Portugal tem assistido desde o dia 25 de março a um abrandamento do aumento percentual diário de novos casos de covid-19, segundo dados divulgados pelo Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
Segundo Carla Nunes, investigadora da ENSP, tem-se assistido a uma redução do aumento percentual diário de novos casos entre 7% a 20% (média de 15,7%), bem diferente dos valores das semanas anteriores, cujas percentagens tinham médias de 24,8% e 407%”.
Os investigadores do projeto do Barómetro Covid-19, um projeto de investigação que acompanha “passo a passo” a evolução da pandemia em Portugal, apelam, em comunicado, para que haja “cautela na interpretação destes dados”, uma vez que “a análise da evolução das curvas espanhola e italiana também tem tido um abrandamento no aumento relativo de casos diários”.
Comparativamente à semana anterior, os gráficos do modelo matemático da Escola Nacional de Saúde Pública desta semana do barómetro mostram “uma aproximação a Itália e, em vez de 11, por cada 100 novos casos italianos, Portugal espera agora 14”.
“Em relação a Espanha, a curva portuguesa apresenta um ligeiro afastamento: 20 casos novos por cada 100 casos espanhóis, quando na semana anterior eram 22”, refere a ENSP.
Além da comparação com países culturalmente e “matematicamente” parecidos com Portugal – Itália, Espanha e Reino Unido -, a equipa do Barómetro Covid-19 alargou a análise à Coreia do Sul, Singapura e Japão, “países que têm sido identificados como eficazes no controlo da pandemia”.
“Esta análise comparativa permite-nos perceber claramente as diferenças entre a evolução das curvas latinas, que são exponenciais, e as curvas orientais, que têm um formato achatado”, referem os investigadores.
Em comparação, por cada 100 novos casos no Japão são esperados 4.681 novos casos em Portugal, por cada 100 novos casos na Coreia do Sul, são esperados 467 novos casos e por cada 100 novos casos em Singapura são esperados 5.639 novos casos em Portugal.
Impacto das medidas
O Barómetro está interessado em investigar de que forma é que os comportamentos das curvas são resultado do impacto das medidas tomadas nos diferentes países.
“Nos países orientais analisados, os testes em massa, as ações de isolamento, a quarentena com ‘pulso de ferro’ e a forte adesão da população a estas medidas parecem ter tido um papel fundamental no achatamento da curva”, explica Carla Nunes.
Apesar da semelhança da curva portuguesa com a espanhola e a italiana, os investigadores ressalvam que Portugal tomou várias medidas para o controlo da epidemia mais cedo do que estes países. “Já não falta muito para percebermos se foi suficientemente cedo para aplanar o pico da nossa curva e mudar a sua forma”, refere, adiantando que o Barómetro Covid-19 espera poder realizar essa análise no decorrer da próxima semana.
O Barómetro Covid-19 é um projeto de investigação da ENSP da Universidade NOVA de Lisboa que acompanha passo-a-passo a evolução da pandemia da Covid-19 em Portugal.
Portugal segue num “bom sentido”
O presidente do Conselho Nacional de Saúde afirmou esta quinta-feira que tudo indica que Portugal está a “ir num bom sentido”, mas que é fundamental a população não esquecer que “vai sair lentamente” da pandemia.
“Parece que as coisas estão a ir no bom sentido, mas não podemos fazer de conta que não se passou nada, que o mundo volta a ser como era e decretar o fim da epidemia como se decreta um feriado no país”, salientou à Lusa Henrique Barros.
O também presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que falava à Lusa a propósito da declaração da Associação de Escolas de Saúde Pública da Região Europeia (ASPHER) sobre a covid-19, lembrou que é fundamental a população “não esquecer” os cuidados de higiene que tem vindo a adotar.
“Não podemos voltar a não limpar as mãos ou superfícies. Se tivermos essa atitude, para o ano vamos ter menos infeções respiratórias e ser mais saudáveis”, defendeu.
Henrique Barros, que é um dos signatários da declaração da ASPHER, lembrou que, à semelhança dos cuidados de higienização, é também fundamental as pessoas, os países e a Europa “reconhecerem o papel da saúde pública e dos seus profissionais”.
“A gente só se lembra da saúde pública quando ela falta. Ora, uma pandemia como esta, de caráter internacional, é o momento em que as pessoas se lembram da saúde pública. Portanto, agora que estão a ver para que é que servimos, lembrem-se que não se podem esquecer”, referiu, acrescentando que os profissionais de saúde, um pouco por toda a Europa, não estão, “tanto como deviam”, a ser incluídos na tomada de decisão.
Henrique Barros afirmou que em Portugal tem sido feito “um esforço sincero” para incluir, nesta crise, o “contributo da ciência, e, em particular, das universidades”.
“A ciência é como um fluxo, se estiver viva, as soluções aparecem em qualquer momento, se não estiver a funcionar, ou não tivermos feito há algum tempo investimento, os cientistas não se readaptam”, esclareceu.
ZAP // Lusa
… isto é apenas resultado de estarem a racionar os testes. Além de que os assintomáticos são 3, 4 ou 5 vezes mais e são tão contagiosos como os outros e estão sem máscara em contacto com as pessoas mais próximas.
Por enquanto ainda não vejo qualquer razão para achar que 3 dias são um indicador fiável.
Houvesse testes para testar mais pessoas e apesar da realidade ser a mesma as conclusões seriam outras.
Parabéns ao pessoal da saúde pelo baixo numero de mortes, muito obrigado.