússia e que os países têm que “analisar profundamente todo o complexo de razões que causaram a atual crise alimentar”.

“Há sanções impostas contra a Rússia pelos EUA e União Europeia que interferem com o comércio livre normal”, rematou.

Adriana Peixoto, ZAP //

12 Comments

    • Não de todo. Se for perguntar ao camarada Jerónimo, ao João Oliveira, ao António Filipe, verá que está errado. Os culpados de tudo isto e da fome que se generalizará é da União Europeia, dos Estados Unidos e, sobretudo, da NATO! a NATO é que provoca a fome, porque em vez de tractores dá mísseis aos ucranianos… Se a NATO não armasse os ucranianos, os russos já tinham ganho isto e podíamos ir todos descansados para casa, porque este é ano de mundial de futebol.

  1. Seria mais que tempo de os paises democraticos e que se preocupam com os direitos humanos defenderem a Ucrânia ou pelo menos criarem uma zona de exclusão aérea sobre todo o território ucraniano.
    Defender um povo de ser massacrado não é atacar a Russia. Já todos vimos que a Russia como potência militar é um gigante de papel, só mesmo as armas nucleares lhe dão algum poder de dissuação, mas pelo que eles disseram apenas as usariam se o seu pais estivesse em perigo e defender a Ucrania na Ucrania não era colocar a Russia em perigo . É mais que tempo de acabar com estes massacres.

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