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“SofaGate”. Draghi chama ditador a Erdogan, eurodeputados não poupam Charles Michel

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Aris Oikonomou / AFP

Ursula von der Leyen e Charles Michel

Os eurodeputados portugueses consideram que o episódio na Turquia foi “vergonhoso” e uma “falha grave”, e apontam o dedo ao próprio presidente do Conselho Europeu.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho europeu, Charles Michel, deslocaram-se a Ancara, esta quarta-feira, para se reunirem com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mas apenas os dois homens tiveram direito a sentar-se em cadeiras. A presidente do Executivo comunitário acabou por se sentar num sofá lateral mais afastado, num episódio que já ficou conhecido como “sofagate”.

A Turquia já reagiu à polémica, considerando injustas as acusações de desconsideração para com a presidente da Comissão Europeia, garantindo que a disposição dos assentos para a reunião foi sugerida pela equipa da UE.

Foram várias as personalidades que já reagiram, entre as quais o primeiro-ministro italiano que, esta quinta-feira, no decurso de uma conferência de imprensa em Roma, disse ter ficado “muito incomodado pela humilhação a que foi submetida a presidente da Comissão Europeia por esses, e chamemos-lhe o que eles são, ditadores”.

Mario Draghi considerou que a questão de fundo reside na “colaboração dos países democráticos” com ditadores para a defesa dos seus interesses, e entre eles incluiu Erdogan.

“Como referi noutras conferências de imprensa, temos que considerar que há que colaborar com estes ditadores, vamos chamar-lhes o que são“, insistiu Draghi, ao considerar necessário “ser franco no momento de expressar pontos de vista”, mas também ser necessário estar preparado para cooperar. “Há que encontrar o equilíbrio justo”, rematou.

Para além das críticas ao chefe de Estado, há quem também esteja a apontar o dedo ao próprio presidente do Conselho Europeu, com muitos a achar que este episódio vai ter repercussões na sua recondução ao cargo.

“Há duas dimensões muito negativas: a primeira é que existe uma intenção de desprezo ou de humilhação da União Europeia por parte de Erdogan – acho que a atitude é claramente intencional – e a segunda é a dimensão europeia e que diz respeito à inabilidade total e à falta de verdadeira liderança de Charles Michel”, considerou Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, em declarações ao semanário Expresso.

“Charles Michel tem aqui uma situação que, em termos políticos, vai ser muito complicada de sustentar, exatamente porque tem essa dupla leitura – a questão do protocolo e a questão da igualdade de género”, acrescentou.

Por sua vez, a eurodeputada do PS, Maria Manuel Leitão Marques, classificou este caso de “vergonhoso” e revelou que gostaria de ter visto a presidente da Comissão abandonar a reunião, embora tenha em conta o facto de ser difícil reagir naquele momento.

“Provavelmente, eu faria o mesmo, compreendo que numa situação que surpreende exista sempre a dificuldade diplomática de avaliar o custo e o benefício de uma atitude dessas”, disse a socialista.

“O que eu não consigo perceber – mas espero que vá explicar ao Parlamento – é que o presidente do Conselho Europeu não lhe tenha dado o lugar“, lamentou.

Também Nuno Melo, eurodeputado do CDS, considerou ao jornal que, “do ponto de vista institucional, a subalternização por parte de Erdogan da presidente da Comissão Europeia relativamente ao presidente do Conselho é obviamente uma falha grave”.

O centrista disse, porém, que é difícil saber se o episódio se deve “a uma perceção errada dos turcos, acerca da prevalência da representação da UE por parte do concelho – porventura pela lógica intergovernamental –, ou a uma discriminação sexista”.

“Do lado europeu, é igualmente grave que Charles Michel tenha aceitado reunir nestas condições, prestando-se a um papel lesivo da imagem da Comissão Europeia, e em particular da sua presidente, ponderado até o tema em discussão”, afirmou Nuno Melo.

“O mínimo que se exigia do presidente do Conselho seria que se recusasse a participar na reunião nestes termos, ou enquanto a situação não fosse corrigida”, reforçou ao Expresso.

