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O cenário “é de guerra” e o medo é de a perder. Temido admite que “estamos muito próximos do limite”

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Jean-Christophe Bott / EPA

Após uma visita ao Hospital Garcia de Orta, que alertava no sábado para um “cenário de pré-catástrofe”, Marta Temido admitiu que o Serviço Nacional de Saúde, os operadores sociais e privados estão em “extremo sobreesforço”.

Marta Temido reconheceu, este domingo, que o sistema de saúde português, nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde (SNS), está sob “elevadíssima pressão”. “Estamos a pôr todos os meios a funcionar em todos os setores, mas há um limite. E estamos muito próximos do limite“, alertou a ministra da Saúde.

“É preciso parar as cadeias de transmissão, sob pena de estas situações se transformarem na regra”, avisou a governante. “Temos que nos esforçar mais em termos de comunidade para garantir que se param as cadeiras de transmissão, senão não há sistema de saúde que aguente.”

“Fiquem em casa, cumpram e façam cumprir as pessoas à sua volta”, apelou.

Temido explicou que foram acionados acordos com os hospitais privados CUF, Lusíadas e Luz Saúde, mas não foi feita ainda nenhuma requisição civil. “Estamos a por todos os meios que existem no país a funcionar, mas há um limite. E estamos muito próximos do limite”, avisou.

No pior domingo da pandemia, em que o país registou 10.385 novos casos e 152 óbitos, a ministra sublinhou que este registo elevado é um “um sinal de elevada preocupação”.

“Como tal, a mensagem muito clara é que não podemos deixar os profissionais de saúde sozinhos. Hoje o ministério da Saúde veio [ao Hospital Garcia de Orta] fazer uma reunião de trabalho, mas também para passar uma mensagem para a população“, disse.

Deputado do PSD fala num “cenário de guerra”

Depois de um primeiro desabafo no sábado, Ricardo Baptista Leite, médico especializado em infecciologia, deputado e vice-presidente da bancada do PSD, voltou às redes sociais, desta vez ao Facebook, para fazer um retrato de um “covidário” em Portugal.

O cenário é de guerra“, com ventilações invasivas, poucas vagas nas enfermarias, médicos a fazer escolhas consoante quem tem mais probabilidade de viver, detalha o Observador.

“Vi uma colega médica a chorar depois de sair do covidário mais de 5 horas depois do término do seu turno. Física e psicologicamente esgotada. Cada vez que se estabiliza um doente, havia já mais 3 ou 4 doentes instáveis a entrar pela porta dentro. Vi uma enfermeira praticamente a não conseguir respirar ao tirar o fato de proteção depois de horas infindáveis junto dos doentes”, contou Ricardo Baptista Leite.

O cenário descrito – doentes com insuficiência respiratória grave, falta de vagas nas UCI e as opções que são necessárias tomar – é muito próximo do de uma guerra. “O cenário é de catástrofe. Temos tantos doentes graves na casa dos 40, 50 e 60, muitos sem outras doenças, que simplesmente não podem morrer. Não podem! Assumem-se por isso prioridades”, pediu.

Ricardo Baptista Leite admite que, nos próximos dias, haverá um aumento de novos casos, internamentos e doentes nos cuidados intensivos. “Um em cada 5 testes realizados no nosso país é positivo. E a tentativa de manter as pessoas em casa para tentar diminuir a dimensão da epidemia simplesmente falhou.”

Para Baptista Leite, a forma como Portugal decidiu gerir a pandemia falhou. Sugere, assim, “um confinamento absoluto durante três semanas”, a mobilização “de todos os meios de saúde disponíveis no país para as próximas semanas” e uma preparação antecipada do momento em que serão levantadas as medidas restritivas.

Além disso, sugere ainda “usar o facto de Portugal ter a presidência do conselho da União Europeia para exigir uma renegociação das vacinas covid-19 de modo a acelerar o ritmo de vacinação”. “Temos de vacinar 80% da população até junho de 2021. Este mês pode estar perdido, mas ainda vamos a tempo de salvar o resto do ano.”

