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Estado da Nação. Costa falou do diabo que não veio e Centeno recitou poesia face às críticas da oposição

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Manuel De Almeida / Lusa

No último debate do estado da nação antes das legislativas, o PSD foi a voz mais ativa, com a oposição a falar de um “lado negro” da realidade. António Costa fez as despedidas e elogiou aqueles que ousaram “derrubar um muro anacrónico”.

No arranque do discurso de balanço sobre os quatro anos de governação, com o apoio parlamentar dos partidos de esquerda (PS, BE, PCP e PEV), António Costa fez um agradecimento aos seus parceiros por terem ousado “derrubar um muro anacrónico“.

E da parte da coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, ouviu que, se o tempo voltasse para trás voltaria a assinar os acordos que levaram a esta solução governativa, uma opinião partilhada pelo líder socialista.

O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, não foi tão claro, mas afirmou que o país “mudou para melhor”, com a “decisiva contribuição do PCP“, apesar de admitir que se poderia ter ido mais longe.

Olhando para trás, para quatro anos de Governo, António Costa reconheceu que os portugueses não vivem “um oásis” nem num “país cor de rosa”, mas sublinhou que “Portugal está melhor”, “os portugueses vivem melhor“.

E enumerou uma longa lista de indicadores, do desemprego à criação de postos de trabalho, dos apoios sociais ao recuo da dívida pública para justificar o seu otimismo e recuperação da confiança.

“Nem o Diabo apareceu nem a austeridade se disfarçou“, afirmou, numa alusão ao alerta do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do PSD, de que “o Diabo” – ou tempos difíceis – se aproximaria, em 2016.

Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, acusou Costa de falar de um “país virtual”, “para a fotografia”, “cor-de-rosa”, em que o Governo “fez tudo bem”, mas que é desmentido diariamente pelo “lado negro” da realidade, na saúde, segurança social, educação, justiça, segurança, proteção civil ou na falta de apoios ao interior.

Do lado do CDS-PP, Nuno Magalhães, líder parlamentar, ironizou que o Governo é “excelente a anunciar” e “péssimo a fazer”, apontando que o “país real” tem “a carga fiscal máxima e os serviços públicos mínimos”.

Centeno ataca leilões de promessas eleitorais

O ministro das Finanças criticou hoje os “leilões de promessas eleitorais”, classificando-os como sendo “políticas do passado”, num discurso em que citou o poeta socialista Manuel Alegre e motivou protestos nas bancadas do PSD e CDS-PP.

Mário Centeno assumiu estas posições no encerramento do debate sobre o estado da Nação, na Assembleia da República, ocasião que aproveitou para atacar quem não acreditou na capacidade do atual Governo e para defender que houve um aumento do investimento social, designadamente em setores como a saúde e educação, ao mesmo tempo que se verificou um aumento global de salários, descida de impostos e mais emprego.

O ministro das Finanças começou a irritar as bancadas do PSD e do CDS quando lamentou a existência de um setor que acredita sempre que o país “nunca chega lá”, pedindo, em contrapartida, uma atitude de exigência com interpretação do “esforço coletivo que tem vindo a ser feito”.

“Quem nos quer levar a desistir são os mesmos que não acreditavam que aqui chegávamos. Em democracia há sempre alternativas, mas as alternativas têm de ser claras e credíveis. Não entremos em leilões de promessas eleitorais. Isso foi a política do passado, a política das paragens bruscas”, declarou, num discurso que foi aplaudido de pé pelos deputados do PS.

“Apelaram meses a fio pelo mafarrico e à impossibilidade aritmética. Hoje, já todos sabemos como estavam errados, mas erraram porque não acreditaram na capacidade transformadora dos portugueses, na capacidade daqueles a quem disseram emigrem”, afirmou, antes de iniciar uma série de citações de poemas de Manuel Alegre.

Como escreveu Alegre, eu que fiz tudo e nunca tive nada. Obrigado Manuel Alegre. Hoje lembramos, por ser passado, o teu Lusíada Exilado, para que Portugal não volte a sair do lugar que lhe pertence no mundo e para que os portugueses não tenham de voltar a sair do lugar que lhes pertence no mundo: Esse lugar é Portugal”, disse, ouvindo gritos de alguns deputados do PSD e do CDS-PP.

Tom de campanha pré-eleitoral

A três meses das legislativas, o tom de pré-campanha eleitoral notou-se em muitos dos discursos, embora com “nuances”. Já com as eleições à vista, Catarina Martins questionou quem quer hoje maiorias absolutas. E encarregou-se de dar a resposta: os patrões e grupos privados de saúde.

