Jennifer Jungfleisch / Centro de Regulación Genómica

A proteína eIF2A no centrossoma (a branco)
Uma equipa de investigadores descobriu a proteína que é fundamental para orientar as células cancerígenas do melanoma enquanto se espalham pelo corpo. As células malignas tornam-se dependentes desta proteína para migrar, pelo que a descoberta abre portas a novas estratégias para impedir a metástase.
É do conhecimento dos cientistas que proteína eIF2A entra em ação quando uma célula está sob stress, ajudando os ribossomas a iniciar a síntese proteica.
Mas, segundo um estudo publicado na sexta-feira na revista Science Advances, a eIF2A tem um papel completamente diferente no melanoma: ajuda as células cancerígenas a controlar o movimento.
“As células malignas que fazem metástases precisam de abrir caminho através dos tecidos para invadir órgãos próximos ou distantes”, diz Fátima Gebauer, investigadora no Centro de Regulação Genómica (CRG), em Barcelona, e corresponding author do estudo, em comunicado publicado no EurekAlert.
“Visar a eIF2A poderia ser uma nova estratégia para impedir que o melanoma se liberte e semeie tumores noutros locais”, acrescenta a investigadora.
Apesar de representar apenas uma fração dos casos de cancro da pele, o melanoma mata quase 60.000 pessoas em todo o mundo a cada ano.
A taxa de sobrevivência a cinco anos para o melanoma localizado é de cerca de 99%, sendo significativamente mais baixa para o melanoma metastático, com cerca de 35% para a disseminação distante. Compreender como as células malignas fazem metástases é crucial para melhorar os resultados dos cuidados de saúde.
Trabalhando com um par de linhas celulares humanas da pele combinadas que diferiam apenas no seu potencial metastático, a equipa de investigadores conseguiu reduzir os efeitos da eIF2A.
Nas células cancerígenas, as esferas tumorais tridimensionais pararam de crescer e a migração através de um risco na placa de cultura abrandou drasticamente. No entanto, a produção de proteínas foi pouco afetada, derrubando a ideia de que a eIF2A inicia a síntese proteica.
Para procurar um papel alternativo, os investigadores retiraram a eIF2A da célula e catalogaram que parceiros proteicos estavam ligados a ela.
Muitos revelaram-se componentes do centrossoma, uma estrutura molecular que organiza os microtúbulos e orienta as células durante o movimento. Quando a eIF2A estava ausente, o centrossoma apontava frequentemente na direção errada enquanto as células tentavam avançar.
Experiências adicionais revelaram que a eIF2A trabalha para preservar partes do centrossoma para que aponte a célula na direção certa durante o movimento.
A cauda da proteína é fundamental para o poder de migração da célula. Cortar a cauda afetou a capacidade de movimento da célula e poderia ser um alvo potencial amigável para medicamentos.
“A cauda comporta-se como cimento de andaime, mantendo partes cruciais da bússola celular do melanoma no lugar para que as células malignas possam navegar para fora do tumor primário”, diz Jennifer Jungfleisch, primeira autora do estudo.
Os autores do estudo notam que a dependência da eIF2A apenas emerge após a transformação maligna, sugerindo uma janela terapêutica que poderia poupar tecidos saudáveis. No entanto, mais trabalho precisa de ser feito para ver como a perturbação do comportamento da proteína funciona em tecidos e modelos animais.
“Neste campo, muitos alvos terapêuticos potenciais provam ser redundantes ou essenciais para células normais, mas a descoberta de uma proteína que silenciosamente se torna indispensável apenas quando as células se tornam metastáticas poderia ser uma captura rara”, diz Gebauer.
“Qualquer vulnerabilidade potencial conta”, conclui a investigadora.