Hospital de Loures transfere doentes em quimioterapia

A administração do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em Loures, admitiu ter de enviar os doentes em tratamento de quimioterapia para outros hospitais devido à necessidade de libertar profissionais e espaços para reforçar os meios destinados à covid-19. A unidade hospitalar tem hoje 204 doentes covid internados, 19 dos quais em cuidados intensivos.

“Neste momento está em análise a possibilidade de os doentes em quimioterapia poderem vir a fazer os seus tratamentos fora do HBA, com toda a segurança e sem qualquer perturbação para a continuidade desses tratamentos, de maneira a libertar mais alguns profissionais de saúde e espaços necessários ao reforço de meios destinados à covid-19″, refere o HBA, em comunicado.

A ajuda na área da quimioterapia e na cirurgia de ambulatório é do Hospital da Luz Lisboa, Oeiras, Torres de Lisboa e Odivelas.

De acordo com a unidade hospitalar, todos os dias tem sido possível transferir alguns doentes covid-19 para hospitais públicos e privados, um apoio que “tem sido essencial para o descongestionamento da Urgência”. Contudo, “perante o agravar da situação do HBA e de todos os hospitais da região, poderá vir a ser insuficiente”.

Morgues cheias e lista de espera nos crematórios

O aumento da taxa de mortalidade registada no último ano devido à pandemia tem provocado exaustão das morgues e atrasos nas cremações. De acordo com a edição desta segunda-feira do Jornal de Notícias, as morgues dos hospitais estão cheias e o recurso à cremação aumentou.

As cremações têm sofrido uma lista de espera de uma semana, bastante superior à habitual espera de dois dias. Segundo o diário, a situação criou um problema nos hospitais, especialmente nos de Lisboa, onde já há unidades a recorrer a contentores frigoríficos.

Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional das Empresas Lutuosas, disse ao JN que, só na região de Lisboa, cerca de 55% dos mortos são cremados, sendo que “a capacidade de frio dos hospitais está esgotada e alguns estão a climatizar salas” para o efeito.

Já no Porto, os centros hospitalares de Santo António e de São João garantem que não há sobrecarga.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

22 Comments

  1. Se estamos assim tão perto do limite, que espera o governo para proceder à requisição da totalidade dos meios privados de saúde, edifícios, equipamentos e pessoal? Será que não ferir os interesses das empresas de saúde é mais importante do que garantir a assistência médica aos portugueses? E se a vacinação não está a andar suficientemente depressa, porque é que Portugal não contrata com a Rússia a aquisição da vacina Sputnik V, que não tem os perigos da vacina da Pfizer, que já causou mortes e paralisía em vários países do mundo, incluindo a Noruega, Israel e os EUA? E é isto um governo socialista!…

    • Visão simplista da situação. Parece que, na sua perspectiva, se o país tivesse uma cama livre para cada português não havia problema. Não é por aí que a solução virá.
      Só quando cada cidadão tiver consciência da realidade que nos afecta a todos e agir em conformidade, se poderá acreditar na salvação do país. Mas porque ter essa consciência dá trabalho, implica conhecimento e capacidade de discernir, qualidades de que somos deficitários, não será fácil, ou melhor, será impossível chegarmos a bom porto.
      Assim sendo, cabe ao Governo e restantes Orgãos de Soberania impor as regras, que têm de ser mais do que as já enunciadas, e fazer cumpri-las nem que seja pela força, antes que surja quem tente fazê-lo, mesmo que já tarde seja.

      • O governo não tem qualquer capacidade. A Margarida é que tem! Assim sendo mexa-se e resolva este problema porque estamos todos a ficar um bocado aflitos!…

      • Nunca referi que tinha capacidade, senhor Nuno. Deverá refletir antes de responder.
        Porém, de facto, considero que a situação geral é preocupante, e merece atenção por parte de algum santo e competente órgão.

