Central nuclear de Zaporijia atacada após 17 meses de trégua

Ataques “aumentam significativamente o risco de um acidente nuclear grave e devem parar imediatamente”, alerta o  diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA). Kiev negou acusação de Moscovo.

Moscovo atribuiu a Kiev um ataque ucraniano com drones e vários impactos no interior da maior central nuclear da Europa, sob controlo russo desde março de 2022.

As autoridades russas relataram um ataque contra a infraestrutura nuclear ocupada pela Rússia na Ucrânia, cujo primeiro impacto foi com uma carga explosiva perto de uma cantina da central.

O segundo drone atingiu o cais de carga e um terceiro atingiu a cúpula do sexto reator da central. Em resultado dos impactos, três trabalhadores ficaram feridos.

Kiev nega ataques

Os serviços secretos militares ucranianos negaram na segunda-feira qualquer responsabilidade pelas ações militares de Kiev contra a central.

A empresa estatal ucraniana de energia nuclear Energoatom negou esta terça-feira que a Ucrânia tenha atacado a central nuclear de Zaporijia, depois de a Agência Internacional de Energia Atómica ter alertado sobre a ação com ‘drones’.

“O Kremlin intensifica mentiras sobre os ataques à central nuclear de Zaporijia”, refere um comunicado divulgado pela Energoatom, no qual a empresa acusa a Rússia de “manipular” a Agência Internacional de Energia Atómica e a comunidade internacional.

“A Ucrânia não está envolvida em qualquer provocação armada nas instalações da central nuclear de Zaporizhia, ilegalmente ocupada pela Rússia”, desde março de 2022, disse o porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos (GUR), Andri Yusov, à publicação Ukrainska Pravda, sediada em Kiev, no domingo à noite.

A Energoatom também acusa a Rússia — que ocupou militarmente a central em março de 2022 — de transformar a central “numa base militar” e insistiu que deveria transferir o controlo da central para a Rússia, uma vez que a empresa estatal ucraniana é o operador “legítimo”.

Em resposta à declaração da agência da ONU, o representante da espionagem militar ucraniana acusou a Rússia de ter efetuado “ataques simulados” à central, de ter colocado tropas e equipamento militar no local e de ter minado as instalações da central situada na parte ocupada da província de Zaporizhia.

Yusov também censurou as forças de ocupação russas por “colocarem em perigo a infraestrutura nuclear, a população civil” e toda a Europa com a presença na central, sob vigilância constante dos peritos da AIEA devido ao risco de incidentes relacionados com a guerra que conduzam a um acidente nuclear.

O porta-voz dos serviços secretos ucranianos exigiu também a retirada das tropas russas da infraestruturas para que possam ser restabelecidas as normas internacionais de segurança nuclear, que têm sido constantemente violadas na central e nas imediações desde o início da invasão russa.

Desde o início da guerra, a Rússia e a Ucrânia têm-se acusado repetidamente de pôr em perigo a segurança nuclear na zona e na região.

“Isto não pode acontecer”

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu à Ucrânia e à Rússia para evitarem um perigoso incidente nuclear na central.

Pedimos a todas as partes que evitem provocar um perigoso incidente nuclear na Ucrânia, que podia representar enormes ameaças imediatas e a longo prazo para a saúde humana e o ambiente”, escreveu Tedros Adhanom Ghebreyesus, na rede social X (antigo Twitter), na segunda-feira.

O diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que os ataques “aumentam significativamente o risco de um acidente nuclear grave e devem parar imediatamente”.

“Pela primeira vez desde novembro de 2022, depois de termos estabelecido os princípios de base para evitar um acidente nuclear grave com consequências radiológicas, confirmámos três ataques diretos (…) Isto não pode acontecer”, disse.

Grossi salientou que, nesta ocasião, “embora os danos” não tenham “comprometido a segurança nuclear, é um incidente grave que tinha o potencial de comprometer a integridade do sistema de contenção do reator”.

O responsável da AIEA lembrou que estes ataques são uma “lembrança clara” das “ameaças persistentes” a estas instalações durante conflitos armados.

A AIEA já tinha referido um ataque de drones [veículos aéreos não tripulados] cujas explosões causaram “danos menores” a um dos seis reatores da maior central da Europa.

“Exorto veementemente os decisores militares a absterem-se de qualquer ação que viole os princípios básicos de proteção das instalações militares”, afirmou o chefe da AIEA, Rafael Grossi.

ZAP // Lusa

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