O presidente do Chega, André Ventura, prometeu hoje que o partido terá um candidato próprio nas eleições presidenciais de 2026 caso as opções sejam Luís Marques Mendes e Augusto Santos Silva, considerando tratar-se de “legítima defesa”.
Em declarações aos jornalistas, no final de uma iniciativa sobre problemas de habitação e pessoas sem-abrigo em Lisboa, André Ventura quis comentar a possibilidade admitida no domingo à noite por Marques Mendes de ser candidato a Presidente da República.
A concretizar-se este avanço do ex-líder do PSD, o presidente do Chega considerou que existe a possibilidade de concorrerem às presidenciais de 2026 “dois inimigos declarados do Chega“: o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, à esquerda, e o ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, à direita.
“Queria dizer sem margem para dúvidas, sem segundas voltas e sem irrevogáveis: se este for o cenário, o Chega terá novamente um candidato presidencial e procuraremos quebrar o domínio destas duas personalidades, que não são boas para a democracia e para Portugal”, disse.
Ventura não quis concretizar se poderá ser ele próprio o candidato, como aconteceu em 2021 – “poderá ser ou poderá não ser” – e deixou em aberto a possibilidade de o Chega apoiar um candidato de ou outro partido à direita, dependendo de quem fosse, dizendo apenas “ter respeito” por Paulo Portas, mas duvidando de que o antigo líder do CDS-PP avance para Belém.
“Com estes dois candidatos, sei o que dizem e pensam do Chega, e a dificuldade que poderiam criar nomeadamente à participação do Chega num Governo constitucional”, insistiu, considerando que quer Santos Silva quer Marques Mendes seriam “de longe” piores Presidentes do que o atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Questionado se uma fragmentação à direita não poderia beneficiar o candidato presidencial da esquerda, André Ventura disse estar convicto de que serão eleições muito disputadas e com uma segunda volta.
“Os eleitores à direta terão de escolher se preferem ter o candidato do Chega ou Luís Marques Mendes. A nossa batalha é à direita, e queremos ter uma candidatura que impeça Luís Marques Mendes chegue à segunda volta e que impeça que Marques Mendes ou Santos Silva possam ser Presidentes”, frisou.
No seu comentário televisivo na SIC, no domingo à noite, o ex-presidente do PSD Marques Mendes admitiu uma candidatura presidencial “se houver utilidade para o país” e “um mínimo de condições para avançar”, rejeitando ter qualquer decisão neste momento ou acordo com o líder social-democrata, Luís Montenegro.
“Se eu um dia achar que com uma candidatura à Presidência da República posso ser útil ao país – é isso que conta -, se vir que tem alguma utilidade para o país uma candidatura minha e um mínimo de condições para se concretizar, sou franco, tomarei essa decisão, independentemente de acordo ou não acordo”, afirmou.
O antigo líder parlamentar frisou que se trata de “uma decisão livre, pessoal e individual”.
“Insisto: se houver utilidade para o país e um mínimo de condições, se não houver estes requisitos não haverá decisão nenhuma e também está tudo bem”, disse Mendes, considerando que “é uma decisão muito pesada” e salientando faltar “uma eternidade” para as presidenciais de janeiro de 2026.
Ventura vai voltar a ser candidato?
Apesar de ter esta segunda-feira deixado a questão em aberto, André Ventura deve mesmo ser o candidato do Chega às presidenciais de 2026.
Segundo adiantou em janeiro o Nascer do Sol, a decisão já foi discutida internamente no partido, tendo o líder do Chega sido escolhido para disputar o lugar atualmente ocupado por Marcelo Rebelo de Sousa.
Ventura já foi candidato nas eleições presidenciais de 2021, nas quais ficou no terceiro lugar, com 11,9% dos votos, atrás Marcelo Rebelo de Sousa (60,7%) e de Ana Gomes (13%) e à frente de João Ferreira (4,3%), Marisa Matias (4%), Tiago Mayan Gonçalves (3,2%) e Vitorino Silva (2,9%).
“Marcelo Rebelo de Sousa é a face deste sistema, nasceu neste sistema, cresceu com este sistema e defende este sistema. Nós somos precisamente o oposto“, disse Ventura, aquando do anúncio da sua candidatura, em fevereiro de 2020.
Santos Silva não convence
O desempenho de Santos Silva nas sondagens relativas ao próximo presidente da República é uma “desilusão” no PS, e os socialistas já procuram outras alternativas para a corrida a Belém.
Apesar de se ter dito Santos Silva poderia chegar a Belém à boleia do Chega, graças ao mediatismo que tem tido com os sucessivos confrontos com André Ventura no Parlamento, há também quem não os aplauda.
Assim, o PS já pensa em alternativas e coloca Mário Centeno como “reserva” na corrida a Belém, estando a aumentar o número de socialistas que defende a candidatura a Belém do “ministro que conseguiu o primeiro superavit orçamental depois de Salazar“.
Entretanto, no PSD começa a ganhar forma um potencial candidato: o ex-líder do partido, Pedro Santana Lopes. Não é a primeira vez que é apontado a Belém, mas, desta vez, o antigo presidente da Câmara da Figueira da Foz admite que está “no caminho” de regresso ao PSD.
Esse passo retorno à “casa-mãe”, como Santana Lopes fala do PSD, pode culminar com a escolha do eterno “enfant terrible” da política portuguesa como o candidato social-democrata a Belém.
ZAP // Lusa