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Do Conselho Nacional do PSD, saiu um Rangel candidato e um Rio “muito preocupado” — mas sobretudo derrotado

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Mário Cruz / Lusa

O eurodeputado e conselheiro do Partido Social Democrata, Paulo Rangel

O eurodeputado e conselheiro do PSD, Paulo Rangel

Sociais-democratas vão mesmo a eleições internas a 4 de dezembro, apesar da tentativa de Rui Rio em tentar adiar a votação. Paulo Rangel é, até ao momento, o único candidato.

Há muito que as peças do xadrez se andavam a mover. Era percetível dentro das hostes do PSD, mas também junto da opinião pública — até da mais distraída. Independentemente do resultado que o partido conseguisse nas autárquicas, Rui Rio iria ter a sua liderança contestada e ameaçada, restava saber se: 1) seria candidato — o próprio deixou esta questão ainda antes das eleições, das quais fez depender uma possível recandidatura consoante os resultados alcançados (sem nunca estabelecer o que seria uma vitória ou uma derrota para o próprio); 2) quais os seus adversários — Paulo Rangel parecia ser uma peça confirmada, restando ainda dúvidas acerca, por exemplo, das intenções de Luís Montenegro ou Miguel Pinto Luz; 3) o calendário que iria marcar toda a luta interna do PSD.

Quando ainda não passaram três semanas das autárquicas — nas quais o PSD parecia ter alcançado uma aparente vitória, graças à vitória de Carlos Moedas, e balão de oxigénio de Rui Rio enchido o suficiente para lhe garantir vida até às próximas legislativas —, o tabuleiro está finalmente mais translúcido e as peças perfiladas. Desde o início do dia de ontem que pairava no ar a ideia que Paulo Rangel iria mesmo ser candidato à liderança do partido, depois de ser incentivado a avançar o mais rápido possível.

O atual líder queria adiar a realização das diretas para manter os sociais-democratas a par dos desenvolvimentos das negociações do Orçamento do Estado para 2022 que, em caso de chumbo, podem resultar na queda do Governo e eleições antecipadas, que Rio está aparentemente convicto de que poderia ganhar a António Costa — apesar dos relatos contraditórios vindos de dentro do partido de que, afinal, poderá não se recandidatar.

À entrada da reunião do Conselho Nacional de ontem, escreve o Expresso, “o ambiente estava tenso” e, à chegada, Rui Rio não perdeu tempo a disparar sobre os adversários, persentindo o toca a reunir dos adversários. “Lamento que o partido tenha chegado a este estado depois das autárquicas. No espaço de 15 dias já estão a tentar destruir o elã conseguido”, atirou para logo depois acrescentar que os que lhe querem fazer frente “perderam o sentido das coisas e estão meios loucos“. Questionado ainda pelos jornalistas sobre se teria legitimidade para ser candidato às legislativas sem que se realizassem diretas no partido, Rio respondeu de forma crispada. “Claro que sim… essa pergunta não faz sentido nenhum”, retorquiu.

Da parte de Rangel (que chegou acompanhado de Alberto Machado, líder da distrital do Porto, de José Manuel Fernandes, eurodeputado, e Margarida Balseiro Lopes, deputada e antiga mandatária de Luís Montenegro) , o ponto é claro: será candidato independentemente “dos resultados das votações” que se iriam realizar no Conselho Nacional e que visavam, por exemplo, estabelecer o calendário das eleições diretas.

A assunção da candidatura foi feita “olhos nos olhos” com Rio e, segundo o eurodeputado, com “toda a liberdade e lealdade” — uma referência às acusações que lhe foram dirigidas por David Justino, vice-presidente do partido. “Não aceito lições de lealdade do Dr. David Justino”, disse. Rangel recuou ainda mais para se atirar à atual direção, lembrando as eleições europeias de 2019. “Quando perdi as europeias podia ter culpado o PSD nacional e o Justino pelo acordo que fizeram com o PCP e BE nos professores e que nos baixou o resultado e nunca o fiz. “Pelo contrário, o líder do PSD culpou-me pelos resultados. Eu não sou assim. Sou leal e frontal“, reiterou.

A votação decisiva, a da proposta apresentada por Rio para adiar as diretas, foi rejeitada de forma clara: 70 votos contra a 40 a favor. Números que não deixam espaço para dúvidas e que é especialmente relevante quando, como lembra o Expresso, é sabido que os Conselhos Nacionais favorecem tendencialmente os líderes.

Numa reação aos jornalistas, já finda a reunião, Rui Rio reconheceu que a noite de ontem e o resultado da votação eram peças que lhe faltavam na tomada de decisão relativamente ao seu futuro, que diz ainda não estar completa, apesar de estar para ser conhecida “brevemente”. O líder assumiu ainda discordar “pro-fun-da-men-te de uma maioria significativa do Conselho Nacional”. “Aquilo que o CN decidiu é totalmente contra o que eu entendia que devia ser decidido.” Rio afirmou ainda que nunca viu o “partido a correr um risco desta dimensão” e que a partir de ontem o PSD “está totalmente nas mãos de um entendimento que possa haver ou não entre o PS e o PCP ou entre o Bloco e PS”, a qual considera ser uma “situação de enorme fragilidade” que o preocupa.

Paulo Rangel, por sua vez, fez uma leitura diferente do sucedido e do próprio resultado da votação. “Não aceito que o PSD seja o partido da espera: esperando que o governo de Costa caia de podre”, atirou para depois vincar que “não é a denunciar as sondagens e a imprensa que temos um projeto para o País” — numa clara acusação a Rui Rio e ao que foi o discurso durante a campanha eleitoral para as autárquicas, sobretudo na campanha de Carlos Moedas à Câmara de Lisboa.

O que fica do Conselho Nacional é que o partido vai efetivamente a eleições diretas a 4 de Dezembro, data que coincide com a da morte de Sá Carneiro, seu fundador. A segunda volta, a realizar-se, irá coincidir com o congresso da Associação Nacional de Municípios. Para além da marcação da data, o órgão também aprovou o prolongar do prazo das datas para os militantes poderem pagar as suas quotas — uma vitória para Rangel, apesar do pouco tempo que tem para preparar a candidatura.

ARM //

7 Comments

  1. Pelas indicações vindas de Bruxelas, tudo indica que Rangel vai ser o primeiro presidente do PSD apoiado pelas indústrias da cerveja e do vinho, o que é sem dúvida um bom sinal eleitoral.

  2. No meu tempo de Salazar era proibido falar de Gueis, da-se o 25 de Abril, já se pode falar, vou me por no ramalho, antes que seja obrigatório.

  3. Rangel como o Pinto às escuras têm os dias contados. O Patos já morreu.
    Vamos lá Rio as batalhas não são para perder. Capitão Malheiro chegou a hora .Sempre que for preciso puxas da espada e fazes como o Nuno Álvares Pereira.

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