O Presidente da República foi surpreendido, esta terça-feira, com o gesto dos parlamentares independentistas catalães, que começaram a cantar “Grândola, Vila Morena” no final da sua intervenção no Parlamento espanhol.
Marcelo Rebelo de Sousa foi, esta terça-feira, às Cortes Gerais, em Madrid, onde discursou e o final da sessão ficou marcado por um gesto dos independentistas catalães, escreve o Diário de Notícias.
Este grupo de parlamentares levantou-se, aplaudiu a intervenção do Presidente da República e logo a seguir começou a cantar a “Grândola, Vila Morena”. Os restantes reagiram, prolongando os aplausos ao Presidente português, para tentar abafar o gesto.
Na tribunal principal do hemiciclo, o chefe de Estado limitou-se a sorrir, até porque, na chegada a Espanha, Marcelo já tinha afirmado que não ia falar sobre questões políticas internas do país.
No entanto, cita o DN, o Presidente explicou que acompanhou os deputados independentistas catalães quando lhe cantaram a música porque a considera “um dos símbolos da democracia” portuguesa.
“Para o Presidente da República não há democracia sem 25 de Abril e a ‘Grândola’ é um símbolo da democracia”, afirmou aos jornalistas. “Não podia deixar de me emocionar quando ouvi cantarem aquela canção”.
Além disso, o Presidente referiu que ficou igualmente emocionado com o facto de ter sido por duas vezes aplaudido de pé e por unanimidade pelos parlamentares espanhóis, “algo que nunca aconteceu na Assembleia da República”.
“Balanço muito positivo”
À noite, Marcelo recebeu os reis de Espanha, no Palácio do Pardo, onde estiveram personalidades como o futebolista Luís Figo e a jornalista e tradutora Pilar del Río, viúva do escritor José Saramago, e onde se ouviu cantar o fado pela cantora Cuca Roseta.
Cristiano Ronaldo, que o chefe de Estado tinha dito que gostaria de ver nesta cerimónia, não esteve presente. “Infelizmente o jogo com o Athletic de Bilbao obrigou-o a um estágio antecipado”, referiu o Presidente da República.
O Presidente considerou que “já é possível, relativamente a tudo o que se passou nestes dias muito intensos, fazer um balanço” que, no seu entender, é “muito positivo”, porque “Portugal e Espanha reconheceram o momento excelente das relações a nível de chefes de Estado”.
“De tal forma excelente que não pude deixar de ser sensível a uma eventual ida a Salamanca, novamente, no final do mês de maio, para uma reunião de 600 reitores de universidades europeias. Sua majestade irá e fez questão também na minha presença, até para falar eventualmente da presença universitária em Portugal”, adiantou.
De acordo com o Presidente da República, “isto mostra o magnífico relacionamento que existe a nível de chefes de Estado”, que “é muito bom para o relacionamento entre Portugal e Espanha”.
“Chamo a atenção para o facto de sua majestade ter insistido em estar presente num número elevadíssimo de pontos do programa e de ter acompanhado em pormenor a preparação do programa e a execução do programa – como, aliás, eu fiz em 2016 com a visita de suas majestades. O que quer dizer que há uma aproximação pessoal muito forte”, acrescentou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “o mesmo se passa a nível de Governos”, em que o primeiro-ministro português, António Costa, e o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, “que são de áreas muito diferentes, e no entanto se dão muito bem”. “O facto de haver uma proximidade pessoal tem importância política”, defendeu.
O Presidente afirmou que quis “dar a esta visita de Estado um sentido de futuro” e retomou a ideia, repetida nos últimos dois dias, de que Portugal e Espanha se aproximaram com a democracia e a integração europeia, “ao fim de muitos séculos” de relações bilaterais menos boas.
“E a solução que encontrámos é muito boa, porque temos maneiras de ser diferentes, somos como somos, diferentes, mas convergimos em muitos pontos, no plano bilateral e na Europa e no mundo”, sustentou, concluindo: “É uma mais-valia entendermo-nos tão bem assim. No passado isso, muitas vezes, não aconteceu”.
Último dia da visita de Estado
Esta quarta-feira será dedicada à cidade de Salamanca e a Castela e Leão, uma das 17 comunidades autónomas de Espanha, onde o Presidente da República estará novamente com o rei Felipe VI.
Os dois chefes de Estado irão visitar uma feira de ‘start-ups’ com
algumas empresas portuguesas e discursar numa sessão solene na Universidade de Salamanca, que celebra os seus 800 anos.
Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Madrid em visita oficial logo oito dias após ter tomado posse como Presidente da República, na tarde de 17 de março de 2016, vindo do Vaticano, para um encontro com o rei de Espanha, seguido de um jantar no Palácio Real.
Oito meses depois, os reis de Espanha, Felipe VI e Letizia, estiveram em Portugal, entre 28 e 30 de novembro, em visita de Estado, com passagens pelo Porto, Guimarães e Lisboa.
ZAP // Lusa