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Chega “é o partido incontornável” (e a AD pode ficar num beco sem saída)

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Miguel Pereira da Silva / Lusa

O “cordão sanitário” que o PSD, e a Aliança Democrática por inerência, colocaram ao Chega não faz sentido e é uma estratégia errada para as eleições de 10 de Março próximo. Quem o diz é o historiador e investigador Riccardo Marchi em declarações ao ZAP.

Este especialista nas direitas radicais e com várias obras escritas sobre este assunto, incluindo “A Nova Direita Anti-Sistema – O caso do Chega”, entende que estamos a assistir ao “fim da hegemonia absoluta do PSD” na vida política portuguesa.

Riccardo Marchi que é historiador e investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa acredita que Portugal caminha de um sistema assente no “bipartidarismo” em que PS e PSD são centrais, para um “bipolarismo” entre centro-direita e centro-esquerda, em que não haverá “nenhum partido absolutamente dominante”.

Num cenário destes, o Chega não pode ser posto à margem, alerta o também professor convidado na Universidade Lusófona na conversa com o ZAP.

“Chega é incontornável para solução de centro-direita”

Se o Chega se consolidar como terceira força política nas próximas eleições, como se antecipa, com uma subida assinalável nos votos, a Aliança Democrática (AD), que junta PSD e CDS, pode ver-se num beco sem saída – até porque é improvável que consiga uma maioria absoluta.

Com uma maioria relativa, pode virar-se para o PS para tentar formar um Bloco Central – um cenário difícil que Pedro Nuno Santos já rejeitou. O ex-ministro das Infraestruturas foi um dos “motores” da geringonça e vai sempre preferir tentar uma versão 2.0 desse entendimento à esquerda.

Assim, a única solução para uma AD vencedora das eleições, sem maioria, pode ser um entendimento com o Chega.

Marchi refere ao ZAP que espera que o Chega consiga “duplicar os votos” relativamente às anteriores legislativas, atingindo algo em torno dos 15%.

Nesse cenário, seria “impensável” que um partido com 15% dos votos aceitasse a “humilhação” de não fazer parte de um Governo de direita, aponta o investigador italiano que está radicado em Portugal há 20 anos.

Portanto, Marchi entende que o Chega “é o partido incontornável para uma solução de centro-direita”.

O pior é que, depois do “não é não”, a AD pode ficar num beco sem saída. Se precisar mesmo do Chega, poderá voltar atrás com a palavra?

AD vai à guerra com uma “estratégia errada”

O investigador critica, deste modo, o que define como as “estratégias erradas da AD” quanto ao “não é não” ao Chega.

“Não faz sentido” que a AD vá “à guerra com uma estratégia única”, nota o professor da Lusófona que não afasta a possibilidade de o PS alinhar num Bloco Central, enquanto também tem a hipótese de fazer uma “geringonça 2.0”.

Além disso, como diz Marchi, os eleitores da AD “não têm a linha vermelha tão clara” quanto ao Chega. Portanto, conclui que este “cordão sanitário” ao Chega não faz sentido.

Na opinião do investigador, esta ideia de uma solução de centro direita com PSD (e AD) e Chega, mas também com a Iniciativa Liberal, faz todo o sentido, pois entende que os três partidos têm uma “estrutura económica comum”.

As suas “linhas de desenvolvimento não diferem”, analisa Marchi em declarações ao ZAP, salientando que a questão mais fracturante prende-se com o “ataque à Banca e às multinacionais” que o Chega faz.

No caso do PSD em concreto, o especialista em direitas radicais realça que “não tem um discurso de protesto”, contrariamente ao Chega. Mas também não o pode ter, uma vez que “incorpora com o PS o regime”, salienta, constatando que não pode afirmar-se como anti-sistema.

E é aqui que o Chega ganha votos, graças à “grande demanda de populismo de protesto”, vinca Marchi, salientando que esta estratégia surte efeito com o “crescente aumento da abstenção” e num momento em que os eleitores estão “desiludidos com os partidos do sistema” e “descontentes com o funcionamento da democracia”.

Ventura deixa aviso à AD

André Ventura, líder do Chega, continua a insistir que o seu partido só viabilizará um Executivo de direita se houver “um acordo de Governo” em “áreas fundamentais” como o “combate à corrupção, a questão da reforma fiscal, a reforma do sistema político e a questão da administração interna e das forças de segurança”.

“A questão não é tanto o Ministério A, B ou C, é haver um acordo orientador do Governo, definindo-se que medidas vão ser tomadas e levadas à Assembleia da República”, aponta Ventura em declarações à Lusa.

Portanto, o líder do Chega rejeita acordos de “incidência parlamentar” e deixa claramente um aviso à AD: sem acordo de Governo, “não há estabilidade”. “Quer isto quer dizer que o Governo cai logo? Não necessariamente, isso vamos ver”, nota contudo.

Em todo o caso, Ventura atira para a AD o ónus das consequências, caso esse “acordo de Governo” não seja alcançado. “Se outros não quiserem, serão responsabilizados por esse cenário de irresponsabilidade” e por “entregar o poder ao PS”, constata.

“O importante é levar alguma coisa para casa”

Independentemente dos resultados e dos cenários que vierem a concretizar-se, o Chega “vai continuar a ser imprescindível” na vida política portuguesa, desde que actue com “inteligência”, acredita Marchi.