Depois do incidente, Charles Michel reconheceu que “as poucas imagens que foram divulgadas deram a impressão” de que “teria sido insensível a esta situação”, mas recusou ter tido essa intenção, invocando os seus “sentimentos profundos” e “princípios de respeito essenciais”.

“Apesar de uma vontade manifesta de fazer bem, a interpretação estrita pelos serviços turcos das regras protocolares produziu uma situação desconcertante: o tratamento diferenciado ou mesmo de falta de consideração da presidente da Comissão Europeia”, afirmou o belga numa mensagem publicada no Facebook.

ZAP // Lusa

17 Comments

  1. Já aqui tinha comentado ontem que se do Erdogan tudo se pode esperar, o Charles Michel esteve mesmo muito mal. Tinha cedido o seu lugar à Ursula e dava uma bofetada de luva branca no Erdogan. Tanta coisa com a igualdade de género na UE e depois faz-se isto?!

    • O problema é mesmo e só de protocolo. O Presidente do Conselho e a Presidente da Comissão Europeia deviam ter-se recusado reunir naquelas condições, até que existissem dois lugares para os representantes europeus.
      A questão do Presidente do Conselho ceder o lugar á Presidente da Comissão é uma falsa questão (seria mais aceitável?), porque o problema seria exatamente o mesmo, tal como o era se ao invés de um homem e uma mulher fossem dois homens ou duas mulheres. É que se o Presidente do Conselho cede-se o seu lugar, estaria a ser machista porque as mordomias em relação ás mulheres é do século passado.

    • Mas o grande ego que ele tem turva-lhe a “ratio”.
      É como bem diz, não devia ter chegado tão longe, mas este caso é uma excepção ao princípio de Peter!

  2. “O centrista disse, porém, que é difícil saber se o episódio se deve “a uma perceção errada dos turcos, acerca da prevalência da representação da UE por parte do concelho – porventura pela lógica intergovernamental –, ou a uma discriminação sexista”.

    Com certeza que é a primeira hipótese. O resto são complexos metoo e além disso também havia um homem sentado lateralmente – o ministro dos negócios estrangeiros Turco.

    • Percepção errada dos turcos???
      charles michel, SÓ deveria ter-se sentado no sofá, acompanhando Ursula van der Leyen, e teriam feito a reunião nos dois sofás, frente a frente.
      Mas não, o senhor sentou-se com ar do gozo, machista total. Certamente terá “honrado” mentalmente sua mãe, sua irmã, sua esposa ou sua filha.
      Ursula demonstrou a sua superioridade sobre o machismo, e elogio-a muito, pois eu não teria tido esse sangue frio e teria abandonado a sala de imediato, deitando tudo a perder e se o tivesse feito, teria demonstrado ressabiamento e pequenez. Foi grande, e aguardemos… Veremos a queda com estrondo do pequenino senhorito charles michel.
      “Metade do mundo é das mulheres; a outra metade dos filhos delas” – importante não esquecer!

      • Estou de acordo, à exceção do feminismo exacerbado traduzido na sua última frase.
        Efetivamente quem esteve mal em tudo isto foi o Charles Michel. Tinha cedido o lugar à Ursula e isso seria uma verdadeira chapada de luva branca no Erdogan. Teria de ficar sentado lado a lado, em absoluto pé de igualdade, com uma mulher, contra a sua vontade. O Charles Michel acaba por ser o palhaço de serviço e a atitude demonstrada chega mesmo a ser arrogante e de extrema má educação. Até me parece que ele ultrapassa deliberadamente a Ursula porque se apercebeu que só havia dois cadeirões.
        Depois deste episódio, penso que esse senhor tem duas possibilidades: ou sai pelo seu pé ou vai sair empurrado já em breve. Inaceitável!

      • Essa sua última frase classifica-a a si. Você não é pela igualdade é pela sobreposição de um género em relação ao outro, e isso é tão errado como os erros que aponta aos outros.
        É interessante perceber que os filhos nascem de geração espontânea e só têm mãe.
        Lamento o ressentimento em relação aos homens, certamente algum lhe fez mal. Mas isso não classifica todos da mesma maneira, ou não existissem mulheres más e mães assassinas e isso fosse a norma para todas as mulheres.
        Existem boas e más pessoas, homens e mulheres.

