A DECO Proteste apela aos consumidores para que não comprem hambúrgueres já picados nos talhos, onde encontrou bactérias nocivas e aditivos alergénicos usados para fingir que a carne é fresca.
Num estudo publicado esta segunda-feira, a associação de defesa dos consumidores diz que identificou carne guardada a temperaturas demasiado altas, “milhões de bactérias por grama“, entre as quais a salmonella e outras de origem fecal, demasiada gordura e sulfitos usados ilegalmente como conservantes.
“Desaconselhamos de todo a compra de carne previamente picada e de hambúrgueres frescos já preparados nos talhos”, disse à Agencia Lusa o técnico Nuno Lima Dias, que defende que o Governo deve proibir a venda deste formato.
Para o estudo, a DECO foi a 25 talhos de Lisboa e Porto e pediu hambúrgueres de carne de vaca que não contivesse cereais ou vegetais, para que estivesse livre de sulfitos, mas mesmo assim encontrou este tipo de conservantes de forma “escondida e ilegal” em 80% das amostras, por vezes em “quantidades enormes”.
Os sulfitos podem provocar alergias, náuseas, dores de cabeça, problemas de pele, digestivos e respiratórios, alertou, acrescentando que a reação alérgica pode, embora em casos muito raros, ser potencialmente mortal.
Os talhos estão fora da lei também por armazenarem a carne a temperaturas “muito superiores ao que a lei permite”, apontou, referindo que se recomenda que não excedam os 2ºC, mas a média ronda os 8ºC, chegando em alguns casos aos 14ºC.
Nuno Lima Dias afirmou que “os consumidores estão desprotegidos” quando compram os hambúrgueres já picados, uma vez que não há maneira de detetar, olhando para a carne, se esta é de qualidade inferior, sobretudo quando se usam sulfitos, que evitam o escurecimento da carne.
Foram encontradas ainda bactérias como a salmonella e E. coli, de origem fecal, que podem provocar infeções alimentares.
A DECO defende que se deve escolher a peça de carne no talho e pedir para a picar na hora, ou comprar e picar em casa. Na preparação da carne, deve cozinhar-se bem o alimento e evitar que entre em contacto com outros que são consumidos crus.
“Nada passou do razoável, a grande maioria dos estabelecimentos chumbou”, disse Nuno Lima Dias.
ASAE admite medidas adicionais de fiscalização aos talhos
A Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) vai analisar o estudo da DECO sobre a carne picada vendida nos talhos e admite tomar medidas de fiscalização suplementar se tal se justificar.
Em declarações à Lusa, o inspetor-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, disse desconhecer ainda o estudo da DECO, mas considerou que é um bom contributo para a defesa do consumidor e que o vai remeter para o conselho científico da ASAE.
“Analisaremos o estudo e remeteremos para o Conselho Científico e, se necessário for, tomaremos medidas de fiscalização suplementar”, afirmou o responsável.
Pedro Portugal Gaspar considerou também que esta é uma matéria “já sinalizada” pela ASAE e que tem sido muito acompanhada pelas autoridades.
Segundo disse, em 2016 foram inspecionados uma média de dois talhos por dia, num total superior a 600. “É um setor com vários incumprimentos, como há vários. O incumprimento zero, o risco zero não existe “, disse.
Questionado sobre se faria sentido alguma proposta da parte da ASAE para uma alteração legislativa que proibisse a venda de hambúrgueres já feitos nos talhos, o responsável lembrou que “o quadro legal obedece a um enquadramento comunitário“.
“Portugal é parte integrante e tem de ter presente qual o quadro sobre este tipo de situações nos vários países da União Europeia e nós, com os vários parceiros da UE não temos uma sinalização de risco que se coloque neste tipo de situação”, acrescentou.
Pedro Portugal Gaspar lembrou ainda que a ASAE tem de ter elementos que lhe que permitam atuar para eventuais suspensões de atividade ou encerramentos de instalações.
“Temos de ter elementos para poder tomar medidas com a devida proporcionalidade, sob pena de tomar medidas desproporcionais para todos os agentes, quer consumidores que agentes económicos”, concluiu.
// Lusa
Já em 2015 alertaram para o facto de utilizarem sulfitos nas carnes picadas.
Mas a ASAE deve andar mais ocupada a fazer fiscalizaçoes as empresas para saber se tem livro de reclamações do que fiscalizar o que realmente importa.