Marcelo Rebelo de Sousa ameaçou António Costa com eleições antecipadas caso o primeiro-ministro deixe o cargo em 2024 para rumar à União Europeia – mas o sonho europeu pode esperar.
O ultimato do Presidente da República foi proferido na tomada de posse do novo elenco governativo: se o primeiro-ministro decidir sair em 2024 para ocupar um cargo europeu, Marcelo convoca eleições antecipadas.
“Agora que ganhou e ganhou por quatro anos e meio, tenho a certeza que V. Exa. sabe que não será politicamente fácil que esse rosto, essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições, possa ser substituída por outra a meio do caminho”, atirou o chefe de Estado, não dando aso a manobras.
Se o atual primeiro-ministro quiser ir para um cargo europeu, haverá eleições com o inevitável risco de, daqui a dois anos, o PS perder as legislativas ou a maioria absoluta conquistada há dois meses.
António Costa terá registado com satisfação o aviso do Presidente, que parece nem sequer o ter beliscado. “Para o primeiro-ministro, é óbvio desde 30 de janeiro que não será candidato a qualquer cargo europeu em 2024“, garantiu ao semanário Expresso fonte próxima de Costa.
Aliás, o chefe de Governo “gostou muito de ouvir o Presidente atribuir-lhe uma legitimidade que até agora só o Presidente da República tinha: a de ter sido eleito pessoal e diretamente pelos portugueses”, acrescentou a mesma fonte.
Estas declarações antecipam a intenção do primeiro-ministro cumprir o mandato até ao fim, sem que tal implique necessariamente a desistência de um sonho, que fica assim adiado para 2026.
Em entrevista ao Público, divulgada esta quinta-feira, a eurodeputada do PS Margarida Marques sinaliza que “António Costa foi eleito e constituiu um Governo para quatro anos e alguns meses e seguramente vai assegurar o seu mandato até ao fim”.
“É evidente que António Costa pode sempre, depois de sair do Governo, se assim o entender, exercer a função de presidente de uma instituição europeia. Ele já foi deputado europeu”, acrescenta a socialista.
“Penso que pela implicação de António Costa durante a campanha eleitoral, pelo programa político que apresentou, está empenhado em governar o país.”
Se Costa soube receber o discurso aceso do Presidente, o mesmo não aconteceu ao PS, que parece não ter gostado da achega de Marcelo Rebelo de Sousa.
“Uma pessoa pode deixar de ser comentador, mas fica agarrado à pele“, atirou o deputado Pedro Delgado Alves no programa Linhas Vermelhas, da SIC, acrescentando que o Presidente fez “especulação, sobre especulação, sobre especulação… uma torre de cartas”.
Já Carlos César, presidente do Partido Socialista, usou o Facebook para corrigir o Presidente, dizendo que Costa só está “refém do povo” e é fiscalizado pelo Parlamento.
Quem não quis ir longe nos comentários foi o novo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.
“A única coisa que eu posso dizer, visto que assisti à tomada de posse, é que assisti a dois excelentes discursos, nos quais os protagonistas disseram o mesmo: que era todo o interesse que o atual Governo vá até ao fim da legislatura, até outubro de 2026. Um pediu, o outro comprometeu-se”, afirmou, em entrevista à CNN Portugal.
Grande novela… quando não há drama, arranja-se…