      • …”Metade do mundo é das mulheres; a outra metade dos filhos delas” – importante não esquecer!
        É com frases como esta que eu, que sempre fui assumido defensor da igualdade de oportunidades, muito antes de ser “moda”, começo a ficar arrependido.
        Se é para defender vaidade e radicalismo só vão perder apoios e afastar a “outra metade”.
        Aquilo que até agora foi uma luta justa está a transformar-se numa mania ridícula provocada por gente com tempo a mais.
        Quanto ao artigo, os turcos não têm vulgarmente qualquer respeito pelas mulheres e só fizeram jus àquilo que são, nada de novo por aí, já o Michel esse mostrou o idiota que é, e espero que receba o devido tratamento por não ser capaz de defender uma companheira de trabalho num momento tão humilhante.
        Pessoalmente nunca me sento antes das senhoras presentes estarem sentadas, não tanto por respeito (algumas podem não o merecer) mas por uma questão de educação.

      • Esse Michel obviamente não passa de um auto-deslumbrado e demonstrou-o.
        Quanto ao Erdotrampa já teve o seu dia-de-cristal, que foi forjado para ter um salvo conduto para aniquilar a democraciazeca que dantes lá havia mas já não há, mais o caminho passo a passo para um islamismo descarado. E depois admiram-se sobre este episódio. Estão “distraídos.”

      • Qualquer ser humano é filho de um pai e de uma mãe, pelo que a sua frase sobre metade do mundo apenas ser dos filhos das mulheres é no mínimo um brinde aos machistas.
        É por pessoas com o seu tipo de raciocínio que pouco se avança na igualdade entre sexos.
        E o “sofagate” não é um caso de machismo, embora compreenda quem pensa assim.
        É acima de tudo um desrespeito pela presidente da Comissão Europeia, uma prova da falta de inteligencia e educação de Charles Michel.
        De Erdogan nem falo. Está noutro patamar. Vive noutro seculo algures na idade media.

  3. Srs do ZAP,
    Na frase “…a uma perceção errada dos turcos, acerca da prevalência da representação da UE por parte do concelho…”, esta última palavra está mal escrita.
    Obrigado

  4. De facto Charles Michel não esteve bem perante tal situação, podia ter chamado a atenção do ditador! O Erdogan para além de ditador, será também islamita e daí talvez o seu autoritarismo e menosprezo pela classe feminina.

  5. No mundo árabe a mulher está sempre em segundo plano, não lhe é permitido sentar na mesma mesa com os homens.
    No mundo árabe a mulher é vista como pecadora o homem não. O homem pode ter N mulheres até extra conjugais, a mulher se for apanhada em encontro extra conjugal é considerada adúltera logo, é condenada e em muitos casos apedrejada até à morte, por isso, não me admira nada a atitude homenzinho, radicalismo no seu máximo.

  6. Na nossa sociedade a discriminação ainda está bem patente! Ou querem tapar o sol com a peneira? Quantas são, de facto, as mulheres que entram no mundo da política, um dos grandes domínios do poder masculino? Ainda que muitas já tenham provado que são capazes de o fazer muito melhor do que muitos homens. Relativamente ao triste episódio, entendo a atitude do presidente turco porque sei como são consideradas as mulheres no seu país, mas não desculpo o comportamento do presidente do conselho europeu( onde se proclama aos sete ventos que a igualdade de género é uma realidade), a sua antecipação a ocupar o melhor lugar. O que o sr devia ter feito era esperar, em pé, junto de Ursula, que fosse resolvido o problema da falta de uma cadeira para poderem estar todos em pé de igualdade, na reunião, como mandam os cânones!!

    • Isso é tudo treta. Logo a seguir ao 25 de abril teve uma primeira-ministra. Atualmente tem mais ministras que ministros. Se tiverem mérito, então devem ir longe. Por quotas, não.
      Este governo até é um belo exemplo de incompetência feminina. Penso que todas as ministras são incompetentes. Mas, como o mesmo se passa relativamente aos homens, penso que também aqui existe igualdade de género.

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