Livro infantil e interferência em eleições. Biografia pirateada revela passado do líder do Grupo Wagner

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Kremlin / Wikipedia

Yevgeny Prigozhin (dir), o cozinheiro-chefe de Vladimir Putin (c)

Uma biografia obtida por piratas informáticos revela detalhes até agora desconhecidos sobre o passado do líder do exército mercenário Grupo Wagner e um dos braços direitos de Putin.

Yevgeny Prigozhin, que durante anos foi conhecido no Ocidente como o “chef de Putin” por ter um negócio de catering usado pelo Kremlin, tem estado agora nas notícias por outros motivos — é o líder do exército de mercenários Grupo Wagner, que tem estado na linha da frente na guerra na Ucrânia. Prigozhin é também agora um dos rostos mais influentes da política russa, com os seus conflitos com o Ministro da Defesa a fazer correr muita tinta na imprensa.

Mas muito do passado de Prigozhin continua a ser um mistério. No entanto, um recente ataque informático em massa a empresas e agências russas revelou um documento que inclui uma biografia do líder mercenário e desvenda alguns segredos do seu passado.

O documento de cinco páginas foi roubado aos servidores da Capital Legal Servies, um escritório de advogados russo que representou Prigozhin em vários processos que este enfrentou no Ocidente, como o recurso contra a imposição de sanções por parte da União Europeia, processos contra jornalistas que desvendaram as suas ligações ao grupo Wagner e processos contra as acusações de interferência nas eleições nos Estados Unidos, relata o The Intercept.

Este currículo pinta assim uma imagem diferente de Prigozhin, que tentava lavar a sua reputação enquanto senhor da guerra e oligarca próximo de Putin, reputação  que abraçou mais tarde com o início do conflito na Ucrânia. As referências ao seu papel no grupo Wagner estão, por esta razão, notoriamente ausentes do documento.

O passado na prisão e o livro infantil

Nascido a 1 de Junho de 1961, em Leninegrado, Prigozhin é filho de uma enfermeira e de um engenheiro minério, que morreu quando o mercenário tinha nove anos. Prigozhin tinha um talento especial para o ski, mas teve de abandonar o desporto devido a uma lesão, trabalhando mais tarde como treinador numa escola desportiva para crianças.

Em 1979, foi condenado com pena suspensa por roubo e, dois anos mais tarde, foi condenado por quatro crimes, desde roubo armado a fraude “que envolve menores em actividades criminais”, tendo sido sentenciado a 13 anos numa colónia penal.

O documento refere que Prigozhin violou os termos do seu confinamento regularmente até 1985, quando começou a “ler intensamente” após ser colocado em prisão solitária. Em 1988, o Supremo Tribunal da Rússia reduziu a sua sentença para 10 anos devido às melhorias no seu comportamento.

Após a sua libertação em 1990, Prigozhin começou a tirar um curso de farmacêutico, mas não o terminou. Casou e teve três filhos, e uma das revelações mais curiosas é a referência a “Indraguzik”, um livro de fantasia infantil que Prigozhin escreveu com dois dos seus filhos e que vendeu 1000 cópias. O livro detalha as aventuras dos residentes de Indraguzia, um reino chefiado pelo rei.

O rei do catering na Rússia

Foi também nos anos 90 que começou a investir na indústria da restauração, creditando umaa visita aos Estados Unidos em 1993 como a sua inspiração para lançar uma cadeia de fast-food na Rússia. Nos anos seguintes, Prigozhin abriu abriu uma fábrica de alimentos, um bar e um restaurante de luxo que “imediatamente se tornou o lugar mais elegante de São Petersburgo”.

A sua empresa, Concord Management, começou a trabalhar para o Kremlin em 2000, quando Putin ascendeu à presidência da Rússia. O documentod descreve Prigozhin como “um dos melhores no sector” e enumera alguns dos rostos influentes a quem serviu comida, como George W. Brush, Bill Clinton, Tony Blair ou o Príncipe Carlos.

O documento refere ainda que, até ao regresso de Putin à presidência em 2012, Prigozhin era “politicamente indiferente“. No entanto, os artigos “difamatórios” do órgão independente Novaya Gazeta ameaçaram o seu negócio e “forçaram-no a vender bens pessoais”.

Prigozhin recebeu ainda várias condecorações, incluindo a ordem de Mérito da Pátria. Em 2016, o mercenário começou a ser alvo de sanções por parte dos Estados Unidos e em 2018 foi acusado de interferir nas eleições presidenciais de 2016 no relatório de Robert Mueller.

A Interpol também emitiu um mandado para a sua detenção a pedido dos EUA, que foi revogado dois anos mais tarde porque “a acusação parecia ser de natureza política”. Prigozhin, que permanece sob acusação nos EUA, admitiu desde então publicamente o seu papel na interferência eleitoral.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Este foi um mais um dos afortunados pelo fim da URSS. Se não fosse isso, não tinha enriquecido com os restaurantes e o que isso lhe proporcionou.

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