“Só quero não ser bombardeada”: criança ucraniana descreve nova rotina

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Especialista avisa: as crianças que estão a viver esta guerra vão “suportar as cicatrizes” deste conflito até à idade adulta.

“Acordo e escovo os dentes. Depois tomo o pequeno-almoço. Depois, sento-me para as aulas. Depois das aulas tenho um pequeno descanso e depois almoço. A seguir, brincamos na rua”.

Até aqui, esta parece a rotina normal de uma criança.

Mas esta é a rotina de Alina, uma criança ucraniana que vive em Mykolaiv com a sua irmã Christina e com os seus pais.

Mykolaiv é uma das cidades no sul da Ucrânia que têm sido atacadas pelas forças russas.

Em cenário de guerra, as aulas de Alina são à distância, acompanhadas através de um telemóvel com ecrã partido.

E, em cenário de guerra, a maioria do seu tempo é passada numa cave. O relato prossegue: “Quando a sirene começa ou o bombardeamento começa, brincamos na cave. No momento em que bombardeiam, a mãe desce. O pai fica lá em cima. Mas quando o bombardeamento é pesado o pai também desce”.

“Neste momento, só quero não ser bombardeada”, admite a criança, em declarações ao Euronews.

O pai de Alina e Christina não faz planos. Não adianta: “O que é que posso planear hoje? Eles podem bombardear-nos, não vale a pena tentar adivinhar o futuro. Vem um míssil e nós deixamos de existir. Não vejo sentido em falar sobre isso. Vivemos o dia-a-dia”.

Exposição e stress

Joe English, porta-voz da Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), acredita que todas as crianças na Ucrânia estão a ser afectadas pela guerra, de uma forma ou de outra.

Os casos mais graves são os das crianças que “foram directamente expostas à violência, a semanas de bombardeamentos, vivendo no subsolo em abrigos. Isto pode provocar distúrbios de stress pós-traumático”, alerta.

Jack Shonkoff, do Centro de Desenvolvimento da Criança na Universidade de Harvard (EUA) diz que as crianças “vão suportar as cicatrizes deste conflito, de uma forma ou de outra, até à idade adulta”.

Não é precisa a ciência para nos perguntarmos se as crianças serão prejudicadas por isto”, continua Jack, que explica o que acontece no corpo humano quando o sistema de stress é activado.

“Os níveis de hormonas de stress aumentam na corrente sanguínea, o ritmo cardíaco sobe, a pressão sanguínea sobe, o sistema imunitário é activado, de modo que a inflamação é elevada dentro do corpo. Os níveis de açúcar no sangue sobem, trazendo energia ao cérebro para pensar mais claramente e trazendo energia aos músculos para lutar ou correr”, descreve.

“E todos esses sistemas, se não voltarem aos níveis de base, começam a ter um efeito em partes do cérebro que podem afectar o comportamento, o estado mental e a saúde mental, mas também podem afectar o sistema cardiovascular, o sistema imunitário e os sistemas metabólicos num efeito acumulativo de desgaste”, acrescenta o especialista.

Jack Shonkoff admite que os problemas de saúde mental são “profundamente importantes”, mas também vão surgir problemas de saúde física, embora “mais tarde”.

Estima-se que mais de 200 crianças já tenham morrido por causa da guerra na Ucrânia.

As que sobrevivem ficam mais expostas a crimes, como o tráfico de seres humanos e a exploração sexual.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

3 Comments

  1. O que dirão as crianças russas da região do Donbass? Sim as crianças russas de Lugansk e Donetsk que nos últimos 8 anos foram bombardeadas constantemente pelo exército ucraniano. Foi aliás esta a gota de água para a tomada de posição da Rússia. Só pecou por tardia.
    Os portugueses estão com Putin. Grande Putin.

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