A China estará a equacionar substituir Carrie Lam, chefe do governo de Hong Kong, por um líder interino, na sequência dos protestos violentos que decorrem na cidade há cinco meses.
De acordo com o Financial Times, o novo chefe de governo interino deverá subir ao poder em março e manter-se até ao fim do mandato de Carrie Lam, em 2022. Entre os candidatos, estarão Norman Chan, atual chefe da autoridade monetária de Hong Kong, e Henry Tang, atual número dois do governo de Hong Kong.
Entre os potenciais candidatos ao lugar estão também Paul Chan e Bernard Chan, que fazem parte do conselho executivo de Lam. O primeiro é o responsável pelas finanças do governo regional e o segundo lidera um conselho executivo de aconselhamento ao governo regional.
“Queremos olhar para pessoas que serviram no governo regional, mas também para quem saiba como funcionam os negócios aqui”, declarou um membro da elite de Hong Kong próximo do Governo central chinês. “E claro que têm de se apoiar em Pequim”.
O governo chinês deverá esperar pelo final dos protestos antes de anunciar a decisão.
A chefe de governo propôs demitir-se do cargo em junho, algo que o governo chinês rejeitou quando confrontado inicialmente com essa possibilidade.
Os protestos em Hong Kong já duram há cinco meses, com os manifestantes a fazerem cinco exigências (revogação da lei da extradição, inquérito à violência policial, libertação de ativistas detidos, mais liberdades democráticas e a demissão de Lam).
Em finais de agosto, Carrie Lam terá proposto a Pequim ceder a algumas das exigências feitas pelos manifestantes, algo que não terá agradado aos representantes do Partido Comunista Chinês.
Esta não seria a primeira substituição ao governo de Hong Kong. Quando o primeiro líder do executivo regional apontado por Pequim, Tung Chee-hwa, se demitiu em 2005, o seu substituto serviu o resto do mandato e foi depois nomeado para servir mais um mandato de cinco anos.
Suspeito de homicídio que acendeu protestos libertado
As autoridades de Hong Kong libertaram esta quarta-feira Chan Tong-kai, o jovem acusado de matar a namorada grávida em Taiwan, no ano passado, de acordo com a BBC. Este caso esteve na base do polémico projeto de lei de extradição, que acendeu o rastilho para os protestos.
Hong Kong e Taiwan não têm um acordo de extradição e, ao propor uma alteração à lei, o Executivo de Hong Kong citou este caso.
Após 19 meses na prisão por lavagem de dinheiro e por levantamento de dinheiro do cartão de crédito da namorada, Chan, de 20 anos, pediu desculpas à família da vítima e afirmou-se disposto a entregar-se em Taiwan.
Ainda não é claro como acontecerá a transferência para que o jovem responda em Taiwan pela acusação de homicídio. Hong Kong diz que Chan está livre para se entregar. Por outro lado, Taiwan cita razões de segurança e quer enviar agentes para o escoltarem, uma proposta que Hong Kong já rejeitou.
Os protestos em Hong Kong, região administrativa especial chinesa, começaram em junho por causa da polémica lei da extradição, que permitiria extraditar suspeitos de crimes para território e países sem acordos prévios, como a China.
Entretanto, as emendas à legislação foram retiradas formalmente pelo Governo, mas os protestantes têm ainda outras quatro reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos; que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins; um inquérito independente à violência policial e a demissão da chefe de Governo, Carrie Lam, e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo.
Num endurecimento da posição do Governo, Lam invocou uma lei de emergência da era colonial para criminalizar o uso de máscaras em manifestações, mas a decisão parece só ter aumentado ainda mais a violência dos protestos. Na semana passada, polícias dispararam pela primeira vez balas reais sobre manifestantes, ferindo dois adolescentes.
A transferência da soberania de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”. Tal como acontece com Macau, foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.