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Chegou o reconhecimento facial para animais. E afinal, Orwell tinha razão

Há muitos desafios na aplicação da tecnologia de reconhecimento facial a animais: os porcos não têm características que os distingam entre si, e as vacas têm muitas vezes a tentação de lamber as câmaras. Contudo, há uma vantagem da utilização desta tecnologia: não parece real que os habitantes das quintas se venham a queixar de violação de direitos de imagem.

Depois de dominarem a tecnologia de reconhecimento facial em humanos, os chineses querem agora adaptar esta tendência em rostos mais peludos. Zhao Jinshi, da Universidade de Cornell, explica que os testes têm sido feitos em animais específicos como é o caso das ovelhas, porcos e vacas.

Porém, há algumas dificuldades no processo. Como explica George Orwell no seu “Triunfo dos Porcos”, todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os demais.

Os porcos são os mais difíceis de reconhecer através deste método porque são todos muito parecidos. Mas as vacas leiteiras são especiais porque são pretas e brancas e têm formas diferentes”, contou Jinshi, enquanto verificava a tecnologia instalada num projeto numa quinta em Hebei, na China.

A China é líder mundial no desenvolvimento de recursos de reconhecimento facial. Existem quase 630 milhões de câmaras de reconhecimento facial em uso no país. A sua utilização deve-se a questões de segurança, e para conveniências do dia a dia. De acordo com o The Washington Post, as autoridades do país também usam a tecnologia para situações mais estranhas, como monitorizar dissidentes políticos e minorias étnicas.

Os empresários chineses veem agora uma oportunidade de aplicar esse conhecimento à agricultura. À medida que as quintas se tornam maiores e mais comercializadas, e a população rural tende em envelhecer, há uma limitação do número de pessoas capazes de fazer um trabalho manual.

Os agricultores têm informações como condições de saúde, datas de inseminação e resultados de testes de gravidez no sistema, que se sincroniza com as câmaras instaladas por cima dos estábulos. Se tudo isto funcionar, os agricultores podem acumular dados valiosos sem ter muito trabalho.

Sinais de doenças podem ser detetados através do uso de inteligência artificial, o que permite um tratamento mais rápido dos animais.“Este sistema é muito poderoso e definitivamente irá tornar o nosso trabalho mais fácil”, disse He Ye, o gerente da quinta na província de Hebei.

“Quando as câmaras forem instaladas, vou poder monitorizá-los em tempo real”, explica Ye, que em breve vai poder receber avisos no seu telemóvel, caso uma vaca apresente sinais de doença ou outros problemas. Para Jinshi, vai ser um desafio instalar as câmaras num sitio onde há água e lama por todo o lado.

Mas o mais desafiante é o facto de as vacas serem animais muito curiosos. “Se for feita uma pequena mudança, eles vão notar rapidamente”. As vacas, frequentemente, tendem a tentar lamber as câmaras –  “é a natureza delas” – garante Zhao.

Esta iniciativa encaixa-se perfeitamente com a meta do governo da província de Hebei que pretende duplicar a produção de leite em dois anos, e melhorar a segurança dos animais. “A indústria do leite mudou completamente, tornou-se muito mais rigorosa, e com requisitos sobre esterilização e outros regulamentos de saneamento”, conta o agricultor chinês Ye.

A China quer agora ter mais atenção com a higiene alimentar. Com a pandemia do novo coronavírus, o governo da China proibiu o comércio e o consumo de animais selvagens. A “agricultura inteligente” está a começar a mudar a forma como o setor agrícola opera, e as empresas tecnológicas da China estão a entrar em ação.

A China alimenta 22% da população mundial, mas tem apenas 10% das terras cultiváveis ​​do mundo. Esta situação cria um incentivo extra para que a China melhore os seus padrões na produção de alimentos.

Agora resta saber se vai ser fácil identificar os porcos, e se as vacas não se vão perder de amores pelas suas novas companheiras de estábulo.

ZAP //

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