A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) adiantou esta sexta-feira que detetou “indícios de fuga de informação” por altura da preparação da aplicação da medida de resolução ao Banco Espírito Santo (BES), em 2014, através de “diligências internacionais”.
O supervisor do mercado português constatou, “com base em diligências internacionais realizadas, indícios de fuga de informação sobre atos destinados a preparar a adoção da medida de resolução“, lê-se no relatório anual de 2015 da CMVM, ontem divulgado.
A entidade liderada por Carlos Tavares efetuou “diligências destinadas a confirmar e a apurar o modo de obtenção de informação privilegiada sobre a iminente intervenção no BES e a constituição de um bad bank e sobre o âmbito da eventual transmissão dessa informação a investidores que a possam ter utilizado para realizar transações”.
Uma das prioridades da CMVM foi fazer a análise prévia da negociação, tendo por objetivo “verificar as vendas de ações BES que carecessem de ser esclarecidas em sede de averiguações preliminares” e foi esta análise que permitiu selecionar os investidores a investigar.
Os processos incidiram sobre investidores institucionais e sobre investidores particulares.
No caso dos institucionais, as averiguações preliminares recaíram sobre 35 investidores que efetuaram vendas em quantidades muito significativas.
“Os investidores analisados apresentam características distintas. Tratou-se maioritariamente de sociedades gestoras de ativos ou de fundos internacionais globais, o que motivou em muitos casos a necessidade de proceder a uma análise por conjuntos de fundos geridos pelo mesmo decisor. Tratou-se também de alguns detentores de participações qualificadas ou mesmo de short-sellers“, avançou a CMVM.
O supervisor realçou que, só na última semana de negociação, no seu conjunto, as vendas dos institucionais investigados representaram uma percentagem próxima dos 65% do total de ações do BES alienadas na Euronext Lisbon, chegando a representar 85% do total no dia que precedeu a divulgação dos resultados semestrais.
Já no caso dos investidores particulares, “após a completa identificação dos comitentes, foram objeto de averiguações todos aqueles que nas imediações da divulgação dos resultados semestrais alienaram ações do BES que lhes permitiram evitar menos valias de relevo e todos os que efetuaram expressivas vendas líquidas de ações do BES nas duas últimas sessões de mercado”, salientou.
No total foram investigados 48 investidores particulares.
“Em alguns casos, considerados mais suspeitos, a CMVM recorreu à prerrogativa de aceder e analisar os registos de comunicações dos investidores, depois de obtida a competente autorização judicial. A CMVM utilizou também a sua competência para realizar inquirições”, informou o supervisor.
ZAP / Lusa
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