  2. Ainda nao chegamos a meio e nao estou brincar…. o cenario ainda vai piorar.
    Vejamos a medida que o valor real da infeccoes se aproxime do numero medio da totalidade da populacao os numeros vao subir exponencialmente ou seja aumentara tao rapidamente que nem sei se havera condicoes para perceber este fenomeno….
    As vacinas vao ajudar a criar tampam mas virus continuar….
    so se controla virus na sua maioria quando se tiver outro combate tambem…spray, liquidos, solidos, charopes para controlar nosso sistema

    • Ó John… mas em que língua é que o amigo insiste em escrever?! Assim não poderemos refletir e debater as suas ideias porque nem sequer as conseguimos entender. Fica difícil!

  3. Com uma afirmação dessas fico mais descansado! Ainda bem que o limite não foi ultrapassado. Mas só para os que estão vivos, porque para os outros…

  4. Começo por dizer que me considero negacionista, para utilizar um termo da moda,
    No início, tanto o PM como o PR disseram que iriam dizer a verdade, pois façam-no.
    Diz o sr. Ricardo Baptista Leite, passo a citar, “O cenário é de catástrofe. Temos tantos doentes graves na casa dos 40, 50 e 60, muitos sem outras doenças, que simplesmente não podem morrer. Não podem! Assumem-se por isso prioridades”. fim de citação. Ainda alguém vai nestes logros e se considera informado? Os doentes graves na casa dos 40, dos 40 aos 49 anos, são responsáveis por APENAS 0,93% dos óbitos, mas os doentes com mais de 80 anos estão a ser dizimados com 67,24% dos óbitos, mais de 2/3 do total de óbitos. E depois vem um senhor “iluminado” dizer barbaridades destas? Isto considero terrorismo de informação. Mesmo juntando as 3 faixas etárias, dos 40 aos 69 anos, apenas se atinge 12,02% da totalidade dos óbitos, muito longe dos 67,24% de uma única faixa etária acima dos 80 anos.
    Este tipo de desinformação só denigre o trabalho jornalístico, antes de se publicarem estas mentiras os profissionais da informação deveriam verificar a sua veracidade.
    Este é o assunto mais evidente mas toda a peça é um rol de inverdades tendenciosas a manipular a opinião pública.
    Parem de mentir aos portugueses,assumam de uma vez as maldades que pretendem fazer ao povo e, povo, deixem de emprenhar gratuitamente pelos ouvidos, por vezes até é fácil confirmar estes dados falaciosos.

    • Por falar em disparates, devias (pelo menos tentar) completar o Ensino Básico para depois tentares perceber as notícias/afirmações!…
      Já vários negacionistas bateram de frente na realidade – alguns, tarde demais…
      .
      Evidente é que essa cabecinha está tão baralhada que até estranhas o facto da taxa de sobrevivência ser exponencialmente superior nas faixas etárias mais baixas!…
      Ainda gostava de conhecer uma doença em que a taxa de sobrevivência é maior acima dos 80 anos do que abaixo dos 60…

      • Eu! Eu sou inteligente, eu sou o maior, eu sou esperto, eu sei, eu faço, eu aconteço, eu digo logo de manhãzinha “espelho meu, há alguém melhor do que eu?”

      • O eu nem sabe interpretar os comentários que lê mas tem que mandar postas de pescada. Volta para a escola rapaz.

      • Mais uma arrogância do pirralho Eu!, falou e não disse nada.
        Entrou agora na moda a expressão “exponencialmente” que é usada mesmo quando não se sabe qual o seu significado, grande “coltura”.
        Apesar dos teus comentários não merecerem sequer a minha atenção, vou dizer-te, és BURRO, apenas queres aparecer ofensivamente como um pirralho, em nada acrescentas à discussão.
        Confina-te em todos os sentidos,

  5. E andámos nós a criticar o Trump, o Bolsonaro e muitos outros patetas a nível mundial.
    Estamos piores do que eles. Em mortos e nº de casos por milhão de habitantes somos OS PIORES DO MUNDO!!!!!
    DEMITAM-SE!

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