Se entrar num Governo de direita, não vai ter o poder nas mãos, mas pode “influenciar” no seus temas “bandeira”, como são as questões “culturais e LGBTQI+”, sublinha o investigador em declarações ao ZAP.

Mas se o Chega entrar no Governo e o colocar “em xeque” devido a qualquer incidência, deixando-o cair, pode ser visto como um “partido irresponsável” e no qual “não se pode confiar”, avisa Marchi.

Contudo, o historiador não acredita que aconteça ao Chega o que já aconteceu a outros partidos radicais europeus, como foi o caso do movimento de extrema-direita de Mateo Salvini em Itália, que depois de ter estado no Governo, caiu a pique.

“O importante é levar alguma coisa para casa”, ou seja, conseguir implementar algumas das suas propostas e ser capaz de “promover os ganhos” das “pequenas coisas conseguidas”, nota o professor da Lusófona.

Esse foi o erro de Bloco de Esquerda e PCP quando fizeram parte da geringonça com o PS de António Costa, acredita Marchi.

Susana Valente, ZAP // Lusa

10 Comments

  1. Mas qual é o problema do Chega ter uma pasta governativa? Tem que seguir o programa do governo. Não há mal nenhum nisso. Tanto o PSD como o PS estão a ver mal o filme.

  2. O chega é um partido de direita não de esquerda, por isso, seja bem vindo à AD.
    Atrevo me até a dizer que a pasta da justiça lhe ficava bem, Dr. Luís Montenegro que valores defende a Europa?
    O chega tem lapsos, mas quem não os tem. Deixem no ser governo, o CDS à dous anos não consegui eleger um depotado e tem muitos valores.

  3. Não me levem a mal os que dizem ser apoiantes de um “chega” no governo, mas garanto-vos que não têm a menor ideia do que estão a defender.
    O chega não é um partido de direita, sr. Jorge Figueiredo. Para seu bem e de todos, snr. Paulo, o Chega não pode ir para o governo. O Chega é um partido anti sistema, que está ansioso por destruir tudo o que foi construído, a nível social e público, a bem das pessoas.
    Pense bem, reflita. Veja o que se está a passar com os argentinos, que estão a ficar com as vidas destruídas, porque acreditaram em promessas de lobos mal disfarçados, como o Chega.
    É bem verdade o que diz AJOC. Quem viveu o tempo da outra senhora, não os quer por perto.
    Nunca confiem em alguém a quem não entregariam um filho, como alerta o snr. Zé.
    É o futuro deles que está em causa. É por eles que vamos votar a 10 de Março.
    Eles não merecem, nem nos perdoarão leviandades.

  4. Voto Chega, sou licenciado, trabalhador e informado. Estou farto de corruptos, e avençados do sistema. Concordo com o artigo. Pedófilos da Casa Pia, nunca mais. O papão da outra senhora, deixa de comer gelados com testa.

  5. Fernando,
    As licenciaturas (ou sequer as cátedras) não são garantia de coisa nenhuma, em matéria de escolhas políticas, além de outras, como a experiência e o conhecimento prático de muitas circunstâncias da vida, que não se experiênciam em ambiente académico . Sei do que falo, e até era capaz de apostar que a sua formação não é na área de Ciências Sociais e Humanas. (embora o homem que representa o partido da sua eleição também tenha defendido uma tese de doutoramento, completamente antagónica ao que agora diz defender. Aliás, ele é exímio a mudar de discurso).
    Enfim, cada um sabe de si.
    Só lamento que, por falta de vivência ou descrédito das realidades documentadas de tempos idos, haja quem se permita comprometer o futuro dos filhos. Não é justo para quem deu muito da sua vida, e por vezes a vida, para lhes garantir, aos seus e aos alheios, aquilo que eles não tiveram.
    Não procure nem espere perfeições. Sabe que isso não existe.
    Procure equilíbrios.
    Defenda direitos e deveres.
    Pense em si, pense nos seus. Pense em todos nós.
    Pela parte que toca, sugiro e agradeço.
    Portugal agradece.

  6. Lucinda,
    A minha área é engenharia, costumam tratar quem vota no chega como extraterrestres, idiotas ou masoquistas.
    Não são, fique lá com as suas ideias de esquerda radical, que eu fico com as minhas de centro direita, ou direita radical, como quiser. Tenho 5 filhos (e já todos votam), e é por eles que voto assim. A minha filha tem mestrado e foi ganhar 930€ para uma empresa na sua área de formação, é o que temos, está a pensar emigrar. A Lucinda pelos seus comentários adora os “galambas” desta vida.
    Enfim cada um sabe de si.

  7. Fernando,
    Vou começar pelo fim, concordando.
    De facto prefiro, na política como em tudo na vida, um Galamba que tive oportunidade de avaliar no terreno, a qualquer Ventura que, além de inconstante, pouco credivel, deselegante e mal educado, nunca pisou os palcos que nos permitiram conhecer Galamba, e que, tenho a certeza, abonariam muito menos a favor de Ventura.
    Falando da honestidade e proteção que devemos aos filhos, jamais me imagino a partilhar com os meus a figura de André Ventura, num palco de primeiro ministro.
    Aí, pode crer, emigrávamos os cinco, sem hesitar.
    Mas, como disse e eu subscrevo, cada um sabe de si.

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