A coordenadora do BE defendeu que aquilo que foi feito nesta legislatura é “o melhor guia para o muito que falta fazer”, avisando que não se pode “voltar à política das maiorias absolutas”.

À direita, com “ambição para Portugal”, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas anunciou que o partido vai propor, no seu programa eleitoral, uma descida de impostos, o IRS e o IRC, neste caso de 21% para 12,5% num prazo de seis anos, e quer o país a crescer 4% ou 5%, no mesmo prazo.

Na sua intervenção, Assunção Cristas recordou que o CDS já tinha, durante esta legislatura, proposto a baixa da taxa do IRC, que, se tivesse sido aprovada, não seria de 21%, mas sim 17%, sem “acréscimo de tributações autónomas”.

A líder centrista falou ainda da sua “ambição para Portugal”, que passa por tornar o país não só o melhor “destino turístico”, mas sim “o melhor destino para estudar, trabalhar, investir ou viver a reforma”.

André Silva, deputado único do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), defendeu que a viabilidade do Serviço Nacional de Saúde depende da “promoção da saúde” e da “prevenção da doença“, o que considerou possível apesar de “dar trabalho”.

Além da saúde, o PAN dedicou a sua intervenção também ao ambiente e à tauromaquia, tendo criticado o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, por ter marcado presença “há uns dias numa corrida de touros, na companhia de quem mais ama: o presidente da CAP” (Confederação dos Agricultores de Portugal).

Jerónimo de Sousa, na sua intervenção de fundo no debate, reconheceu que “o país vive hoje uma situação diferente daquela que apresentava há quatro anos”, pois “Portugal mudou para melhor, com a decisiva contribuição do PCP“, num “tempo de avanços na melhoria das condições de vida do povo português” de “recuperar e conquistar direitos e rendimentos”.

A líder parlamentar de “Os Verdes” e parceira de coligação do PCP, Heloísa Apolónia, mais tarde, apontou três prioridades numa breve intervenção final: combate às assimetrias regionais, às alterações climáticas e à pobreza.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. Afinal, posso dormir mais descansada, porque está tudo muito bem na nossa politica e políticos que estão no poder…
    Essas duas pessoas em cima, nem precisam de fazer campanha, pois a mesma está assegurada, tal foi a performance comunicativa deles…
    Aliás, acho que eles nem precisam governar, só precisam de continuar a comunicar bem, o povo gosta de ouvir o que faz bem à mente, nem que seja mentira….
    Enquanto portuguesa, contribuinte duas vezes, espero que estejam mesmo certos, porque já não se aguenta mais tanta falta de carácter…
    Enquanto pessoa singular, não notei nenhuma diferença, enquanto empresa, notei, se notei, o estado é meu sócio em quase 40%, o mesmo que dizer, que o meu trabalho de empresa, 40% pertence–lhes…
    Sugiro acabar com as empresas, e nacionalizar tudo, para que sejamos todos de facto, iguais…
    Enquanto eu apagava 15,00 € de uma taxa moderadora, uma senhora ao meu lado paga 3 EUROS, pela ADSE…
    Igualdade estatal para todos, não me importo que me nacionalizem, não mesmo…
    Portanto, que tudo corra bem para todos, porque o meu voto vai ser dado “aos peixes” pela 1ª ….

    • Totalmente de acordo. Em Portugal só é empresário quem é doido. Eu sei porque também o sou. Emprego aproximadamente duas centenas de pessoas em diferentes empresas, pago uma imensidão de impostos e taxas e todo o tipo de contribuições. Este ano ainda não fiz as contas mas no ano passado entre IVA, IRC, SEGURANÇA SOCIAL, IMI, ISP,… o Estado levou-me quase 50% do volume de negócios. É de facto um enorme feito! E quando preciso de recorrer à Justiça tenho de a pagar e não funciona. Quando preciso de ir a um médico tenho de pagar e na generalidade das vezes acabo por ir ao privado porque no público o tempo de espera é surreal. Este nosso Estado resume-se a uma ideia: arranjar todo o tipo de pretextos para sacar o máximo de dinheiro aos contribuintes e depois poder repartir o saque pelos amigos, seja em negócios destes com o Estado, seja em cargos públicos, seja no que for. O importante é reparti-lo pela máquina partidária. Uma vergonha!

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